A restrição ao tráfego de caminhões nas regiões centrais, que Diadema deu início ontem e outras administrações do Grande ABC ensaiam colocar em prática, é vista com bons olhos por especialistas em trânsito, mas recebe críticas de entidades que representam os caminhoneiros.
A própria relação entre carros, motocicletas, ônibus e veículos pesados, em busca de tempo e espaço em ruas e avenidas, já funciona como justificativa.
A intenção de medidas que limitam a movimentação parte sempre do pressuposto de "disciplinar o trânsito", na avaliação do superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Marcos Bicalho.
"O trânsito é uma relação de conflito. A prefeitura precisa organizar esse conflito e o estabelecimento de restrições e horários para o tráfego é razoável", afirmou.
O professor de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Heitor Kawano alerta que se a determinação não for precedida de estudos técnicos, pode trazer dificuldades.
"Não basta um município diminuir isoladamente seu problema, é preciso pensar no espaço regional, para se encontrar medidas conjuntas e para que essas soluções não melhorem uma cidade e prejudiquem a vizinha."
Entre os efeitos colaterais de medidas restritivas estão a necessidade de se oferecer rotas alternativas para os caminhões e a imposição do serviço de entregas por veículos pesados encontrarem outras formas de logística.
CONTRAPARTIDA
São em aspectos como estes que o presidente do Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo), Norival de Almeida Silva, sustenta suas críticas ao modelo.
Segundo o representante da categoria, não existe organização que suporte o serviço de entregas nas cidades sem que existam vias que possam ser utilizadas em substituição: "Aí nem é mais fazer logística, é milagre."
Outra reivindicação é a criação de áreas de transbordo, onde veículos maiores pudessem descarregar as mercadorias, que seriam então distribuídas para os VUCs (Veículos Urbanos de Carga), que são menores e têm tráfego liberado.
Política da Capital influencia a região
A adoção de medidas para limitar o tráfego de caminhões nas vias do Grande ABC está espelhada na Prefeitura de São Paulo, que expandiu a política de restrição aos veículos pesados no segundo semestre do ano passado.
"É um reflexo do que acontece em São Paulo, que tem trânsito mais pesado e que já extravasou para as cidades vizinhas", concluiu o professor de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI Heitor Kawano.
A regra que restringe o trânsito de caminhões em Diadema começou vigorar ontem em 11 vias da região central, como as ruas São Judas Tadeu e Izaurino Lopes da Silva e as avenidas São José e Nossa Senhora das Vitórias.
O motorista que descumprir a medida será advertido com multa. A proibição vale
de segunda a sexta-feira, das 6h às 20h, e aos sábados, das 6h às 14h.
Além de Diadema, São Caetano tem norma de trânsito que restringe caminhões. Em São Bernardo e Mauá, a proposta é estudada.
Independentemente do ponto de vista, especialistas em trânsito e o Sindicam-SP concordam que a valorização do transporte público deve estar em primeiro lugar quando se estuda maneira de tornar o trânsito mais eficaz e menos caótico.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.