Cultura & Lazer Titulo
Freeman é coadjuvante de produçao exibida em Cannes
Do Diário do Grande ABC
12/05/2000 | 16:03
Compartilhar notícia


Mesmo sendo um dos atores negros mais requisitados de Hollywood, principalmente quando o personagem exige ar de respeitabilidade, Morgan Freeman acumula papéis de coadjuvante. Depois de contracenar com Jessica Tandy em "Conduzindo Miss Daisy", com Tim Robbins em "Um Sonho de Liberdade" e com Brad Pitt em "Seven", ele agora esquenta a cena para Gene Hackman, protagonista de "Under Suspicion" - exibido na noite desta quinta no 53º Festival de Cinema de Cannes, em caráter nao-competitivo.

"Nao me importo em contribuir com uma cena que nao é minha. Sempre dou tudo, nao gosto de me proteger só porque o meu nome nao é o primeiro a aparecer nos créditos", contou o ator, de 63 anos, em entrevista concedida no luxuoxo Hotel Majestic, no boulevard de la Croisette.

Em "Under Suspicion", ainda sem data para estrear no Brasil, Morgan encarna um policial no encalço de um poderoso advogado (Hackman), suspeito de assassinato.

Pergunta - Os papéis de policiais sempre lhe caem muito bem. Você prefere interpretar os homens em busca de justiça?

Morgam Freeman - Nao faço questao de ser herói. Simplesmente esses papéis me pareceram mais extraordinários. Nao há roteiros muito bons disponíveis e, como gosto de trabalhar, seleciono aqueles que julgo trazer maior profundidade.

Pergunta - Stephen Hopkins comentou que a sua presença sempre dá um upgrade nos filmes, principalmente de açao. Como faz isso?

Freeman- Nao sei. Só posso dizer que sempre procuro encontrar uma justificativa para o meu personagem estar em cena. Quando leio uma frase em um roteiro sem qualquer ligaçao emocional, nao vejo motivo para interpretá-la. Se a cena exige açao e tensao, melhor. Os espectadores sabem quando estao sendo manipulados, eles reconhecem imediatamente quando você nao está sentindo o que a situaçao sugere.

Pergunta - Você está no elenco do inédito "Rendez-vous With Rama", uma produçao de ficçao científica, gênero que alguns atores consideram inferior. Qual a sua opiniao?

Freeman - Isto porque eles nunca tiveram a chance de atuar em um. O filme é baseado em livro de Arthur C. Clarke, autor cuja obra também inspirou "2001 - Uma Odisséia no Espaço". O roteiro gira em torno de uma força alienígena que os humanos nao conseguem ver. É extraordinário.

Pergunta - Poucos atores negros fazem parte do cinema mainstream. A maioria é acolhida pela televisao americana. Por quê?

Freeman - Nao sei. Mas é verdade que a TV está cheia deles, sejam atores veteranos ou da nova geraçao. No cinema, quando nao o assunto nao exige que o ator seja negro, Hollywood quase sempre acaba escalando os brancos. É assim que funciona. Eu raramente tenho a oportunidade de contracenar com atores negros. Uma exceçao se deu em "Nurse Betty", comédia de humor negro que está inclusive na competiçao oficial aqui em Cannes. Chris Rock e eu trabalhamos juntos no filme (dirigido por Neil Labute, de "Seus Amigos, Seus Vizinhos"), o que foi muito divertido. Mas minha participaçao é pequena. Faço um assassino. Está vendo? Eu nem sempre sou o cara bonzinho!

Pergunta - Até hoje Sidney Poitier é o único negro a ganhar um Oscar de melhor ator (os demais vencedores eram coadjuvantes). Denzel Washington teve a chance este ano, mas perdeu. Algum comentário?

Freeman - Eu prefiro nao comentar o Oscar, especificamente. Acho que sempre haverá alguém que merecia levar o prêmio e nao levou. Se quisermos fazer disso um caso político, é possível. Mas eu prefiro nao acreditar em barreiras. Nao gasto o meu tempo pensando nas coisas que nao vou conseguir porque outras pessoas têm controle sobre determinados assuntos na minha vida.

Pergunta - Algum papel já foi criado especialmente para você?

Freeman - Nao que eu me lembre. Até porque nao acho isso possível. O roteirista terá escrito algo baseado em outros personagens que eu já fiz, o que é um engano. "Um Sonho de Liberdade" é um bom exemplo. O prisioneiro que eu interpretei deveria cair nas maos de um ator irlandês. Se alguém escrever especialmente para mim, talvez acabe me insultado.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;