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Oposição toma o poder no Quirguistão e anuncia eleições para junho
Da AFP
25/03/2005 | 19:57
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A oposição no Quirguistão começou a organizar o novo governo de Bishkek na última sexta-feira e anunciou eleições presidenciais para junho, enquanto tentava restaurar a ordem no país depois da derrubada, na quinta-feira, do presidente Askar Akayev.

As eleições presidenciais serão realizadas "dentro de três meses" - em junho -, "conforme a Constituição", declarou nesta sexta-feira Kurmanbek Bakiev, que foi designado presidente interino pelo Parlamento. "Conforme a Constituição, as eleições presidenciais devem ser realizadas dentro de três meses. Respeitaremos a lei fundamental", acrescentou.

O regime de Askar Akayev foi derrubado em poucas horas, sob pressão de milhares de manifestantes, que tomaram de assalto a sede da presidência e do governo.

Akayev, que estava no poder desde 1990, está desaparecido. Segundo informações não confirmadas, ele teria se refugiado no Cazaquistão. "O presidente Akayev deixou o país de helicóptero e se encontra num balneário do Cazaquistão. Deve assumir a responsabilidade de seus atos", afirmou nesta sexta-feira a presidente da Corte Constitucional, Cholpon Baiekova.

A alta funcionária considerou legítima a nomeação de Bakiev como presidente interino e explicou que ele tem o "direito de firmar decretos".

Kurmanbek Bakiev, de 55 anos, ex-primeiro-ministro (de dezembro de 2000 a maio de 2002), é atualmente chefe do Movimento Popular do Quirguistão (centro-esquerda), uma aliança recente de movimentos políticos.

A composição do novo governo do país será aprovada nesta sexta-feira pelo Parlamento, anunciou o presidente da câmara alta, Altai Borubaiev."Decidimos, com o Conselho de Coordenação (organismo criado pela oposição), estabelecer hoje a composição do governo", afirmou.

O novo presidente interino disse estar "preocupado com a segurança" e disse que havia chegado a hora de "pôr ordem no país". Ele afirmou, no entanto, que não tem intenção de proclamar o estado de emergência, mas não exclui o estabelecimento de um possível toque de recolher.

Numerosos saques foram registrados na última quinta-feira à noite em Bishkek, a capital deste país pobre da Ásia central.

Bakiev propôs que Roza Otunbaieva, outra figura importante da oposição, se encarregue interinamente da pasta de Relações Exteriores. Otunbaieva já ocupou o cargo e foi embaixadora, antes de passar a integrar a dissidência. Ele também indicou candidatos para os ministérios do Interior, Defesa e Finanças.

O chefe de Estado interino afirmou que a oposição não tem a intenção de questionar a presença de bases militares da Rússia e dos Estados Unidos em território quirguiz. O novo poder "vai assegurar a continuidade de todos os compromissos internacionais e de todos os acordos" firmados anteriormente. Isso inclui "tanto a presença da base da coalizão antiterrorista como a base aérea russa de Kant", perto de Bichkek, declarou Bakiev. "As relações com a Rússia serão boas", precisou.

Com a queda de Askar Akayev, foi derrubado o terceiro regime fiel à ex-União Soviética, depois da Geórgia, no fim de 2003, e da Ucrânia, no fim de 2004.

Novo presidente - Kurmanbek Bakiev, líder da oposição que assumiu nesta sexta-feira a presidência do Quirguistão, foi primeiro-ministro do presidente deposto Askar Akaiev, mas deixou o cargo em 2002 para protestar contra a repressão de manifestações populares.

Engenheiro-eletricista de formação e ex-diretor de fábrica, este homem de 55 anos, expressão severa e cabelos grisalhos foi um dos principais líderes dos protestos que derrubaram o presidente Askar Akaiev na quinta-feira.

Em 1990, Bakiev foi prefeito e, depois, vice-presidente do Parlamento regional de Jalal-Abad, cidade onde nasceu. Em 1997, tornou governador regional de Chuy (norte), cargo que exerceu por três anos, até ser nomeado primeiro-ministro pelo presidente Akaiev.

"Bakiev demonstrou que é um homem que pode dirigir o país quando foi primeiro-ministro. Ele é uma pessoa reflexiva que tem muita paciência", afirmou um representante ocidental, contente com a eleição do Parlamento quirguiz nesta sexta-feira que nomeou o opositor moderado presidente interino do país.

"Sua popularidade não tem a ver com sua política enquanto primeiro-ministro, mas com o fato de ele ter pedido demissão em 2002, após os disparos nas manifestações de Aksy", explica Temirlan Moldogazyev, analista da Universidade americana da Ásia Central de Bishkek.

A tarefa de Bakiev agora é confirmar sua capacidade de organização para acabar com os saques que vêm ocorrendo em Bishkek desde quinta-feira e criar as condições necessárias para uma sucessão democrática do regime derrubado.

Pouca gente duvida das ambições futuras de Bakiev. Em junho de 2004, ele se declarou candidato à presidência para as eleições previstas inicialmente para outubro de 2005 e que foram antecipadas pelo Parlamento nesta sexta-feira para o mês de junho. Mas, para isso, Bakiev precisará convencer todos os outros líderes da oposição que disputam a Presidência.




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