Neste domingo, dia da cerimônia do 61º Globo de Ouro, o cinema começa a seguir à risca o script anual das premiações que coroam, nem sempre com justiça, a filmografia norte-americana. Entra ano, sai ano, é sempre assim: o prólogo é o Globo de Ouro, realizado no Beverly Hilton Hotel (Califórnia) e exibido no Brasil pelo canal pago Sony (Canbrás, Directv e Sky) a partir das 23h (horário de Brasília) deste domingo; no miolo encontra-se o anúncio dos indicados ao Oscar, que acontecerá já na próxima terça-feira; por fim, o clímax, que é a própria cerimônia do Oscar, em sua 76ª edição neste ano, agendada para 29 de fevereiro.

Concedido desde 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, o Globo de Ouro guarda a reputação de ser uma prévia confiável do Oscar, criado em 1937 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Mas é uma premiação que reserva peculiaridades bastante interessantes em relação a seu primo rico. A mais visível é a distinção que se faz entre os gêneros drama e comédia/musical, contemplados em categorias separadas.

Apostas – Cold Mountain é o campeão de indicações ao Globo de Ouro 2004, com oito delas. Filme bélico sobre a distância entre um soldado da Guerra Civil norte-americana e sua mulher, ele enquadra-se na contenda de melhor drama e terá um páreo disputado rumo à estatueta de 24 cm de altura.

Cold Mountain deu azar pois encara não só Sobre Meninos e Lobos, o admirado novo filme do diretor Clint Eastwood, como também O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, última parte da trilogia fantástica do diretor Peter Jackson. No caso do primeiro, é um filme de direção sólida e perfeccionista; tem, portanto, méritos incondicionais. No que diz respeito a O Senhor dos Anéis, a possibilidade de este sair como melhor filme não é desprezível, já que conclui um trabalho no qual se consumiram o tempo e a saúde de sua equipe – e esforço é uma particularidade em alta nas divisas hollywoodianas. Azarões, os dramas Mestre dos Mares: O Lado mais Distante do Mundo e Seabiscuit – Alma de Herói pouco podem além de cumprir seu papel decorativo na categoria.

A noite consagrará não um, mas dois filmes como os melhores de 2003. O outro sairá do gênero comédia/musical, no qual trombam o delirante Peixe Grande, novo filme de Tim Burton (Batman e Planeta dos Macacos); a animação Procurando Nemo; a segunda produção dirigida por Sofia Coppola, Encontros e Desencontros; o modesto Driblando o Destino; e Simplesmente Amor, filme britânico que tem Rodrigo Santoro no elenco. Não custa recordar que foi desta categoria que saiu o melhor filme segundo o Oscar do ano passado, o musical Chicago.

Do conteúdo desses dois grupos, o dramático e o cômico, indicou-se o quinteto de diretores que rivalizam em sua respectiva categoria. O veterano Eastwood (Bird e Os Imperdoáveis), em caso de vitória, pode igualar-se aos três Globos de Ouro de seus colegas Oliver Stone (Platoon, Nascido em 4 de Julho e JFK – A Pergunta que não quer Calar), Milos Forman (Estranho no Ninho, Amadeus e O Povo contra Larry Flint) e David Lean (A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia e Doutor Jivago) – o diretor recordista por enquanto é o controverso Elia Kazan, morto em 2003, com quatro estatuetas (A Luz É para Todos, Sindicato de Ladrões, Boneca de Carne e A Terra do Sonho Distante).

Sofia Coppola, filha de Francis Ford, de O Poderoso Chefão, tem condições de ser a segunda mulher a conseguir o prêmio de direção – só Barbra Streisand teve sucesso, com Yentl (1984). Já o diretor Anthony Minghella, com Cold Mountain, tenta o que não conseguiu com O Paciente Inglês e O Talentoso Mr. Ripley. Outro impaciente por só relar a trave em ocasiões anteriores (A Testemunha, O Show de Truman) é Peter Weir, agora à frente de Mestre dos Mares. Por fim, o sempre esperançoso Peter Jackson (O Senhor dos Anéis).

Entre os intérpretes, vale também a cisão que distingüe drama e comédia. Scarlett Johansson leva vantagem em meio às atrizes, pois disputa nos dois gêneros com Encontros e Desencontros (comédia) e Girl with a Pearl Earring (drama). Não faz parte do panteão das favoritas, como Nicole Kidman (Cold Mountain), Cate Blanchett (O Custo da Coragem) e Uma Thurman (a única indicação para Kill Bill: Volume 1, de Quentin Tarantino) na modalidade drama; e Diane Keaton (Alguém Tem de Ceder) e Diane Lane (Sob o Sol da Toscana) entre as performances cômicas.

Quanto aos atores, a rinha de atuações em dramas deve ser entre Tom Cruise (O Último Samurai), Jude Law (Cold Mountain) e Sean Penn (Sobre Meninos e Lobos). Nos papéis cômicos, atenção para o habitué Jack Nicholson (Alguém Tem de Ceder), para Billy Bob Thornton (Bad Santa) e para Johnny Depp e seu trejeitado personagem em Piratas do Caribe. O ator Michael Douglas, que freqüenta a canastrice com certa assiduidade, recebe na noite deste domingo o prêmio honorário Cecil B. DeMille, pelo conjunto da obra.

Telinha – Não só dos 13 prêmios dedicados a cinema vive o Globo de Ouro. Durante a cerimônia, serão celebradas também as produções televisivas, em 11 categorias que contemplam séries de TV e telefilmes.

Principais categorias e candidatos

Melhor filme (drama)

Cold Mountain

Mestre dos Mares: O Lado mais Distante do Mundo

Seabiscuit – Alma de Herói

O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei

Sobre Meninos e Lobos  

Melhor filme (comédia/musical)

Driblando o Destino

Encontros e Desencontros

Peixe Grande

Procurando Nemo

Simplesmente Amor  

Melhor diretor

Anthony Minghella (Cold Mountain)

Clint Eastwood (Sobre Meninos e Lobos)

Peter Jackson (O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei)

Peter Weir (Mestre dos Mares: O Lado mais Distante do Mundo)

Sofia Coppola (Encontros e Desencontros)  

Melhor ator (drama)

Ben Kingsley (House of Sand and Fog)

Jude Law (Cold Mountain)

Russell Crowe (Mestre dos Mares: O Lado mais Distante do Mundo)

Sean Penn (Sobre Meninos e Lobos)

Tom Cruise (O Último Samurai)  

Melhor ator (comédia/musical)

Bill Murray (Encontros e Desencontros)

Billy Bob Thornton (Bad Santa)

Jack Black (Escola de Rock)

Jack Nicholson (Alguém Tem de Ceder)

Johnny Depp (Piratas do Caribe – A Maldição da Pérola Negra)  

Melhor atriz (drama)

Cate Blanchett (O Custo da Coragem)

Charlize Theron (Monster)

Evan Rachel Wood (Aos Treze)

Nicole Kidman (Cold Mountain)

Scarlett Johansson (Girl with a Pearl Earring)

Uma Thurman (Kill Bill: Volume 1)  

Melhor atriz (comédia/musical)

Diane Keaton (Alguém Tem de Ceder)

Diane Lane (Sob o Sol da Toscana)

Helen Mirren (As Garotas do Calendário)

Jamie Lee Curtis (Sexta-feira muito Louca)

Scarlett Johansson (Encontros e Desencontros)  

Melhor ator coadjuvante

Albert Finney (Peixe Grande)

Alec Baldwin (The Cooler)

Ken Watanabe (O Último Samurai)

Peter Sarsgaard (Shattered Glass)

Tim Robbins (Sobre Meninos e Lobos)

William H. Macy (Seabiscuit – Alma de Herói)  

Melhor atriz coadjuvante

Holly Hunter (Aos Treze)

Hope Davis (Anti-herói Americano)

Maria Bello (The Cooler)

Patricia Clarkson (Pieces of April)

Renée Zellweger (Cold Mountain)  

Melhor roteiro

Cold Mountain

Encontros e Desencontros

Simplesmente Amor

Sobre Meninos e Lobos

Terra de Sonhos  

Melhor canção original

The Heart of Every Girl – Elton John e Bernie Taupin (O Sorriso de Mona Lisa)

Into the West – Howard Shore, Frances Walsh e Annie Lennox (O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei)

Man of the Hour – Eddie Vedder (Peixe Grande)

Time Enough for Tears – Bono Vox, Gavin Friday e Maurice Seezer (Terra de Sonhos)

You Will Be My Ain True Love – Sting (Cold Mountain)  

Melhor trilha sonora

Cold Mountain

Girl with a Pearl Earring

Peixe Grande

O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei

O Último Samurai  

Melhor filme estrangeiro

Adeus, Lênin! (Alemanha)

As Invasões Bárbaras (Canadá)

Monsieur Ibrahim (França)

Osama (Afeganistão)

O Retorno (Rússia)  

Prêmio Cecil B. DeMille (honorário)

Michael Douglas