"Não há muitos dias, estando em Piratininga, depois do pôr do sol, de repente começou a turvar-se o ar, a enevoar-se o céu, a amiudarem-se os trovões e os relâmpagos; o vento sul envolveu a terra até chegar ao nordeste, donde quase sempre costuma vir tempestade, ganhou tal violência que parecia o Senhor ameaçar com a destruição. Abalou casas, arrebatou telhados, derrubou matos, arrancou pelas raízes grandíssimas árvores, partiu ao meio ou destroçou outras, de maneira que nos matos se taparam caminhos sem ficar nenhum."
"Em meia hora (que não durou mais) é de espantar quanta devastação produziu em árvores e casas; e na verdade se Deus não abreviasse aquele tempo nada poderia resistir e tudo se arrasaria", prosseguiu Anchieta. Na mesma carta, ele explicou que era "muito grande a abundância das chuvas", na primavera e no verão. "Há então as enchentes dos rios e as grandes inundações dos campos", registrou.
As percepções histórico-pluviométricas não parariam por aí. Entre 1816 e 1822, o botânico, naturalista e viajante francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853) fez duas expedições em São Paulo. Anos mais tarde, publicaria Viagem à Província de São Paulo. No livro, há 63 menções à chuva - e o verbo inundar e variações aparecem nove vezes.
Saint-Hilaire observou que até a arquitetura paulistana da época era pensada pelas chuvas. "Os telhados não avançam desmesuradamente além das casas, mas têm bastante extensão para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas", afirmou. O botânico ainda escreveu que "constitui um verdadeiro suplício viajar pelo Brasil na época das chuvas". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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