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Primeiro filme digital da AL é apresentado em Cannes
Do Diário do Grande ABC
18/05/2000 | 15:33
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No cinema mexicano ``baratear custos é quase um dever moral', disse nesta quinta-feira o diretor Arturo Ripstein, ao explicar sua opçao pelo vídeo digital transferido depois aos 35 mm, técnica com a qual foi filmado ``Así es la vida', apresentado na seçao oficial Um Certo Olhar do Festival de Cannes.

``Há muito que buscava algo que nao fosse o cinema e seu meio. México é um país com uma economia deprimida e tinha que procurar a maneira de trabalhar com custos possíveis. A questao que se coloca é fazer filmes ou nao fazê-los, e com esta tecnologia se pode', acrescentou o cineasta, estimando que o vídeo digital ``democratiza o meio e tornará possível que entrem no cinema novas pessoas que de outro modo nao poderiam'.

``Tudo isto abre uma porta. É preciso descobrir uma nova estética, pois isto nao é cinema, nao é televisao, nem tampouco um híbrido. É cinema digital, que tem sua especificidade. É uma beleza veraz, uma beleza crua, uma beleza para a qual nao existe o cânone', reflete o cineasta.

``Así es la vida' é uma adaptaçao de ``Medéia' de Sêneca transportada ao México de hoje, mas conservando a estrutura dramática de tragédia, e inclusive o coro, que no caso adquire a forma de um grupo de cantores de boleros, o que, nas palavras da roteirista Paz Alicia Garciadiego, se impunha, posto que ``o bolero é o filho mexicano da tragédia'.

Ripstein situa a história no microcosmos fechado de um cortiço, poe a televisao como elemento de referência social, como espelho, e matiza a enormidade do drama com um certo distanciamento e toques de humor aportados pelo coro bolerístico e pelos apresentadores de televisao, que intervêm no que ocorre fora da tela.

Mas tudo isto nao evita que se sinta no filme uma certa impressao de falsidade, a inevitável falsidade da transposiçao, posto que ao desaparecer a dimensao mítica, ao transformar Medéia em Julia, a tragédia grega perde sua essência e adquire mais os aspectos de um dramalhao tipo telenovela que violasse as regras morais do gênero.

Dois filmes competiram nesta quinta-feira, ``Eureka', do japonês Aoyama Shinji, e ``Kippur' do israelense Amos Gitai.

Definido por seu diretor como ``uma forma de oraçao pelo homem moderno que busca a coragem de viver', ``Eureka', com mais de três horas e meia de duraçao, narra o percurso à procura de salvaçao de três personagens unidos por terem sido vítimas casuais do mesmo drama, uma sangrenta tomada de reféns num ônibus.

Por sua vez, Gitai leva o espectador ao interior da guerra, nao a do Kippur, que aparece como simples desculpa, mas qualquer guerra, a toda guerra, ao fazê-lo compartilhar a vida de um grupo de soldados encarregados de recuperar os feridos e retirá-los em meio a combates nos quais nunca se percebe o inimigo.




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