Política Titulo
Figueiredo 'fuzilou' FHC e ACM antes de morrer
José Afonso Primo
Colunista do Diário
31/12/1999 | 19:11
Compartilhar notícia


O general Joao Baptista Figueiredo, quinto e último presidente do Brasil durante o regime militar, morto dia 24 de dezembro, disse em depoimento ao repórter Hélio Contreras, publicado esta semana pela revista Isto É, que nao nomearia seu genro para cargo no governo, como fez o presidente Fernando Henrique Cardoso, que colocou David Ziylberstajn na presidência da Agência Nacional de Petróleo. Figueiredo deu tiros para todos os lados, chamou o senador Antonio Carlos Magalhaes (PFL-BA) de bajulador, o senador José Sarney (PMDB-AP) de puxa-saco e traidor e considerou Tancredo Neves um dissimulado. Figueiredo falou sob a condiçao de que suas declaraçoes seriam divulgadas depois da sua morte.

O ex-presidente da República, que pediu para ser esquecido, foi duro com ACM: "Nunca confiei em bajuladores como o Antonio Carlos Magalhaes, um dos mais vitoriosos carreiristas deste país. No governo Geisel, era um bajulador do presidente e do regime. Conseguiu ser indicado governador biônico (da Bahia)". E aproveitou para alfinetar também o ex-governador de Sao Paulo Orestes Quércia (PMDB): "Antônio Carlos era bem tratado como o Quércia porque era útil ao regime". Ele incluiu entre os oportunistas seu vice-presidente, Aureliano Chaves, e o ex-governador do Rio de Janeiro e atual deputado federal Moreira Franco (PMDB).

Com o ex-presidente e atual senador José Sarney, Joao Figueiredo foi implacável: "Sempre foi um fraco, um carreirista. De puxa-saco passou a traidor. Por isso nao passei a faixa presidencial para aquele pulha. Nao cabia a ele assumir a Presidência". Figueiredo se referia ao fato de Sarney ter abandonado o barco do regime militar depois de ter sido presidente da Arena, o partido do governo, para se aliar à oposiçao, que lançou Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.

Na sua opiniao, quem deveria ocupar o lugar de Tancredo era Ulysses Guimaraes, como presidente da Câmara dos Deputados.

O general Figueiredo, no entanto, nao tinha opiniao favorável a Ulysses: "Eu nao gostava dele. Ulysses pedia dinheiro a empresários para suas campanhas no início da carreira. Era tao radical contra a revoluçao de 1964 como eu fui papa". Em relaçao ao atual vice-presidente da República, Marco Maciel, ele fazia essas consideraçoes: "Pelo menos ele ia sempre pedir a bênçao do general Geisel, mas nunca se corrompeu".

Ao comentar a venda da Companhia Vale do Rio Doce, Joao Baptista Figueiredo fez críticas ao processo de privatizaçao conduzido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. "Se a privatizaçao da Vale do Rio Doce fosse feita no meu governo, diriam que era coisa da ditadura, autoristarismo. Mas a sociedade foi ouvida? Fizeram um plebiscito? Os japoneses têm interesse na área da Vale, os norte-americanos também. Vao desmontar a estrutura do Estado," disse.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;