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Acidente na P-36 é 'incógnita', diz Reichstul
Do Diário OnLine
27/03/2001 | 15:42
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O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul; o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Maurício França Rubem; o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira; e o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, participaram, nesta terça-feira, de audiência pública, no Senado, sobre o acidente com a plataforma P-36 da Petrobras, no último dia 15, que causou a morte de onze funcionários.

Reichstul afirmou que o acidente, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, ainda é uma “incógnita” para a estatal. Cinco dias após as explosões, a plataforma, no valor de cerca de US$ 500 mil, afundou, com os corpos de nove das vítimas.

“Não temos uma resposta sobre as causas do acidente. A operação na Bacia de Campos tem tecnologia de ponta. O último acidente ocorrido no local foi há mais de 15 anos e a equipe era de primeiro nível”, disse o presidente da estatal à Comissão de Infra-Estrutura do Senado.

Reichstul afirmou que relacionar acidente à utilização de mão de obra terceirizada é “prematuro”. Ele ressaltou que a empresa está fazendo todos os esforços para descobrir as razões da tragédia e que a comissão de sindicância criada pela empresa para investigar o acidente terá até o dia 20 de abril para concluir seus trabalhos. “É importante para projetos futuros e é uma questão de honra para a Petrobras. Essa plataforma era um símbolo da qualidade tecnológica da Petrobras e a perda feriu o amor próprio da empresa e de todos nós”. Ele ainda garantiu que se houver responsáveis pelo acidente, eles serão punidos.

Segundo o dirigente, não houve dolo ou omissão da direção da Petrobras em relação aos boletins internos que mostravam a existência de problemas na plataforma, feitos três dias antes do acidente. Ele explicou que foi criada uma comissão para investigar o fato ela concluiu que houve aumento de pressão em um dos equipamentos, mas que o problema havia sido resolvido temporariamente. De acordo com Reichstul, o gerente de bordo da plataforma tem autonomia para decidir se pára ou não os trabalhos nela.

Reichstul informou que a Petrobras está firmando um acordo com uma empresa independente da Suécia para a realização de uma auditoria externa para determinar as causas do acidente e avaliar o projeto de infra-estrutura da P-36. Ele afirmou também que está providenciando a inclusão de um sindicalista na comissão que investiga o desastre.

Tragédia anunciada - O diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Maurício França Rubem, afirmou que o acidente ocorrido na P-36 foi uma “tragédia anunciada”. Ele iniciou seu depoimento mostrando dados sobre a escalada no número de acidentes na Petrobras. Segundo Rubem, antes do acidente com a P-36, já haviam sido registradas 81 mortes de funcionários da estatal e, em cada dez mortes, oito foram de trabalhadores terceirizados.

Rubem atribuiu o aumento no número de acidentes à grande redução do efetivo de funcionários, questão também mencionada por Fernando Siqueira. De acordo com Rubem, a Petrobras tinha 160 mil trabalhadores em 1990 e hoje o efetivo é de 34 mil.

O diretor da FUP ainda afirmou que os operários trabalham com “risco assumido”, pois, segundo ele, os funcionários, mesmo sabendo que há riscos de acidente, “não ousariam parar uma plataforma, e, conseqüentemente a produção”. “No caso da P-36, parar de trabalhar seria parar 6% da produção do petróleo nacional e afetar resultados da balança comercial”, disse.

Ele ressaltou que em nenhum momento tanto a FUP como o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense atribuiu o acidente na P-36 exclusivamente à política de terceirização de mão-de-obra, o que, segundo ele, diminui a qualidade no trabalho da estatal, uma vez que funcionários terceirizados não recebem a mesma qualificação que os contratados diretamente pela Petrobras. Rubem citou outros acidentes, como o da Baía da Guanabara, no Rio, e em Araucária, no Paraná, como exemplos de tragédias causadas pela terceirização, mas afirmou que no caso da Bacia de Campos, a questão ainda não foi comprovada e está sendo investigada.

Pressão - O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, questionou o fato de a Petrobras conseguir prêmios máximos de tecnologia, mas apresentar um número tão grande de problemas. Um das causas, segundo ele, é a pressão exercida pelo governo federal na manutenção ou aumento da produção de petróleo, confirmando a versão do diretor da FUP. "Nós precisamos ajudar a restaurar a balança comercial para que o governo possa recuperar a credibilidade diante das denúncias de corrupção", denunciou.

Ele relatou ainda que vários profissionais qualificados deixaram a empresa nos últimos anos por questões salariais. Segundo ele, os gerentes receberam aumento de 100%, enquanto para funcionários subalternos o reajuste foi de 5%. Ele ainda denunciou a política de demissão da empresa. "Hoje se um gerente contesta alguma decisão da direção, ele é demitido".

Referindo-se à declaração do diretor da FUP de que os trabalhadores "não ousam parar a produção", o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, negou que haja qualquer tipo de pressão sobre os operários na questão da produção.

Ele afirmou ainda que a função da ANP no caso da P-36 é contribuir na investigação das causas do acidente. "A agência não é um órgão para dar palpites. Temos uma comissão que está trabalhando para descobrir os reais motivos do acidente", disse.




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