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Cia. de Diadema ensaia novo balé
Mônica Santos
Da Redaçao
15/04/2000 | 15:48
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Os passos parecem incertos, mas os ensaios que acontecem há cerca de dois meses em uma sala anexa ao Teatro Clara Nunes sao o esqueleto da próxima coreografia da Cia. de Danças de Diadema. Como de costume, a estréia deve acontecer em maio, em alguma unidade do Sesc no interior de Sao Paulo, e, depois, no mês de junho, o espetáculo será apresentado à cidade.

Após explorar à exaustao os ritmos nordestinos - especialmente em Trêsmaisum - e de aprofundar as pesquisas em torno do gestual do homem brasileiro em seu último trabalho, Arte e Raiz, os bailarinos dirigidos por Ivonice Satie estao tendo contato com novas linguagens, como o rap e a poesia falada.

A idéia é dos coreógrafos Ricardo Iazzetta e Sérgio Rocha, ambos da Cia. 3 de Paus, de Sao Paulo, que foram convidados por Ivonice para criar o novo trabalho da companhia. "Eu fiquei encantada com o espetáculo Adoniran, que eles coreografaram e dançaram. Eles concebem a dança como um veículo de comunicaçao e nao como um meio de demonstraçao. Além disso, têm diferentes freqüências emocionais, que vao da visceralidade ao humor. Isto tem muito a ver com a nossa proposta de trabalho", conta a diretora.

Ao receber o convite, Iazzetta e Rocha apresentaram uma pesquisa que já estavam desenvolvendo há algum tempo, baseada em vários ritmos, especialmente o xote e o rap. O primeiro trabalha mais com a poesia e o movimento. Já o segundo, apesar de também ser bailarino, é extremamente musical e um empenhado percussionista. "Abraçamos a idéia na hora. Gostamos da possibilidade de explorar a arte cênica urbana, mas sob a liguagem contemporânea", diz Ivonice.

Poesia urbana - Por enquanto, o trabalho da Cia. de Danças de Diadema está em fase embrionária. Iazzetta e Rocha estao ensaiando partes separadas com os bailarinos que, posteriormente, serao unidas e amarradas por movimentos coreográficos para formar o espetáculo. A idéia, porém, já está definida.

"Vamos tratar da paisagem urbana, especialmente das pessoas que vêm de fora para viver em Sao Paulo. Elas carregam no coraçao a sua terra e seus filhos estao nas ruas, desamparados", explica Iazzetta. Nao por acaso, ele defende que a frase "Eu tiro um cactus do meio da rua", seja anexada ao provável nome do trabalho, Rapxote. "Este cactus pode ser a criança no meio do asfalto da cidade, cena que todos conhecemos", diz.

Apesar da forte contextualizaçao social, os primeiros esboços da coreografia mostram que ela será extremamente poética, a começar pela influência de Iazzetta, que nao descarta a possibilidade de alguns bailarinos usarem a palavra para enfatizar esta característica. A poesia também virá da trilha sonora, que é cerca de 90% inédita, com composiçoes dos coreógrafos e de membros da Banda Caboclada, um grupo da zona norte paulistana que explora diferentes ritmos musicais urbanos, com referências pernambucanas.

Outra fonte de pesquisa para os bailarinos será a visita à Casa do Hip Hop de Diadema, que será feita com os coreógrafos e com a diretora da companhia na próxima semana. "Isto nao significa que vamos nos transformar em um grupo de dança de rua. Queremos apenas observar a maneira como estas pessoas falam, quais sao os seus símbolos, os seus trejeitos. Esse material será inserido na coreografia, em uma versao totalmente contemporânea", completa Ivonice.




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