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Meninas do vôlei desperdiçam chances e são eliminadas pela Rússia
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
26/08/2004 | 18:35
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Russas comemoram a vitória enquanto brasileiras deixam a quadra desconsoladas. Foto: AFP A inconstância e a falta de calma das meninas do vôlei custaram a chance de lutar por uma inédita medalha de ouro olímpica. O Brasil perdeu por 3 sets a 2 para a Rússia, com parciais de 25/18, 25/21, 22/25, 26/28 e 14/16, depois de abrir 2 a 0 jogando bem e ainda desperdiçar nada menos do que cinco match points no 4º set. Eliminada, a seleção vai enfrentar Cuba, no sábado (12h), para tentar deixar Atenas com o bronze no peito. A Rússia terá a China pela frente na decisão, também no sábado (14h).

A performance decepcionante da seleção feminina, diante da forte equipe russa, adia por pelo menos quatro anos o sonho do inédito título olímpico. As meninas do vôlei confirmaram o 'carma da semifinal'. Em Atlanta-1996 e Sydney-2000, sob o comando do técnico Bernardinho Resende (hoje treinador da seleção masculina), a equipe perdeu para Cuba e teve de se contentar com a medalha de bronze. Hoje, sob a batuta do medalhista de ouro José Roberto Guimarães (com a seleção masculina, em Barcelona-1992), o Brasil vive o mesmo triste destino.

Para jogadoras como Virna e Fernanda Venturini, veteranas com longa ficha de bons serviços prestados à seleção feminina, a disputa do bronze contra Cuba pode servir como uma honrosa despedida olímpica. O novo objetivo das meninas é tirar do pódio a equipe que por duas vezes desviou o Brasil do caminho dourado e deixou apenas o 3º lugar como prêmio de consolação.

Castigo - Zé Roberto, que já havia demonstrado preocupação com a inconstância da seleção nas partidas, viu seus piores pesadelos virarem realidade nesta quinta-feira. "São jogadoras experientes, que sabem o que estão fazendo. Tivemos uma baixa muito grande a partir do 3º set", lamentou o treinador, enquanto todas – rigorosamente todas – as jogadoras saiam da quadra em prantos. "Agora é deixar baixar a poeira. Vai ser difícil até cair a ficha dessa derrota complicada. Mas vamos lá. A vida segue."

Único time invicto até então no torneio olímpico de vôlei, o Brasil começou a partida contra a Rússia de forma segura e confiante. Já as russas, com seu jogo limitado, baseado nos ataques fortes da 'gigante' Ekaterina Gamova (2,04 metros), conseguiram se superar mesmo tendo a semifinal praticamente perdida – isso sem mencionar o sangue frio de terem de ouvir caladas as broncas do folclórico técnico Nikolay Karpol.

O 1º set foi uma demonstração do bom voleibol que o Brasil vinha exibindo nas Olimpíadas. Mesmo com dificuldades para marcar os ataques de Gamova, as meninas foram eficientes e conseguiram escapar do forte bloqueio russo.

A seleção passou à frente no placar com um bloqueio de Walewska em Lioubov Shashkova (9 a 8). O ponto deu moral ao time, que deslanchou e abriu uma diferença sossegada sem deixar opções para as russas. Ensandecido, Karpol via do banco suas atletas errando no ataque, no passe e na recepção. As broncas não adiantaram: um bloqueio triplo de Fabiana, Walewska e Valeskinha fechou a parcial em 25 a 18.

A Rússia começou a melhorar de produção já no 2º set, criando mais dificuldades para o Brasil. Gamova, a mais acionada pela levantadora Marina Sheshenina, cravava as bolas de todos os pontos da quadra e ainda aparecia com autoridade na rede para bloquear. Mas ainda não foi suficiente para bater a seleção.

As russas entraram para o tempo técnico com uma vantagem de seis pontos (16 a 10) no placar. Zé Roberto trocou a apagada Érika por Sassá e os ataques começaram a cair na quadra adversária. O bloqueio russo se fazia presente, escorando quase todas as bolas cravadas pelo Brasil, mas as meninas – especialmente Mari – souberam explorar a muralha para conquistar pontos. Depois de estar perdendo por 21 a 17, a seleção fechou o set de forma empolgante, em 25 a 21.

Quando o Brasil poderia ter embalado no jogo, tendo como combustível a bonita reação do 2º set, o panorama começou a mudar. As duas seleções seguiram trocando pontos e alternando vantagem no placar até a reta final da 3ª parcial. Depois do empate em 20 a 20, as meninas começaram a cometer erros bobos de ataque e perderam por 22 a 25.

No 4º set, nova 'montanha-russa' – literalmente. O Brasil largou na frente e manteve um domínio relativamente seguro do jogo. Com as russas aparentemente vencidas, o placar chegou a 24 a 19. Eram cinco match points em seqüência para o Brasil fechar o jogo e confirmar a classificação. Mas os erros começaram a aparecer de forma irritante. Virna, Mari e Walewska simplesmente não conseguiam colocar a bola na quadra russa. Zé Roberto até pediu um tempo só para acalmar a equipe. Não adiantou: Gamova e suas colegas confirmaram a virada e fecharam a parcial em inacreditáveis 26 a 28.

O tie break foi como um replay do set anterior. O Brasil começou melhor, abriu uma boa diferença (10 a 7, num bloqueio de Sassá) e manteve a margem de três pontos por um bom tempo. A partir do 13 a 10 no placar, porém, outra queda inexplicável. A seleção se desesperou com os erros em seqüência e não teve cabeça para fechar uma partida que novamente parecia ganha. Em duas falhas seguidas, uma de Virna (parada pelo bloqueio) e outra de Mari (ataque para fora), a Rússia fechou o jogo em 16 a 14.

Enquanto as russas comemoravam uma vitória memorável sobre as maiores favoritas ao ouro olímpico, as brasileiras literalmente desabavam em quadra. "Explicar o inexplicável. Queria ter a resposta. Não tenho", balbuciou Zé Roberto, ainda desorientado. "Vai ser difícil dormir hoje", reconheceu.




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