Amostra desse movimento foi registrada pela TCP Latam, especializada em investimento e gestão. Nos primeiros três meses do ano, a empresa fez captação de R$ 36 milhões para empresas de autopeças. "No ano passado, não houve nenhuma demanda desse setor", informa o diretor da TCP, Ricardo Jacomassi.
Além de juros menores em comparação aos cobrados internamente, a captação externa é uma alternativa principalmente para pequenas e médias empresas sem acesso a empréstimos de bancos privados ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em razão de pendências tributárias.
"Muitas empresas estão passando por reestruturação na marra e uma das primeiras atitudes é a postergação do pagamento de impostos", avalia Letícia Costa, sócia-diretora da consultoria Prada.
Há vários casos também de socorro por parte da montadora ou do sistemista (fornecedor de grande porte que recebe diversos componentes e entrega conjuntos completos para a indústria automobilística). "Há casos em que compramos a matéria-prima e enviamos ao fornecedor ou pagamos adiantado pelas peças para que ele tenha condições de produzir", diz o vice-presidente da Toyota, Miguel Fonseca.
Desde o ano passado, a Wabco, grande fabricante de sistema de freio (ABS), suspensão e transmissão automatizada para veículos comerciais, tem comprado produção futura de alguns fornecedores para ajudar no alívio do caixa. Para o presidente da empresa na América do Sul, Reynaldo Contreira, "a crise prolongada vai drenando a capacidade de reagir, principalmente de empresas menores".
Falências - A Bosch, maior fabricante de autopeças do País, também já comprou matéria-prima para fornecedores, mas prefere colaborar com "ajuda técnica". Há dois anos, a empresa criou um programa em parceria com o Ministério da Indústria para o desenvolvimento e sustentabilidade de 25 fornecedores estratégicos. O programa teve aporte de R$ 4 milhões dividido entre as três partes envolvidas.
"Há fornecedores que conseguiram 60% de eficiência após o programa, que tem duração de nove meses", diz o presidente da Bosch, Besaliel Botelho. A empresa opera com cerca de 300 fornecedores e o executivo admite que "alguns vão morrer".
No ano passado, 31 autopeças entraram com pedido de falência e 11 com pedido de recuperação judicial, números próximos aos de 2015 (34 e 9, respectivamente), de acordo com dados da Serasa Experian.
Juntando fabricantes e lojistas do ramo de autopeças, foram registrados 130 pedidos de falência e 145 de recuperação judicial em 2016, altas respectivas de 62% e de 52%, segundo o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial. Nos dois casos, o crescimento ocorre desde 2010.
Também há o que o setor chama de "recuperação judicial branca", quando o fabricante de componentes não entra com pedido formal de recuperação, mas negocia pagamento de dívidas atuais e pagamento no longo prazo das dívidas antigas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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