Mauá, que concentra 51 mil passageiros por dia,
integrava projeto inicial do serviço de mobilidade
O Expresso ABC – serviço implantado na Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) há um mês – tem sido alvo de críticas por parte de passageiros de Mauá. Os usuários reivindicam que a cidade também seja atendida pela linha, situação prevista no projeto inicial do modelo de viagem rápida, anunciado há pelo menos 16 anos, mas abandonada pelo Estado.
Atualmente, o Expresso ABC liga as estações Prefeito Celso Daniel-Santo André e Tamanduateí, na Capital, com apenas uma parada, em São Caetano, em trajeto que demora em média nove minutos. Já o projeto inicial previa viagem com seis pontos – Mauá, Santo André, São Caetano, Tamanduateí, Brás e Luz – em apenas 12 minutos.
Outra diferença em relação à primeira proposta do Estado está relacionada ao intervalo entre um trem e outro, para embarque e desembarque de passageiros. No Expresso ABC, os usuários têm de aguardar por 30 minutos para o início do trajeto em Santo André. Já o antigo projeto tinha meta de que as composições demorassem apenas seis minutos entre uma e outra.
O alto volume de usuários é citado por moradores da cidade como um dos motivos para que Mauá seja atendida pelo serviço. “Eles deveriam priorizar nós e não São Caetano, que nem tem tanta gente. Somos esquecidos”, considera o auxiliar de escritório Rubens de Paiva, 32.
A demanda de passageiros em Mauá é a segunda maior da região, com média de 51 mil usuários por dia. Em Santo André, 58 mil pessoas usam o sistema de transporte público sobre trilhos. Já em São Caetano, por exemplo, que é atendida pelo Expresso ABC, circulam 31,2 mil indivíduos todos os dias.
“Para mim, que pego em Mauá a lotação dos trens, não mudou nada (com o Expresso ABC). Mesmo que em Santo André não entre tantas pessoas como antes, os vagões permanecem cheios. Muita gente usa o trem em Mauá. Continua sendo lata de sardinha”, desabafa a auxiliar de farmácia Ana Lucia Domingues, 27.
Ontem, por meio de nota, a CPTM justificou que o Expresso ABC opera em via exclusiva, com parada em plataformas próprias nas estações Prefeito Celso Daniel-Santo André e São Caetano para que possa funcionar ao mesmo tempo que a Linha 10-Turquesa. Conforme a companhia, no trecho entre as estações Mauá e Prefeito Celso Daniel-Santo André não há via exclusiva para atender o Expresso, “porém os usuários da Estação Mauá também estão sendo beneficiados com viagens em trens mais vazios nos horários de pico”, informou.
BALANÇO
A equipe do Diário voltou ontem pela manhã à Estação Prefeito Celso Daniel, em Santo André, para acompanhar viagens de passageiros no Expresso ABC, um mês após a implantação do serviço, que beneficia, por dia, cerca de 49 mil usuários. Embora passageiros ressaltassem a consolidação do sistema, a maior parte reforçou a necessidade de que os intervalos sejam menores entre as composições.
Com saídas a cada 30 minutos, o serviço, pioneiro em todo o sistema da CPTM, realiza cerca de 14 viagens diárias. “Sinceramente, achei o expresso ótimo. Hoje consigo me programar e sair até mais tarde de casa, no entanto, poderia ter saídas a cada 15 minutos. Aí ficaria excelente”, afirma o auxiliar de logística Anderson de Mello, 37.
Em média, a cada partida de trens do Expresso ABC, outras cinco composições convencionais deixam a Estação Prefeito Celso Daniel-Santo André. “O tempo poderia ser melhor, mas a medida tem sido muito boa. Não enfrento mais lotação e quando acontece de o trem estar cheio não é algo sufocante”, relata o técnico de home care Augusto Aparecido da Silva, 51.
Segundo usuários, o Expresso ABC também equacionou a quantidade de passageiros das composições que circulam na Linha 10-Turquesa. “Achei ótimo. Antes o trem que vinha de Mauá chegava muito lotado em Santo André. Agora é muito mais organizado e dá para pegar o vagão tranquilo”, afirma o auxiliar de TI Matheus Oliveira, 17.
Já as reclamações relacionadas à ausência de sinalização das estações, citadas no primeiro dia do serviço, foram solucionadas pela CPTM. “Agora tem placa por toda o lado. Acho isso muito bom”, relata a atriz Camila Miranda, 47.
Os trens do Expresso ABC, que usam via exclusiva entre as estações e, por isso, não interferem na circulação das composições da Linha 10 – Turquesa, funcionam de segunda-feira a sexta-feira em dois períodos: das 6h às 9h e das 16h às 19h. No período da manhã, as composições prestam serviço a partir da Estação Prefeito Celso Daniel-Santo André até a Tamanduateí, na Capital. Já à tarde, os trens realizam o trajeto contrário. A tarifa do serviço tem o mesmo valor do bilhete convencional: R$ 3,80.
Conforme a CPTM, o serviço representa alternativa aos passageiros que embarcam em Santo André e São Caetano, com destino direto a São Paulo e integração com o Metrô.
Ainda segundo a companhia, a avaliação de demanda e de carregamento de usuários no trecho é contínua e a CPTM não identificou a necessidade de mudar o modelo do serviço, que está tendo boa aceitação pelo público. “Inclusive muitos usuários têm manifestado elogios nas estações, redes sociais e na central de atendimento 0800”, destaca.
Promessa de volta da Estação da Luz ao itinerário da região não se concretiza
O possível retorno da Estação Luz ao itinerário da Linha 10-Turquesa da CPTM é outra promessa feita pelo governo estadual que não retornou à pauta. Em 2011, quando a companhia retirou a parada do trajeto que atende a região, o governo estadual cogitou, após protestos dos usuários, desfazer a mudança assim que fosse inaugurado o Expresso ABC, o que não se concretizou.
Questionada sobre o assunto, a CPTM disse que a mudança no trajeto da Linha 10-Turquesa para operar entre Brás e Rio Grande da Serra foi necessária devido ao crescimento da demanda de usuários, após o início da integração da Linha 4-Amarela do Metrô na Estação Luz. Através de pesquisa, a CPTM coletou dados sobre a movimentação de usuários com a nova configuração e adotou o modelo operacional para as Linhas 7-Rubi e 10-Turquesa em 2011.
Conforme o comunicado, a decisão levou em consideração aspectos técnicos, já que intervenções na Estação Luz, patrimônio histórico, são restritivas.
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