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Heckman defende liberalizaçao de leis trabalhistas
Do Diário do Grande ABC
11/10/2000 | 17:01
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"Estou feliz em ser o primeiro Nobel da Economia a saber da premiaçao no Brasil, onde há brilhantes colegas e instituiçoes como o IPEA, o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas".

O americano James Heckman, escolhido nesta quarta-feira para o Nobel da Economia junto com o compatriota Daniel McFadden, recebeu a notícia da premiaçao no Rio de Janeiro, onde participa do seminário Desigualdade e Pobreza, no qual defende a liberalizaçao da legislaçao trabalhista. "Feliz e honrado" pelo reconhecimento, Heckman aproveitou a ocasiao para defender as idéias que o levaram ao Nobel. "Quanto menos regulamentaçao, mais postos de trabalho aparecem. A tendência pode ser claramente analisada em numerosos países que reduziram suas normas e aumentaram o nível de emprego", declarou Heckman depois do seminário.

O prêmio Nobel citou vários exemplos desta teoria: o caso da Europa, onde a severa legislaçao trabalhista faz com que aumente os salários dos que estao no mercado formal enquanto piora a situaçao dos desempregados; ou da Colômbia, onde a liberalizaçao das regras trabalhistas fez com que muitas empresas passassem para a economia formal, contribuindo para fazer aumentar o número de empregados legalizados.

"O caso do Peru, onde a política de Alberto Fujimori fez com que o país balançasse como um barco, demonstrou que quando o presidente aliviava as leis trabalhistas, o nível de emprego aumentava enquanto que quando fortalecia a legislaçao, subiam os índices de desemprego", acrescentou Heckman.

Para o prêmio Nobel, os programas de treinamento, os subsídios ou as concessoes de estágio sao alguns dos incentivos que os governos devem utilizar para que seus cidadaos participem ativamente da nova economia.

Heckman, que se destacou no mundo acadêmico por desenvolver modelos econométricos de análise do mercado de trabalho, acha que "é preciso olhar os cidadaos como a um todo: fazer com que os benefícios cheguem ao maior número de pessoas possível e nao apenas aos que estejam por cima, fazendo constar depois nas estatísticas, que a situaçao melhorou", explicou o economista.

Heckman, 56 anos, contou que, nesta quarta pela manha, quando lhe telefonaram para o hotel em que está hospedado no Rio de Janeiro para informá-lo da premiaçao, pensou que fosse brincadeira. "Havíamos brincado com os colegas toda a semana, dizendo a eles que estavam sendo chamados pela Academia e por isso nao acreditei num primeiro momento", explicou, dizendo que está satisfeito porque é o "resultado de um trabalho honesto, pelo qual alguém se interessou verdadeiramente".

Para o americano, sua escolha e a do compatriota Daniel McFadden nao significa que exista uma nova tendência de premiar economistas com preocupaçao social. "Creio que há muitos estudiosos centrados em problemas sociais, no entanto, existem diversas formas de trabalhar: há economistas que se dedicam à pura teoria, enquanto que outros, entre os quais me incluo sempre, encaram seu trabalho com mais pragmatismo", acrescentou.

Nascido em Chicago em 1944, Heckman se doutorou em Economia na Universidade de Princenton em 1971 e iniciou a carreira acadêmica nas universidades de Columbia e Yale.

Atualmente dá aulas na Universidade de Chicago, onde é professor de Economia desde 1973, ocupando também o cargo de diretor de avaliaçao de programas sociais da Harris School, na mesma universidade. Heckman foi professor do economista Ricardo Paes de Barros, atual diretor de Estudos Sociais do IPEA. Durante o seminário Pobreza e Desigualdade, na Fundaçao Getúlio Vargas, mostrou-se informado sobre o Brasil. Disse que a globalizaçao tem efeitos perversos em curto prazo, porque exclui do mercado de trabalho os mais velhos e os menos qualificados. Mas, em longo prazo - na opiniao dele - resulta numa populaçao jovem mais bem preparada.

O economista deve ficar no Rio mais dois dias para participar do Encontro de Economistas da América Latina e do Caribe, que começa amanha no Hotel Sheraton.




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