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Polícia traça perfil do traficante de escola
Do Diário do Grande ABC
02/11/1999 | 19:51
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O traficante que vende crack, cocaína e maconha nas escolas da capital é branco, tem o 1º grau incompleto, mora em casa alugada, é solteiro, nao usa drogas e tem entre 22 e 30 anos. Age com maior intensidade nos períodos noturno e vespertino, nao tem antecedentes criminais e a droga que mais vende é o crack. Chega a cobrar em algumas regioes da cidade de R$ 15,00 a R$ 20,00 por pedra.

A renda mensal média do traficante de escola é de R$ 500 00. Alguns disseram que chegam a faturar R$ 5 mil. Dos 301 traficantes presos, de janeiro a setembro, dentro, fora ou próximo das escolas, 41 tinham entre 12 e 17 anos.

O perfil do traficante foi preparado pelo Departamento de Investigaçoes Sobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil de Sao Paulo, com base nas prisoes feitas pelos investigadores e delegados do Grupo de Apoio e Proteçao à Escola (Gape).

O Gape foi criado em fevereiro de 1997 para combater exclusivamente o trafico dentro e nas proximidades das escolas da capital. Para o diretor do Denarc, delegado Marco Antônio Ribeiro de Campos, que criou o grupo, o perfil permitirá a seus policiais conhecer melhor o traficante. "O objetivo é impedir que a droga continue chegando às escolas e viciando cada vez mais crianças e adolescentes."

Os policiais do Gape entrevistaram os 301 traficantes presos de janeiro a setembro. "Foram detidos junto aos portoes das escolas, nos bares próximos e também no trajeto dos estudantes para casa", disse o delegado. Com eles, foram apreendidos 1,5 quilo de crack, 4,2 quilos de cocaína, 22,8 quilos de maconha e 29 armas - revólveres, automáticas, carabinas calibre 12 e metralhadoras.

Os diretores e professores estao impressionados com o aumento do uso e do tráfico dentro e fora das salas de aula. L., diretor de um colégio com 2 mil alunos no Butanta, zona oeste de Sao Paulo, informou que os garotos drogados chegam, sentam, nao abrem os livros, os cadernos, nao conversam e pedem para sair pouco depois.

Os traficantes utilizam garotos para a entrega, geralmente feita no banheiro das escolas. "Já peguei meninos passando cocaína e maconha e recebendo o dinheiro no banheiro durante o recreio", disse o diretor.

L. pediu para nao ser identificado. "Se publicar meu nome e o do colégio nao fico vivo um dia." Ele contou que 70% dos alunos de sua escola moram em favelas.

O delegado responsável pelo Gape, Marcelo Francisco Augusto Dias, contou que o número de mulheres traficantes é pequeno em comparaçao com os homens. "Mas também tem aumentado."

A pesquisa do Denarc mostrou que a apreensao de cocaína nas imediaçoes das escolas foi maior em junho. A de maconha, em janeiro. Já o crack tem aumentado bastante. Nos meses de abril, maio, junho e agosto, as apreensoes foram maiores. Apenas em fevereiro a quantidade foi pequena: 0,8 grama.

Menores - Os menores traficantes estao cada vez mais ativos. Começam trabalhando na entrega para os pontos-de-venda e recebem o pagamento em drogas, geralmente pedras de crack. "Depois passam a vender", disse Dias.

Os meninos traficantes, pela pesquisa, tiveram atuaçao maior em junho e abril no horário da manha. Em agosto e setembro no período vespertino. Em março, abril, maio, junho e agosto, no noturno.

Depois do horário das aulas, os traficantes agiram com maior intensidade em abril, maio, agosto e setembro. Das prisoes o maior número ocorreu em abril (28), maio (25) e agosto (20). As escolas da zona norte de Sao Paulo registraram o maior número de ocorrências, 30%. A regiao central teve 20%, seguida de Santo Amaro (14%), Itaquera (11%), zonas oeste (10%), sul (6%), leste (6%) e Sao Mateus (3%).

Quartas - Os traficantes de escola escolhem as quartas-feiras para agir com maior intensidade. Depois, nas segundas, quintas, terças, e sextas-feiras.

O Denarc também montou no perfil a origem dos traficantes presos: 0,32% do Norte-Nordeste; 25,63% do Centro-Oeste; 6,01% do Sudeste; 2,53% do Sul; 54,11% da capital; 11,08% do interior de Sao Paulo; 0,32% de estrangeiros.

Pela pesquisa, 76% tinham o 1º grau incompleto; 8%, o 1.º grau completo; 4%, o 2.º grau incompleto; 5% de analfabetos; e outros 5% se recusaram a informar o grau de escolaridade.

Dos 301 traficantes de escolas presos,1,58% disseram morar nas ruas; 3,16% em pensoes; 5,7% em favelas, 6,65% com os parentes; 29,11% em casas alugadas; 17,9% em residência própria; e 34,81% nao quiseram dar informaçoes.

Os traficantes solteiros sao a maioria: 74%. Muitos informaram ter filhos, mas nao estao casados. Os casados sao 13%. Outros 13% estao amasiados. Sobre a vida conjugal, 82% dos traficantes informaram viver uma vida harmônica; 5%, nao harmônica; e 13% nao quiseram informar.

Segundo a pesquisa, apenas 3 pessoas, das 301 presas, disseram já ter estado internadas para tratamento psiquiátrico em decorrência da droga.




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