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Dificuldades no setor público de Saúde facilitam pandemias
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
02/08/2009 | 09:28
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As grandes pandemias de gripe nos últimos dois séculos têm um forte traço em comum: a dificuldade de serviços públicos de Saúde darem a assistência adequada à população. A falta de recursos expõe a fragilidade da estrutura existente.

Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz - setor da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que lida com a história das ciências de Saúde -, Luiz Antonio Teixeira acredita que as autoridades têm feito o possível para minimizar os danos, porém os problemas são evidentes. "Não existem hospitais para atender a todas as pessoas, por exemplo, e há dificuldade na distribuição de medicação. É algo deficitário", lembra.

Para os médicos, que têm contato direto com a população, cabe sempre um papel considerado dificílimo. "Eles fazem a mediação entre o desejável e o possível. É algo complicado, mas é a única coisa que podem fazer. É esclarecer e medicar."

O medo da população é proporcional à confiança que deposita na medicina, que se apresenta como a grande salvadora, com a promessa de salvar sempre. Uma pandemia, porém, quebra este paradigma. "Em uma situação assim, esse ‘salvar sempre' não funciona. Não é tão rápido quanto parece nos filmes. Gera uma frustração", afirma Teixeira.

A divulgação de notícias em tempo real, com número de mortes e descoberta ou falhas de remédios deixam os gestores públicos de Saúde em uma situação complexa. As informações não são só úteis, mas também geradoras de pânico. O especialista em epidemias defende ideia polêmica: "Acho que faz parte e é necessário não divulgar muito certos dados."

Para justificar a teoria, lembra de um caso recente de febre amarela selvagem que levou milhares de pessoas a unidades de Saúde no interior de São Paulo em busca de vacina. "Ficaram tão ávidas por se vacinar que tomavam duas, três doses. A imunização é que se tornou o problema."

Cidades não foram esvaziadas e a taxa de mortalidade ainda é pequena. Não há cenário apocalíptico em curso. A disseminação da doença, porém, é preocupante, principalmente pelo histórico de gripes como as doenças modernas mais perigosas que existem. "Os prognósticos não são bons. Temos que ficar atentos."

O especialista da Casa de Oswaldo Cruz é um estudioso da história da medicina e tece paralelos com a Gripe Espanhola (1918), que matou milhões no início do século passado. "Se a gente fizer uma colagem histórica, a nossa preocupação deve ser gigante. Tivemos até agora uma pequena epidemia, correndo o risco de se tornar uma grande epidemia, assim como no passado." Ele ressalta, porém, que os recursos disponíveis agora são bem maiores.

A preocupação para Teixeira deve estar concentrada na aquisição e produção de imunizadores, tendo em vista que países ricos já se adiantaram neste sentido. "O lado positivo é que nossa história no desenvolvimento de vacinas é muito boa. Temos como em curto espaço de tempo resolver essa questão, comparados com outros países do Terceiro Mundo", explica.




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