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MIS lança nova programaçao e homenageia cineastas
Do Diário do Grande ABC
06/05/1999 | 15:56
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É uma iniciativa inédita do Museu da Imagem e do Som. O MIS apresenta, desta sexta (07) a domingo, uma nova programaçao intitulada "Cineasta do Mês". Como o nome indica, todo mês haverá um cineasta homenageado com uma retrospectiva de sua obra. A primeira é Eliane Caffé, a diretora revelaçao de 1998 segundo a Associaçao Paulista dos Críticos de Artes. A APCA selecionou Eliane pela direçao de "Kenoma". O filme passa sempre às 21 horas. As 19 horas, o primeiro programa apresenta os curtas e médias de Eliane: "O Nariz", "Arabesco" e "Caligrama".

Ela está feliz com a homenagem, mas, ao mesmo tempo, apavora-se. A sua é uma obra que se constrói, ainda é cedo para uma retrospectiva. Mas Eliane destaca o que gostaria que as pessoas vissem na sua obra ainda incompleta: um progressivo processo de amadurecimento humano e artístico, uma investigaçao sobre o real que percorre e unifica temas e formatos diversos.

Eliane, de 37 anos, estudou Psicologia. Cursou a Escola de Cinema e Vídeo de San Antonio de los Baños, em Cuba. Em 1988, fez "O Nariz", baseada em Luis Fernando Verissimo, sobre um homem cuja vida muda radicalmente quando ele usa um nariz postiço. Foi um filme de estreante, feito com uma certa inconseqüência. Eliane explica que um filme só finaliza seu ciclo quando deixa de passar. Ele só se completa com o espectador que o vê.

"O filme devolve muito da maneira como investiga o real", ela diz. "A reaçao das pessoas a "O Nariz" foi inesperada; compreendi ali que o filme expoe a gente, ao mesmo tempo que se expoe e eu nao pensava nisso antes". Esta consciência do que seja um filme, como forma de expressao pessoal (mesmo numa arte coletiva como o cinema), já transparece em "Arabesco", sobre dois ladroes que assaltam uma casa imaginária, onde situaçoes estranhas e absurdas transformam a realidade do roubo em diferentes atitudes diante do desconhecido. "Arabesco" é de 1990.

Em 1994, veio "Caligrama", com sua opçao pelo documentário, mesmo que nao se trate de um documentário levado às últimas conseqüências. É mais uma reflexao sobre a estetizaçao da pobreza, por meio das imagens de mendigos reais e de outros fictícios, interpretados por Leonardo Villar, Jofre Soares e Jonas Bloch. Finalmente, em 1998, veio o primeiro longa: "Kenoma", com a sua história ligada ao moto-contínuo, que fez e continua fazendo uma carreira importante no País e no exterior.

Nesta quarta (05), quando Eliane falou com a reportagem, o filme foi exibido no Festival dos Melhores Filmes do Vitrine. "Kenoma", uma produçao de Alain Fresnot, passou (e foi premiado) no Festival de Biarritz, sai em vídeo em agosto e, antes disso, participa do Festival de Miami. Por seu papel, José Dumont foi coberto de prêmios (entre outros, os de melhor ator da APCA e do Festival dos Melhores Filmes). Ela só tem palavras de elogios para ele: "O José foi uma dádiva para o filme".

No ano que vem, Eliane inicia a rodagem de "Os Narradores", com produçao de Pedro Bial e Vânia Catani. O filme está em fase de captaçao. Escrito em parceria com Luís Alberto de Abreu, o dramaturgo de "O Livro de Jó", trata de uma cidadezinha que vai desaparecer, tragada pelas águas de uma represa. Os habitantes reúnem-se para contar a história da cidade, transformando a tradiçao oral em palavra escrita. Eliane vê aí uma retomada do que seria o tema de todos os seus filmes: o gosto pelas situaçoes-limite, a fascinaçao pelos que vivem à margem. É o que ela acha que vai ressaltar da apresentaçao conjunta, pelo MIS, de tudo o que fez até esta quinta no cinema.




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