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Portal para garimpar antepassados
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
07/02/2010 | 07:15
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Caio Arruda/DGABC


Buscar informações dos antepassados é uma curiosidade quase unânime. Principalmente no Grande ABC, já que é muito difícil não conhecer um vizinho com alguma descendência estrangeira. Há filhos, netos, bisnetos e tataranetos de italianos, espanhóis, portugueses, japoneses e polacos, entre outras nacionalidades, espalhados por todas as cidades da região. Mas, muitas dessas pessoas não têm acesso às informações sobre os seus avôs, bisavôs e tataravôs.

Para facilitar a busca por mais referências familiares e agilizar o processo para obtenção de cidadania dos respectivos países, o Arquivo Público do Estado de São Paulo, órgão do governo estadual, lançou o portal Imigração em São Paulo, o acesso é pelo link www.arquivopublico.sp.gov.br/imigracao. No portal estão disponíveis para consulta 40 mil páginas - sendo que 6.000, ou 15% do total dos documentos, pertencem aos imigrantes que chegaram para viver e trabalhar em fazendas dos núcleos coloniais de São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires, entre o fim do século 19 e o começo do século 20.

Os interessados em descobrir como o parente chegou ao Brasil podem encontrar diversas informações valiosas. Entre as mais importantes estão: listas de desembarques, data e nome dos navios que atracaram no Porto de Santos, nomes de famílias tradicionais e mais uma série de itens relevantes. Há ainda uma galeria de imagens,

"A nossa ideia ao colocar esses documentos na internet é facilitar o acesso. A pessoa não precisa mais vir aqui no nosso prédio. Ela pode pesquisar na hora que bem entender", diz Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público. O trabalho levou um ano para ficar pronto e foi patrocinado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Além do campo da curiosidade familiar, o portal da imigração poderá ser acessado por pesquisadores ou estudantes para conhecer a história dos imigrantes que ajudaram a desenvolver a região.

O Diário convidou parte da família Maziero, de Ribeirão Pires, de ascendência italiana, para conhecer o portal. Eles não perderam tempo e descobriram novas informações sobre a chegada do primeiro integrante da família no Brasil, em 1887, Vitorio Maziero. No site, eles encontraram um comunicado em que Vitorio recebe uma gleba de terra do governo do Império. "Isso pode ajudar no meu pedido de cidadania italiana. Agora falta juntar outros papéis", afirma Cilene Maziero, 27, bisneta de Vitorio.

Quem precisa solicitar documentos para fins legais, pode ir à sede do Arquivo Público, na Avenida Cruzeiro do Sul, 1.777, ao lado da Estação Portuguesa-Tietê do Metrô, na Zona Norte da Capital. O órgão funciona de terça-feira a sábado, das 9h às 17h.

Carta mostra as raízes de família

Ir atrás de informações para montar a árvore genealógica da família Maziero é um dos passatempos preferidos do aposentado Joel Maziero, 72 anos, que vive em Ribeirão Pires. Uma das teses do aposentado era que o seu bisavô Gerolamo Maziero, havia sido o primeiro da família a chegar no Brasil. Veio da cidade de Sanzano, na Itália, e desembarcou no Porto de Santos, no dia 4 de fevereiro de 1.888, com vários filhos, noras e netos, como mostra a certidão emitida pelo Memorial do Imigrante da Capital. Começava aí a trajetória da família no novo País.

O aposentado acreditava que o bisavô havia pedido, depois de certo tempo, para os outros parentes também virem para o Brasil. Mas, a convite do Diário, Joel pesquisou no portal da imigração e descobriu uma nova e importante informação que derrubou a sua tese de vários anos.

CARTA REVELADORA
Ao ler a carta em que seu avô Vitorio Maziero recebe uma gleba de terra do governo do Império no dia 21 de janeiro de 1887, os seus olhos brilharam e a sua voz mudou de tom. As sobrinhas Cilene, 27, Beatriz, 32 e Luciane, 36 e o irmão Wilson, 74, também ficaram eufóricos com a nova descoberta. "Não tinha esse detalhe. Então, agora muda tudo, meu avô veio primeiro e na sequência chamou o restante da família, incluindo o meu bisavô", comenta.

Os Maziero se instalaram em um Núcleo Colonial em Ribeirão Pires, onde é atualmente o bairro Santo Bertoldo. Todos os filhos trabalharam nas plantações de vários tipos de legumes, verduras e frutas. Depois, os Maziero mudaram de ramo, passaram trabalhar em olaria ou carpintaria.

Joel não lembra a data certa em que começou a fuçar no baú da memória do pai e dos familiares mais velhos e de diversos locais, como cartórios e igrejas de várias cidades do Estado de São Paulo e italianas. "De 30 a 40 anos que eu faço isso. É um prazer e um sofrimento ir atrás dessas informações", disse o aposentado. (Willian Novaes)

‘Cinturões verdes' foram formados no século 19

Os núcleos coloniais foram criados por ordem do Império no século 19. Em 1877 começaram a funcionar os de São Bernardo e São Caetano e em 1887, o de Ribeirão Pires. A proposta do governo era formar um ‘cinturão verde' para abastecer a Província de São Paulo. Nessas fazendas eram produzidos diversos tipos de alimentos, mas os mais comuns eram milho, uva, mandioca, feijão e batata.

O pagamento das passagens e das terras subsidiadas foi a forma que o governo utilizou para atrair os imigrantes. Os núcleos foram instalados em várias outras cidades do estado de São Paulo, durante a mesma época.

Segundo um relatório da Agência de Colonização e Trabalho de 1907, entre o fim do século 19 e o começo do século 20, chegaram nos três núcleos do Grande ABC 403 famílias que totalizavam 2.102 pessoas (1.137 homens e 965 mulheres).

Segundo José Amilton de Souza, coordenador e professor do curso de História da Fundação Santo André, esses imigrantes não foram privilegiados e sofreram com o trabalho e com as cobranças.

"Com o endividamento, sobrava muito pouco para a família, que na maioria das vezes era muito grande. Eles também tinham uma vida muito difícil nos países de origem, principalmente na Itália e traziam o sonho de ‘fazer a América' e muitas vezes isso não acontecia", conta Souza.

REFERÊNCIA
O Núcleo de São Bernardo era uma referência na época. Uma das suas produções mais expressiva foi no ano de 1887, conforme informa Wanderley dos Santos, no livro Antecedentes Históricos do ABC Paulista de 1550 a 1892. As fazendas juntas produziram 3.678 litros (medida da época) de milho, 146.147 pés de videira, 846 litros de feijão, 583 litros de batata, 61 mil pés de mandioca, 307 pés de árvores frutíferas, 108 pés de cana, 961 pipas de vinho, 244 litros de farinha e duas pipas de aguardente. (Willian Novaes)




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