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Grupos de dança no Grande ABC enfrentam dificuldades
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
22/06/2004 | 18:36
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“A dança tem um problema histórico. Quase sempre é colocada no contexto maior das artes cênicas, que incluem também teatro, ópera e mímica. Isso gera fortes discrepâncias. A dança não é mais nem menos importante que o teatro: ela é diferente, tem outras necessidades. Por mais que haja projetos específicos, o senso comum encara a dança como apêndice do teatro”, afirma a coordenadora de Dança de Ribeirão Pires, Solange Borelli.

Solange é uma das pontas-de-lança, e não somente do Grande ABC, quando se trata de levantar opções para o desenvolvimento da dança enquanto linguagem artística e instrumento de ação social. Outro ponto que inflama a discussão é a intersecção entre as motivações do poder público e as da iniciativa privada.

“Normalmente (nas academias particulares) se pensa em produções para palco italiano (convencional), o que gera demanda por pauta em teatros. Isso é legítimo, mas falta o debate sobre o ‘fazer a dança’”, diz Solange. É preciso, portanto, refletir sobre o que se produz.

E ela prossegue: “A discussão é mais séria. É sobre quem somos, sobre o que representamos para a sociedade. Não se pode refletir só sobre o que é imediato e pessoal. A arte se descaracteriza sob o sentido utilitário: ela tem de cumprir a função de propiciar posicionamentos críticos”.

Luis Ferron, coordenador da ELD (Escola Livre de Dança), mantida pela Prefeitura de Santo André, concorda. “Em termos artísticos, em função do pragmatismo, o mercado está mais preocupado com festivais amadores, mas há um diálogo entre o público e o privado”, afirma.

“Quanto à formação (pedagógica), porém, não há diálogo. São duas formas de pensamento, embora haja exceções entre as academias”, diz. Ele se refere ao conteúdo dos cursos, no caso da ELD visto como ação sócio-cultural, de formação do artista-cidadão.

Atenções divididas – Solange aponta outro aspecto que emperra o crescimento da dança no Grande ABC: o pequeno intercâmbio entre gestores culturais das sete cidades. E faz o mea-culpa: “Pouco conversamos”. Por conta disso, surgem eventos simultâneos, como as mostras de dança em Mauá e Ribeirão Pires que começam em 1º de julho. Atenções divididas, repercussão menor.

Além disso, há o problema da formação de público, uma vez que, sem ele, a arte perde qualquer propósito. A solução, segundo ela, seria o diálogo entre gestores, produtores e criadores sobre as questões estética e política.

Para Ferron, é preciso militância para mudar o panorama, que ele considera “nem bom nem ruim”. “Falta a conscientização de que a dança necessita da coletividade para se legitimar como linguagem independente, desatrelada das artes cênicas, e até mesmo como profissão”, afirma.

Ana Bottosso, diretora da Cia. de Danças de Diadema, que estréia coreografia de Luiz Arrieta este ano, cobra encontros mais freqüentes que ajudem a aglutinar a classe da dança na região: “Falta união”.




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