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Daniela Mercury estréia show 'Sol da Liberdade'
Do Diário do Grande ABC
01/06/2000 | 18:24
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Se fosse criado um evento chamado encontros inusitados, a uniao das três moças da foto ao lado certamente seria uma das principais atraçoes. Afinal, quem poderia conceber a fusao da luminosidade soteropolitana de Daniela Mercury com o estilo visceral/metódico da diretora Bete Coelho e da cenógrafa Daniela Thomas, qualquer que fosse a situaçao? Pois bem. O resultado desse trabalho conjunto poderá ser visto no novo show da cantora baiana, "Sol da Liberdade", em cartaz a partir desta quinta-feira, no Olympia, em Sao Paulo.

A reportagem reuniu com exclusividade a cantora, a diretora e a cenógrafa para conversar sobre o espetáculo. A impressao inicial é que se trata de um encontro de velhas amigas. Bem, na verdade, Bete e Daniela Thomas realmente se conhecem de longa data, desde os tempos da Companhia de Opera Seca, na qual se encontraram em 1986. Entre outros trabalhos, fizeram o espetáculo "Pentesiléias", em 1994. "Somos uma só, temos uma identidade mental; sabemos o que passa pela cabeça da outra como um videotape", diz Bete. "Mas só nos encontramos quando o trajeto dos planetas se esbarram", acrescenta Daniela Thomas, provocando risadas.

O reencontro das amigas no mesmo palco foi possível graças à iniciativa de Daniela Mercury. Inquieta, a baiana queria beber em novas fontes visuais e pensou imediatamente na xará. "Queria alguém que transitasse em várias linguagens e pensei na Daniela, que já fez cenários e clipes com o Gringo (Cardia), teatro e cinema", argumenta a cantora.

Decidida a abrir mao da direçao do espetáculo - com exceçao de "Feijao com Arroz", ela dirigiu todos os seus shows -, pediu a Daniela Thomas a sugestao de um nome. Foi quando Bete Coelho completou o trio. "É difícil fazer as coisas e ao mesmo tempo julgar com distanciamento; por isso, queria uma pessoa sensível como a Bete", conta Daniela.

Inicialmente, a cenografia do espetáculo foi toda concebida a partir dos elementos que compoem a capa do disco Sol da Liberdade, principalmente as fotografias que Mario Cravo Neto fez de Daniela Mercury num mangue. "A idéia foi valorizar coisas brasileiras, como a natureza", afirma a Daniela coreógrafa. "No entanto, percebi que faltava algo que é vital no trabalho de Daniela Mercury: a cor, o vigor; e numa madrugada decidi mudar tudo, passando a valorizar essa coisa do sincretismo que ela sempre busca".

O eixo do espetáculo é justamente a diversidade de influências e estilos que a cantora baiana abraçou em seus últimos CDs - especialmente em "Feijao com Arroz", "Elétrica" e "Sol da Liberdade". No disco mais recente, a miscelânea pop-axé-tecno-MPB confundiu os sentidos dos fas da musa baiana. Mais pelas novas experiências do que pelos resultados. No palco, ela mescla o novo repertório com antigos hits, como "Swing da Cor" e "Rapunzel". "Busco uma delicadeza nessa mistura, que Lenine chamou de pop planetário", explica Daniela Mercury, que vai fazer turnê na Europa no próximo ano. "É um show para dar a volta no mundo", completa Bete, parafraseando o refrao de "Crença e Fé".

Disciplina - A convivência de Bete Coelho com o rigor e disciplina impostos pelo teatro fez com que Daniela Mercury ouvisse nos últimos dias perguntas como "Ela nao mandou você ficar quieta?". "Que nada; às vezes eu ficava quieta e ela me mandava dançar", lembra a baiana, que se surpreendeu ao saber que Bete tem formaçao de bailarina.

As surpresas foram recíprocas. A diretora conta que ficou impressionada com o conhecimento musical de Daniela Mercury. Foi no decorrer dos ensaios que Bete percebeu que a baiana "é bem mais do que uma cantora que sabe dançar". "Ela conhece profundamente harmonia, composiçao e sabe exatamente o que fazer no palco", elogia a diretora. "Me perguntaram se eu mudaria seu estilo no espetáculo, mas acho que ela é suficientemente boa para mudar sozinha".

Bete Coelho e Daniela Thomas querem afastar estigmas que insistem em rondar Daniela Mercury, principalmente o rótulo de cantora de axé music. Para isso, valorizaram elementos essenciais do teatro, como a luz. Em certo momento do espetáculo por exemplo, as luzes focalizam a cantora acompanhada apenas por metais, no melhor estilo acústico. "Nosso trabalho é fazer Daniela exercitar-se como atriz e persona de palco", esclarece Daniela Thomas.

Se o resultado desse trabalho agrada ou nao é outra história. Mas, para elas, vale correr o risco. "Se temos alguma coisa em comum no palco é a vontade de arriscar", analisa Bete, que tem um método no mínimo incomum de julgar a qualidade' do que faz. "Eu olho as coisas com atençao e quando fico arrepiada é porque está bom; e isso ocorreu várias vezes durante os ensaios".




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