Internacional Titulo
Santiago comemora sentença de Pinochet
Do Diário do Grande ABC
08/10/1999 | 20:09
Compartilhar notícia


"Vitória", exclamou Ana González, 82 anos, esposa e mae de detidos-desaparecidos durante a ditadura do general chileno Augusto Pinochet (1973-1990).

Ana González desfilava no centro de Santiago entre 2.000 membros do grupo de parentes dos oposicionistas que desapareceram nas maos de tropas e agentes secretos do antigo regime, com papel picado caindo dos edifícios centrais de Santiago, flashes fotográficos, lemas contra o ex-governante, cartazes contra a impunidade dos autores dos crimes denunciados e rostos com a estranha mistura de prazer e dor.

"Eu perdi cinco parentes, entre marido, filhos e cônjuges dos filhos", disse a velha mulher.

Desde a noite de quinta-feira, a espera da sentença judicial britânica de primeira instância, que nesta sexta-feira aprovou a extradiçao de Pinochet para a Espanha, Ana González ficou em vigília na sede do grupo de familiares dos presos políticos que nunca voltaram a aparecer.

Uma gritaria ensurdecedora, uma festa de frenéticos abraços e cantorias explodiu na pequena sede quando as rádios e a televisao, na manha chilena, comunicaram de Londres a decisao do juiz Ronald Bartle.

"É tao antiga nossa sede de justiça!", explicou Viviana Díaz, presidenta do grupo, na frente da passeata que seis horas depois cruzou o centro de Santiago.

Díaz quer saber o quê aconteceu com seu pai, um veterano sindicalista comunista capturado pela polícia secreta pouco depois do golpe que derrubou, em 1973, o mandatário socialista Salvador Allende e instalou Pinochet no poder.

"Ainda temos muito pela frente", disse María Román Rivera, cujos sogros, ambos esquerdistas, desapareceram em campos de prisioneiros.

"Justiça, justiça... foram 25 anos de tortura", gritou um velhinho no meio da passeata, recordando o desaparecimento jamais esclarecido de seu filho.

"Acredito que com justiça podemos construir um Chile mais democrático", comentou a cineasta Carmen Castillo, esposa de Miguel Enríquez, um dos líderes históricos do Movimeno de Esquerda Revolucionària (Mir), cujas fileiras foram dizimadas na chamada "guerra suja" contra a oposiçao a Pinochet.

Enríquez morreu baleado em outubro de 1974 em Santiago, numa blitz da Dina, a primeira polícia repressiva do governo passado.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;