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Alô, galera de caubói
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
07/08/2011 | 07:15
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Travestido de romance e embalado por suaves arranjos, o sertanejo, um velho clássico da música brasileira, volta a invadir as casas de show da região. Depois do advento dos anos 1990, quando duplas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano dominaram o mercado musical, uma nova onda surge trazendo nomes como Victor e Léo, Luan Santana e Paula Fernandes, entre muitos e muitos outros, todos presenças constantes no Grande ABC.

Casas como a Estância Alto da Serra e Pousada dos Pescadores, Country Beer e Herculanos, que abriu na semana passada em São Bernardo, são a prova de que esse excesso do movimento é apenas o início do ciclo.

"A música sertaneja de hoje tem abrangência muito maior. Antigamente era um estilo muito segmentado. O movimento se reciclou, com novos arranjos, metais, guitarra... Ao mesmo tempo que existem duplas com apelo mais conservador, como João Bosco e Vinícius, tem Victor e Léo apostando no romance e Luan Santana com um toque de modernidade", acredita Marco Tobal Júnior, sócio-diretor do Country Beer, que reabriu em São Caetano no fim do ano passado.

"Gente como Maria Cecília e Rodolfo, Fernando e Sorocaba e Victor e Léo trazem música que é do interior mas que tem pincelada romântica. Atingem em cheio a alma de muita gente", conta Elói Carlone, da Estância Alto da Serra, em São Bernardo.

Apesar da miscelânea musical que chega, por vezes, a descaracterizar as raízes do gênero, parte de quem gosta do estilo diz que sempre há uma porção da alma sertaneja pedindo passagem nos novos tempos. "O sertanejo nunca sai de moda e atualmente vem ganhando muitas modificações, também nas vozes de novos cantores que só ajudam a deixar nosso gênero cada vez mais popular", diz Paula Fernandes, que faz um sucesso tremendo com suas músicas que trazem muito de raiz, têm pegada pop e ainda um quê do country de Nashville.

"Minha raiz é sertaneja, cresci ouvindo Tonico e Tinoco e Tião Carreiro e Pardinho no radinho de pilha da minha avó. Esta sempre será minha essência mais profunda", conta Paula, sobre o desatar dos nós de sua incursão musical.

A cantora revela ainda que deseja flertar mais abertamente com o country norte-americano em um novo trabalho.

VELHO X NOVO
Raiz - aliás, a palavra mais utilizada no gênero -, é sempre o que entra em jogo neste momento. "Hoje, se você entra de chapéu em um pagode, todos vão achar que você mente. Mas, se um cara vai de corrente e camiseta num lugar sertanejo, fica indistinguível", conta Edson Luiz Tega, o Tato, da Comitiva Fora da Lei, um dos mais antigos grupos de sertanejos da região.

"Atualmente, o ‘à caráter' da balada sertaneja são os homens de xadrez e as mulheres de bota. Se eu vejo alguém de chapéu, acho até engraçado. Para não vestir uniforme, tento evitar qualquer um desses figurinos", revela a andreense Ingrid Ghandy da Cruz.

A jovem gosta mais do sertanejo que chega até a década de 1990, de astros como Zezé Di Camargo e Luciano. Rionegro e Solimões, dupla nascida em 1980, está entre as suas preferências. "Hoje, o sertanejo universitário está em evidência, mas em todos os lugares que frequento vejo que há abertura para a execução de músicas antigas. Todo mundo vibra nessa hora. Muitos músicos jovens fazem o resgate das composições antigas", diz ela.

"Hoje, o sertanejo de raiz traz um público seleto, mas não muito grande", fala Elói Carlone, da Estância alto da Serra, de São Bernardo. "Quem enche a casa é gente como Jorge e Mateus ou Luan Santana", completa.

Apesar da maioria esmagadora preferir os jovens músicos, Carlone não acredita que a preferência pelo novo vai esmagar a raiz. "É que nem o forró universitário, que teve o seu tempo e acabou. O forró legítimo ainda existe, os nordestinos não abrem mão dele e acabam influenciando o gosto dos outros. Tem muita gente do interior que também não abre mão do sertanejo tradicional."

ALTERNATIVAS
Fã do country norte-americano, Fabiano Guilherme Nascimento Alves, da Comitiva Bebe Ligeiro, de Santo André, frequenta as casas sertanejas da região independemente do que elas tocam. Para ele, o lance é curtir um espaço que ele acredita ser mais agradável e familiar. "Todo sertanejo é tranquilo, é muito raro ver problemas comuns em outros ambientes nas casas country", diz.

A sua predileção por nomes como Garth Brooks faz com que seu gosto não seja contemplado na maioria dos lugares que frequenta. Para poder curtir o seu som, ele reúne os amigos da comitiva, faz passeios exclusivos e vai a rodeios, respirar um ar mais norte-americano.

"Nasci com o gosto certo no lugar errado", acredita Tato, que revela que todos os integrantes de sua comitiva têm cavalo e gostam mais de um som do tipo de Almir Sater. "A gente acaba indo para o interior", diz ele, que sempre vai para Tietê, Americana, Pinhãozinho, além da tradicional Barretos. "A gente trabalha para que o nosso gosto não continue como hobby, mas como um trabalho de conservação das raízes."




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