O trabalho é baseado na commedia dell’arte, com personagens e máscaras típicos. Desconfiada da morte do pai, Clarisse (Lígia Oliveira), a rica noiva do rico Florindo (Valdecir Nery), decide investigar. Inventa, então, uma viagem e volta disfarçada de pobre. Desconhecendo o plano dela, Florindo faz o mesmo.

Arlequino (Firmino), servo dele, e Ragonda (Denise Guilherme), serva dela, tomam os lugares dos patrões. Ragonda simula ser duquesa em busca de marido rico, e Arlequino, um comerciante de um pó mágico do amor. O título da peça brinca com produtos de eficácia duvidosa vendidos pela TV, como “pomadas que deixam os seios duros”, afirma o diretor.

A duquesa atrai Pantalone (Carlos Biaggioli), Doutore (Antonio Correia Neto) e Capitão (Célia Borges), que se fazem de ricos. Os disfarces, porém, caem sucessivamente e elucida-se o mistério da morte do pai.

O Pó procura a zona comum entre a commedia dell’arte e a cultura popular brasileira. Os personagens são “abrasileirados”, diz Firmino: “Arlequino, por exemplo, é uma figura nordestina. As coisas arquetípicas existem em todos os lugares”.

“A commedia dell’arte floresceu na Itália dos séculos XIV e XV, em feiras livres, na rua. A praça da Sé hoje parece uma feira medieval, vendem-se desde celulares roubados até cachaça com cobra dentro e elixires. A aproximação entre esses universos está no poder de improvisação de ambulantes e de artistas nômades, no coco, na embolada e no repente nordestinos”, afirma.