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Desconstrução do corpo
Sara Saar
Especial para o Diário
26/07/2009 | 07:41
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Nario Barbosa/DGABC


Trabalhar a desconstrução do corpo é a proposta da bailarina andreense Bárbara Eliask para a estreia do solo La Poupée (a boneca, em francês) com apresentação única em São Paulo, na terça-feira, às 20h. A entrada é gratuita.

Radicada na França há três anos, a coreógrafa se baseou em obra homônima do artista plástico alemão Hans Bellmer (1902-1975) para construir o espetáculo de dança contemporânea. "Uma boneca com 1m40 colocada em um pedestal chamou a minha atenção. Eram dois pares de pernas e um olhar muito expressivo. Lembro que os meus olhos ficavam na altura dos dela", comenta sobre a instalação que observou em Paris.

Segundo Bárbara, a ideia não foi criar imagens que tenham significado interpretativo, mas lançar sensações de acordo com a história de cada espectador. "Não queria que a montagem só fosse acessível a quem conhece a obra de Bellmer. Eu exploro a fragmentação do corpo com uma lentidão de articulações para provocar o estranhamento do público. No início, tento esconder a minha cabeça. Braços e pernas são expostos sem a leitura habitual do corpo", adianta.

O figurino, escolhido a partir de pesquisas sobre bonecas na arte contemporânea, busca dificultar a identificação do que são braços ou pernas. Sem a intenção de entrar nua em cena, mas com a ideia de mostrar partes da pele para remeter à condição humana, Bárbara faz duas trocas.

Por 25 minutos, a obra recebe trilha instrumental, com piano e violoncelo, do compositor francês Gaspar Clauf. O cenário é formado somente por telão que transmite imagens sobre o olhar de uma boneca. Ao final, o público poderá participar de um bate-papo com a artista.

Trajetória - Desde os primeiros passos, Bárbara Eliask já demonstrava interesse pelo balé. Sempre teve contato com o clássico e, aos 19 anos, conheceu a dança contemporânea na faculdade, que não concluiu no Brasil. Durante esse período, fez cursos técnicos em diferentes escolas, acompanhou aulas de teatro para complementar a formação em dança, participou de espetáculos como A Bela Adormecida, no papel principal. Soube aproveitar bem as oportunidades, mas a história não termina por aí.

Em 2004, a bailarina, que pertencia à companhia paulista Pults Teatro Coreográfico, recebeu convite para participar de um workshop sobre a peça Near Life Experience, do coreógrafo francês Angelin Preljocaj, que estava em cartaz no Sesc Vila Mariana. Logo também foi convidada para fazer um estágio na companhia Preljocaj. "Durante julho de 2005, acompanhei os ensaios, fiz aulas, segui o grupo em turnê", lembra.

Em agosto de 2006 decidiu voltar para França com a ideia de concluir a graduação, mas ficou por lá e não tem planos de morar no Brasil. "Me identifico muito com a cultura do país. Talvez eu tenha tido a sorte de encontrar as boas pessoas. Lá, em todo canto, por mais afastado e frio que seja, o espetáculo é lotado. O povo aplaude e faz discurso. Isso sim é estimulante", afirma. Hoje, aos 28 anos, faz mestrado em Dança pela Universidade de Paris, além de atuar como professora de clássico para crianças e dança-teatro para adultos. (Supervisão Melina Dias)

La Poupée - Dança. Terça-feira, às 20h. No Teatro de Dança - Avenida Ipiranga, 344, São Paulo. Tel.: 2189-2555. Entrada franca.




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