O mundo está cada vez mais moderno – pelo menos, é o que dizem as propagandas por aí, espalhadas até onde a vista alcança. Será mesmo? E, em caso positivo, será que a humanidade modernizou-se na mesma velocidade ou o que chamamos de modernidade não passa de nossa liberdade condicional no mundo contemporâneo, em cuja guarita de vigilância repousam nossos brinquedinhos tecnológicos? A propósito, sabemos o que é modernidade de fato? Tantas perguntas que só mesmo convocando uma liga da justiça na literatura e na filosofia para refletir sobre elas. Foi essa a direção que o professor e escritor Ricardo Lísias tomou para organizar, a partir do próximo sábado (20), a série Seminários Avançados sobre a Modernidade – A Literatura e a Filosofia no Século XX, iniciativa conjunta da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, da Escola Livre de Literatura, da Casa da Palavra e da Fundação Santo André, com apoio do Diário.
Aberta ao público em geral e com entrada franca, a série terá como base de operações a Casa da Palavra. Constitui-se de 16 seminários, apresentados por Lísias aos sábados, das 15h às 18h, até 10 de dezembro. Cada palestra comporta duas horas de explanações do palestrante sobre o autor da semana; na hora seguinte, está aberto o debate com o público. Para obter o certificado de extensão universitária oferecido pelos Seminários, o interessado deverá ter 75% de freqüência e inscrever-se até dia 20, na Casa da Palavra, por telefone (4992-7218 ou 4427-7701) ou pelo site www.santoandre.sp.gov.br. Quem quiser somente assistir às palestras, sem aquisição do certificado, não precisa fazer inscrição.
Uma coisa é evidente, nas palavras de Lísias, 30 anos, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo: "No Brasil, ainda vigora aquela história de que as idéias chegam atrasadas. Passamos pela modernidade, chegamos à pós-modernidade, e algumas questões da modernidade ainda não foram bem entendidas, sequer esgotadas. A idéia (dos Seminários) é justamente apresentar algumas dessas questões, que às vezes foram ultrapassadas sem serem compreendidas".
Por isso, Lísias acionou o bat-sinal literário para convocar uma poderosa liga junto a escritores, poetas e filósofos do século XX. Abre com T.S. Eliot, autor britânico de The Waste Land, e a devastação do mundo via progresso. Vá contando aí – e tente não ficar boquiaberto – os outros integrantes da seleção: James Joyce, Marcel Proust, Virginia Woolf, Franz Kafka, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Bertolt Brecht, William Faulkner, Albert Camus, Jean Paul Sartre, Samuel Beckett, Jorge Luis Borges, Dylan Thomas, Primo Levi, Jean François Lyotard e Fredric Jameson.
"A idéia era reunir autores representativos, mas que dessem a chance de chamar outros autores, que conseguissem deixar em aberto as questões que discutem em sua obra", afirma Lísias. Em outras palavras, escritores e intelectuais que se colocam no meio do caminho da evolução literária e filosófica, que rememoram autores precedentes e, com suas obras, deixam aberta a trilha para autores futuros.
Por meio desses 16 autores, serão contempladas algumas das mais teimosas pulgas que habitam a orelha da atualidade. Entre elas, a mutação de paradigmas de comportamento deste novo século, o beco sem saída em que se enbananaram as utopias, a absorção da contracultura pela cultura de massa, a popularização da arte e a banalização de seus conceitos sem um detido questionamento, a flexibilidade da pós-modernidade e seu usufruto irrestrito num cosmo de referências transitórias e assim por diante. Modernidade, como deverão demonstrar essas 16 lições, não é uma questão de apertar botões tão-somente.
Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX – Série de seminários. Abertura sábado (20), às 15h. Na Casa da Palavra – praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.: 4992-7218. Aos sábados, das 15h às 18h. Entrada franca. Até 10 de dezembro. O Diário publica, sempre às terças-feiras, texto-base de Ricardo Lísias referente ao seminário do sábado imediatamente posterior.
Programa
Dia 20 - T.S. Eliot: O mundo devastado
Dia 27 - James Joyce: O cabal fim dos heróis literários
Dia 3/9 - Marcel Proust: O tempo de rememorar
Dia 10/9 - Virgínia Woolf: Rumo às profundezas da psicologia humana
Dia 17/9 - Franz Kafka: Do lado de fora do castelo ficcional
Dia 24/9 - Walter Benjamin: Diante da catástrofe
Dia 8/10 - Theodor Adorno: Qual a poesia possível
Dia 15/10 - Bertold Brecht: A solução pelo engajamento
Dia 22/10 - William Faulkner: Em meio ao mundo
Dia 29/10 - Albert Camus e Jean Paul Sartre: Revolta ou revolução
Dia 5/11 - Samuel Beckett: Em meio ao absurdo
Dia 12/11 - Jorge Luis Borges: Barbárie ou civilização?
Dia 19/10 - Dylan Thomas: O movimento beat
Dia 26/10 - Primo Levi: A perda da humanidade
Dia 3/12 - Jean François Lyotard: Pós-modernismo 1
Dia 10/12 - Frederic Jameson: Pós-modernismo 2
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.