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Invasão de sem-teto se consolida em Guarulhos
Samir Siviero
Do Diário do Grande ABC
02/08/2003 | 17:20
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O acampamento Anita Garibaldi, em Guarulhos, é o retrato de como pode ficar o terreno da Volkswagen, em São Bernardo, se a ocupação for consolidada. Invadida há dois anos e dois meses pelo mesmo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), que ocupou o terreno da Volkswagen no Grande ABC, a área de Guarulhos tem 250 mil m², igualmente divididos em 1.870 lotes de 2 x 20 m, além de um espaço destinado a ações sociais no centro do acampamento e outro onde será construída uma horta comunitária. As casas são barracos de madeira e as 19 ruas, de terra. Mas o acampamento se transformou em um bairro com cerca de 7 mil pessoas e que tem cerca de 100 lotes destinados aos mais diferenciados tipos de comércio.

Antes de chegarem à situação que estão hoje, os moradores do Anita Garibaldi, que fica próximo à rodovia Presidente Dutra, passaram quatro meses dormindo em barracas de lona, da mesma forma que acontece em São Bernardo. As redes de água são clandestinas e a energia elétrica é puxada de postes próximos ao acampamento, mas a companhia que fornece a energia para Guarulhos já estuda a implementação de postes.

De acordo com um dos coordenadores do MTST em Guarulhos, Manoel Ribeiro Teixeira, 43 anos, conhecido como Moreno, a grande maioria dos moradores é desempregada e sobrevive vendendo papelões e latinhas de alumínio. "Por isso não temos condições de viver em outro lugar. Se formos despejados daqui, vamos ficar na rua."

Com farmácia, recepção, biblioteca, galpão para eventos e padaria, além dos comércios particulares à beira do acampamento, como tapeçaria, funilaria e oficina mecânica, entre outros, os coordenadores impedem a abertura de bares no meio da comunidade para evitar desentendimentos. As cerca de mil crianças do terreno freqüentam escolas de bairros próximos e uma sala na área social é utilizada para eventos artísticos e alfabetização de adultos.

Outro ponto importante no acampamento são as cerca de 50 casas utilizadas para cultos de diferentes religiões. Com toda essa estrutura montada, porém, a ocupação de Guarulhos, continua sub judice. A última informação que os coordenadores têm é que o proprietário do terreno, Cláudio Malva Valente, estaria disposto a vender a área, desde que houvesse o comprometimento de um órgão governamental, o que não aconteceu.

"Faz um mês que cheguei aqui, mas estou com a mesma disposição de lutar por essa terra que os demais. Para quem está desempregado, há dois anos encontrar um pedacinho de terra, é como estar no céu", disse o pedreiro Leone Santos Cerqueira, 42 anos, que com a esposa e quatro filhos, dorme no chão de um dos lotes.

Vivendo no terreno desde o início da invasão, a dona de casa Luciene Bento da Silva, 42 anos, conta que passou momentos de apreensão nos primeiros meses de ocupação. "Passamos quatro meses debaixo de lonas e aos poucos os barracos foram sendo construídos."

Invadido da mesma forma que o terreno de São Bernardo, o acampamento de Guarulhos teve 300 famílias no primeiro dia da ocupação, ocorrida em 19 de maio de 2001. "Em três dias tinham 5 mil famílias no terreno, mas aos poucos elas foram desistindo e fizemos o cadastro com 1,8 mil famílias", disse uma das coordenadoras, Isaura Tarraga, 46 anos.

A disposição das barracas do terreno de Guarulhos aconteceu da mesma forma que em São Bernardo. Primeiro, a área foi tomada de forma desordenada. Depois, foi feito um cadastro e o terreno acabou dividido em ruas com espaço definido para cada casa.

Despejados – Em terreno menor, com 180 mil m², cerca de 250 famílias estão acampadas em Osasco, também em ação do MTST. Apesar de ter invadido o primeiro terreno há um ano, esse grupo foi despejado de dois terrenos e agora está em uma área próxima à rodovia Raposo Tavares há quatro meses (leia reportagem abaixo).

A primeira invasão do MTST aconteceu em 1997 em Campinas, onde cerca de 5 mil pessoas vivem atualmente em casas de alvenaria, mas em terreno judicialmente irregular. No local, existem igrejas, postos de saúde e escola, mas a distribuição de água é improvisada. A energia elétrica foi instalada no ano passado. O local, porém, passa por um processo de favelização.




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