O último passeio que a auxiliar administrativa Viviane Anastácio, 28 anos, programou com os três filhos e a irmã para um parque de diversões na Zona Oeste da Capital foi por água abaixo. Isso porque as passagens de ônibus e trem somariam R$ 33,30, pouco menos que os R$ 36 do ingresso por pessoa.
A situação vivida pela mãe de família já acometeu 28,91% dos brasileiros. Levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que na região Norte a desistência da viagem por falta de dinheiro chegou a 48,12% dos entrevistados.
No Sudeste, o índice de usuários que abdicaram do passeio devido ao valor da passagem do transporte público é de 28,57%. Na região Nordeste o motivo é apontado por 29,64%, no Centro-Oeste por 23,62% e entre os sulistas, 18,95%.
Viviane lembra que a situação ocorrida no início do ano não foi a primeira. "Ultimamente o valor da passagem está pesando muito. Como meu filho mais velho tem 8 anos, isso representa uma condução a mais para eu pagar", reclama.
Segundo a pesquisa, a ausência de transporte também é um dos motivos pelos quais os brasileiros deixam de sair, com 35,30% das respostas. O fator é citado por 53,38% dos moradores do Norte do País.
GASTOS - No período de 2002 a 2009, o transporte público foi o grupo que mais abocanhou fatia das despesas dos brasileiros. Há nove anos, 18,7% da renda era destinada às tarifas de ônibus, metrô ou trem, enquanto que no ano passado este número subiu para 20,1%.
Para as famílias com renda entre cinco e dez salários-mínimos o peso do transporte no orçamento mensal caiu R$ 10,70. Nas que recebem acima de dez salários houve alta de R$ 15,40 no período.
Embora o transporte público ainda seja o principal meio de locomoção para 44,3% da população, o avanço nas vendas de veículos nos últimos anos agravou o problema da mobilidade urbana. A frota brasileira cresceu 83,5% nos últimos dez anos, saltando de 20 milhões para 36,7 milhões.
"A percepção é que o transporte público perde espaço para o carro. Deveria ser o contrário, mas os governos investem em viadutos para diminuir o trânsito enquanto o transporte de massa fica esquecido", avalia o técnico em planejamento e pesquisa do Ipea, Erivelton Pires Guedes.
A dona de casa Maria Roberto, 56, já precisou desmarcar consultas médicas por não ter dinheiro para custear o valor da passagem. A andreense reclama da alta de 9,4% na tarifa, que desde o início do mês custa R$ 2,90.
Estacionamento é vilão da inflação do carro
Se para os usuários do transporte público a situação não está confortável devido ao aumento das tarifas dos ônibus, para os proprietários de automóveis o cenário é semelhante. A inflação do carro encerrou o ano com 7,48% de aumento em relação a 2009.
O principal motivo são os estacionamentos, que tiveram os preços reajustados no período. Deixar o veículo parado em um local pago por duas horas ficou 21,61% mais caro para o motorista. Foi justamente este item que mais teve reajuste.
Segundo a Agência AutoInforme, que desenvolveu o índice, o estacionamento mensal subiu 24,44%. No fim de 2009 pagava-se em média R$ 9,80 para estacionar por duas horas, hoje é paga-se R$ 11,90.
A lavagem do automóvel teve alta expressiva, 9,28% nos últimos 12 meses. O óleo acompanhou a tendência e acumulou alta de 17,71%.
SHOPPINGS - O preço para deixar o carro nos estacionamentos dos centros de compras da região não é barato. Um dos shoppings de Santo André cobra R$ 6 por quatro horas e o outro R$ 5 pelo período de cinco horas. Em Diadema o cliente desembolsa R$ 3 por três horas.
Em São Bernardo, gasta-se R$ 5 em quatro horas e no de Mauá é cobrado R$ 4 por oito horas.
Preço de moto zero-quilômetro registra queda
Enquanto o preço dos automóveis zero-quilômetro ficou 1,4% mais caro no ano passado, o das motocicletas seguiu caminho contrário e encerrou 2010 com recuo de 5,4%.
Vale lembrar que mesmo com a elevação nos preços, o reajuste médio na categoria de quatro rodas ficou bem abaixo da medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que foi de 5,9%.
Segundo o balanço feito pela AutoInforme/Molicar, as montadoras do mercado de duas rodas não conseguiram repassar para o consumidor o aumento nos custos.
Mesmo com as restrições na concessão de crédito o consumidor pode comemorar, pois ficou mais fácil comprar moto. Aliás, a frota do veículo, que é o mais barato, aumentou 284,4% em dez anos.
As quedas nos preços foram constantes, com apenas duas exceções em setembro (0,68%) e novembro (1,05%). Nos demais meses houve queda na tabela das montadoras.
MERCADO - A japonesa Honda, que detém fatia de 77% do mercado, foi a marca que mais contribuiu para a redução nos preços no ano passado. Suas motocicletas tiveram queda média de 6,27% nos preços.
Os veículos importados também seguiram o rastro dos veículos produzidos em território nacional, com o valor final recuando 4,63%.
Na contramão das concorrentes, a Sundown teve preços 4,59% maiores enquanto na Dafra teve reajuste médio de 1,37%. As máquinas da Suzuki contabilizaram desaceleração de 0,81% nos preços e as da Yamaha, 1,48%. (com agências)
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