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11 capitais voltam às urnas neste domingo
José Afonso Primo
Colunista do Diário
28/10/2000 | 20:01
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Os eleitores de 11 capitais brasileiras vao às urnas neste domingo para decidir o segundo turno da eleiçao de prefeito, e em pelo menos três dessas cidades o clima é de tensao declarada entre os candidatos. Em Sao Paulo, Fortaleza e Recife, a radicalizaçao da campanha atingiu níveis elevados, com agressoes pessoais e uso de jargoes ideológicos já sepultados desde a queda do muro de Berlim, que marcou o fim do comunismo internacional em 1989. O desejo de vitória a qualquer preço - inclusive o da baixaria - empobreceu a campanha municipal, confundiu os eleitores e deixou a democracia envergonhada.

Radicalizaçao - Na campanha eleitoral de Sao Paulo aconteceu o que era esperado, isto é, o confronto entre o malufismo e o petismo, que persiste na política paulistana desde a eleiçao de Luiza Erundina, em 1988. Mas a radicalizaçao entre os candidatos Paulo Maluf (PPB) e Marta Suplicy (PT) foi além das expectativas. Certamente, se o adversário da petista fosse o vice-governador Geraldo Alckmin (PSDB), ou mesmo o senador Romeu Tuma (PFL), nao se alcançaria tanta agressividade. E se acontecesse uma disputa entre Marta Suplicy e Luiza Erundina (PSB), jamais Sao Paulo veria tantas agressoes.

Religiao - Em Fortaleza, Juraci Magalhaes (PMDB) mantém-se à frente de Inácio Arruda (PC do B), por uma diferença que variava até o meio da semana de 59% a 36%, segundo o Datafolha, e 61% a 39%, de acordo com o Ibope, numa campanha em que o candidato comunista foi execrado como um ateu.

O pemedebista mandou distribuir santinhos com a imagem de Nossa Senhora, na Igreja de Fátima, e uma oraçao em que a santa condena o comunismo. Os boatos espalhados na cidade diziam que se Arruda for eleito, com a ajuda do MST e de Fidel Castro demitiria grande parte dos funcionários da Prefeitura, e a capital cearense se tornaria um centro comunista internacional.

A situaçao ficou de tal forma que o arcebispo dom Aloisio Lorscheider, ex-secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e o bispo de Sobral, Aldo Fagodo, gravaram depoimentos para o programa de Inácio Arruda, atestando que ele nao é o diabo que Juraci Magalhaes está pintando.

Católicos e evangélicos promoveram ato ecumênico de apoio ao candidato do PC do B e de repúdio ao concorrente do PMDB. Magalhaes tentou se explicar depois, dizendo que criticou a característica de baderna dos comunistas e nao o lado religioso de Arruda.

No primeiro turno, choveram ataques pessoais contra a deputada estadual Patrícia Gomes, entao candidata do PPS e ex-mulher do presidenciável Ciro Gomes. Boatos se referiam à separaçao do casal e a desqualificavam como mulher e como política.

A campanha difamatória boca-a-boca acabou atirando a concorrente do PPS para o quarto lugar no primeiro turno, depois de permanecer nas primeiras colocaçoes em todas as pesquisas. Nem Ciro Gomes conseguiu impedir a queda da ex-mulher que, magoada, preferiu ficar neutra no segundo turno.

Greve - Já a campanha em Recife chegou ao ponto máximo da agitaçao com a greve da Polícia Militar de Pernambuco. O candidato à reeleiçao pelo PFL, Roberto Magalhaes, acusou o concorrente do PT, Joao Paulo, de estar por trás do movimento grevista, e a coligaçao petista exibiu em seu programa eleitoral da televisao uma entrevista com o diretor da Associaçao de Cabos e Soldados da PM, Moisés Filho, afirmando que a paralisaçao nao tinha cunho político e que ele próprio integrou a aliança de apoio a Magalhaes no primeiro turno.

Para evitar ocorrências mais graves, já que na última terça-feira houve confronto com feridos entre os grevistas e oficiais da PM, o juiz eleitoral de Recife, Bartolomeu Bueno, proibiu a realizaçao de comícios, passeatas e carreatas na cidade. A radicalizaçao da campanha levou o TRE a solicitar a presença de tropas federais para a eleiçao de hoje. A suspensao foi em decorrência de um pedido do promotor da Justiça Eleitoral, Ricardo Vasconcelos Coelho, que considerou "iminente" o risco de confronto.

Nas demais cidades, embora acirrada, a campanha nao atingiu limites extremos de radicalizaçao. No Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde (PFL) está na frente de César Maia (PTB), segundo pesquisa Ibope divulgada quarta-feira, com 48% a 38%, e de acordo com o Datafolha, com 49% a 37%. 2002 - No Paraná, o grupo do governador Jaime Lerner, se considerava invencível com o candidato à reeleiçao Cássio Taniguchi (PFL), mas estava tecnicamente empatado com o petista Angelo Vanhoni, por 46% a 44% de intençao de voto. Se Taniguchi perder, Lerner também perderá prestígio dentro de seu partido como aspirante a candidato presidencial em 2002.

O segundo turno em Porto Alegre, disputado entre o petista Tarso Genro e o pedetista Alceu Collares, pode ter reflexos no partido do ex-governador Leonel Brizola. A esquerda do PDT - inclusive Joao Vicente, filho de Brizola, que está com processo de expulsao do partido, iniciado pelo próprio pai - apóia o candidato do PT, enquanto a corrente mais conservadora fica com Collares. Há quem aposte em racha no PDT, com a esquerda indo para o PT ou PSB e a direita formando com o PTB.

Em Goiânia, a diferença entre Pedro Wilson (PT) e Darci Accorsi (PTB), de acordo com o Ibope, estava durante a semana no patamar dos 59% contra 29%, confirmando a tradiçao oposicionista da cidade. A candidata do PSDB, Lúcia Vânia, que tinha o apoio do governador tucano Marconi Perillo, nao chegou ao segundo turno. Foi Perillo quem desalojou do poder estadual o cacique pemedebista Iris Rezende, que dominou a política goiana por muitos anos.

Socialistas - Segundo o Datafolha, Célio de Castro (PSB) estava com 49% contra 37% de Joao Leite (PSDB), em Belo Horizonte, e Kátia Born, do PSB de Maceió, mantinha a dianteira em relaçao a Régis Cavalcante (PPS), por 51% a 34%.

Na cidade de Belém, capital do Pará, pesquisa do Ibope indicava empate em 48% entre o candidato do PT, Edmilson Rodrigues, e o do PSD, Duciomar da Costa. Em Manaus, disputam o segundo turno Alfredo Nascimento (PL) e Eduardo Braga (PPS).




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