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Faltam políticas regionais para a juventude na região
Fabrício Calado Moreira
Do Diário do Grande ABC
03/04/2005 | 20:36
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As políticas voltadas para a juventude no Grande ABC restringem-se a ações localizadas. Em linhas gerais, há nas sete cidades propostas variadas e sem apoio dos governos estadual e federal. Além disso, ainda são inócuas as iniciativas por parte do poder público em inserir o jovem na política.

Levantamento feito pelo Diário junto aos presidentes das Câmaras nas sete cidades mostra que todos os municípios têm ações na área da juventude. Entretanto, a maioria dos dirigentes das casas legislativas admite que o jovem ficou escanteado no terreno das políticas públicas.

"A verdade é que as políticas públicas para jovens estão acabadas", crava o presidente da Câmara de Mauá, Carlos Polisel (PSDB). Para o tucano, é preciso dar mais atenção a esse segmento da sociedade. "Não temos evento cultural na cidade, o teatro ficou restrito a peças. (Seria bom) Uma feira de cultura ou algo assim", sugere.

"O jovem está esquecido. Muitas coisas são feitas na cidade, mas poucas são voltadas para eles", declara o presidente da Câmara de Santo André, Luis Zacarias (PL). Para o liberal, a escassez de políticas públicas para a juventude reflete até na auto-estima. "O jovem fica deprimido por não poder ajudar a família", afirma.

A Câmara de Vereadores também tem papel importante - assim como parcela de culpa - no desenvolvimento (ou falta dele) de políticas voltadas à juventude. "O prefeito sozinho não faz nada, mas a Câmara não pode ter programa específico para isso", argumenta o presidente da Câmara de São Bernardo, Laurentino Hilário (PSDB).

"Particularmente, os jovens buscam conosco participação no Orçamento municipal para concessão de bolsas-estudo", afirma o presidente da Câmara de São Caetano, Paulo Bottura (PTB). O parlamentar conta que a previsão orçamentária de 2006 incluirá percentual para bolsas. "O Executivo ainda precisa calcular impacto financeiro, mas está sendo estudado", garante.

Na maioria das prefeituras das sete cidades, o foco das políticas públicas é o mercado de trabalho. Santo André e Ribeirão Pires têm programas destinados a ajudar adolescentes a conseguir o primeiro emprego. São Caetano tem o bolsa-estágio. "Por ser o futuro, o jovem tem prioridade", declara o presidente da Câmara de Ribeirão, Saulo Benevides (PTB).

"São os futuros políticos, e isso é importante para nossa sociedade", declara Marquinho Ernandez (PT), presidente da Câmara de Diadema.

Desinteresse - Aliado ao fato de que não há uma política regional para a juventude, está também a constatação, pelos próprios presidentes da Câmara, de que o jovem anda afastado da política. "Não sei se falta trabalho nas escolas explicando o funcionamento da Câmara ou se seria falta de interesse deles", diz o vereador Roberto de Paula Breyer, o Betinho (PSDB), presidente da Câmara de Rio Grande da Serra.

O presidente da Câmara de Mauá, Carlos Polisel, aponta como destaque da política para jovens da Casa o fato de professoras levarem alunos para acompanhar as sessões do Legislativo. "Os professores ensinam mais e jovens participam mais", acredita. Polisel revela que está em estudo a ampliação do plenário para comportar mais alunos.

Participação ativa - O advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Editorial do Diário, afirma que mais que acompanhar, o jovem quer ser tratado como protagonista pelo poder público, em vez de mero espectador. "Ele precisa ter espaço para falar e intervir, e não só assistir sessões. Isso não é nenhum atrativo", acredita.

O advogado, que é coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo e desenvolve trabalhos com jovens com problemas com a lei e em situação de rua, reconhece que falta interesse do jovem pela política, mas argumenta que falta representatividade. "Até existem alguns parlamentares jovens, mas eles não representam a juventude. Mesmo esses parlamentares acabam tendo ações gerais e não priorizam ações efetivas na área da juventude", avalia.

Para Ariel, a organização e engajamento político que antes existia deu hoje lugar ao individualismo. "Cada um pensando na sua trajetória pessoal e acaba não pensando no coletivo." O advogado cita como exemplos o período de resistência à ditadura militar e a mobilização pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, quando a juventude já foi melhor organizada. "Hoje, não existe essa união dos jovens", critica.

Para combater a alienação, seria preciso mudar o rol de atividades desenvolvido hoje nas Câmaras e pelas prefeituras para despertar o interesse dos adolescentes pela política, acredita Ariel. "Os jovens também estão cansados dessa política tradicional", aponta. "As Câmaras, que deveriam ser espaços de discussão política para juventude ou outros segmentos, deram espaço a pessoas necessitadas em busca de favores, na maioria das vezes", ataca.

Nesta segunda, o advogado participa de simpósio nacional sobre políticas públicas para jovens promovido pela Secretaria Nacional de Juventude do PT. Basicamente, o objetivo do evento é refletir sobre a existência de programas e espaços nos governos petistas, mas haverá também debates sobre a construção de propostas de políticas juvenis no país.




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