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Movimento Negro cobra políticas públicas

Criador de grupo pela igualdade em
1972 defende expansão da cultura afro

Nelson Donato
especial para o Diário
20/11/2016 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


Militantes do Movimento Negro seguem na luta pela igualdade racial. Hoje, data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, os afrodescendentes aproveitam para reconhecer as conquistas e os embates vividos pelos seus ancestrais, além de destacar que há muito o que conquistar. Apesar de o Brasil ser conhecido por sua miscigenação, o País ainda não conta com políticas públicas eficazes relacionadas ao tema.

A origem dessa batalha pela igualdade data da década de 1960, período em que figuras importantes como Martin Luther King, nos Estados Unidos, e Nelson Mandela, na África do Sul, desafiaram os regimes de segregação impostos pelos governos e sociedades da época. No Grande ABC, o primeiro expoente da luta pela igualdade aconteceu em 1972, em Santo André, quando foi fundado o Movimento Negro andreense.

Neste ano, a sombra do regime militar afugentava as pessoas das ruas. Por conta da instabilidade política, os generais que assumiram o poder proibiram a população de expressar sua opinião. Foi nesse cenário que o maestro João de Campos e o compositor Irineu de Barros Siqueira iniciaram a luta pelos direitos dos negros. “Era difícil, principalmente na Capital, quando a polícia nos impedia até de conversar pelas esquinas”, conta Campos, 75 anos.

Por conta das dificuldades de organização e devido à repressão, cada ação dos manifestantes precisava ser bem planejada, de modo que não causasse impressões negativas àqueles que detinham o poder. “Em 1976, a polícia matou um jovem negro. Nós reunimos o pessoal do movimento, fomos juntos até o Centro de São Paulo. Foi tudo pacífico, mesmo assim ficamos com medo”, relembra o maestro.

Para trazer mais visibilidade ao movimento no Grande ABC, Campos e Siqueira decidiram entrar na política. “Me filiei ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro, hoje PMDB) e o Irineu ao PDT (Partido Democrático Trabalhista), isso por volta de 1973. Nós conseguimos criar diretórios dentro dos partidos com foco nas políticas de igualdade racial. Tínhamos receio, pois muitos parlamentares nos usavam como escada nas épocas de eleição e depois nos descartavam. Não sabíamos em quem podíamos confiar.”

Em 1981, o movimento sofreu duro golpe. Siqueira, então com 31 anos, faleceu repentinamente. Sem o amigo, Campos conta que o grupo sofreu rupturas. “Quando o Irineu morreu, chegaram novas lideranças e, infelizmente, isso causou certas separações ideológicas. Algumas pessoas só pensam em si e não no movimento como um todo”, lamenta. Para homenagear o companheiro e fundador do movimento, o maestro destaca o empenho para nomear via no bairro Santa Teresinha, em Santo André, como Rua Irineu de Barros Siqueira. “Por volta de 1982, conseguimos mudar o nome da rua em que o Irineu morou a vida toda.”

Depois de mais de quatro décadas de luta, o maestro, como gosta de ser chamado, afirma que seu sonho é fazer com que os afrodescendentes da região conheçam suas origens. “Infelizmente, os jovens não têm nosso espírito de luta. Parece que eles se esqueceram dos nossos ideais. Não queremos cotas. O que precisamos é que seja tudo igual. Sempre me pergunto os motivos por não termos muitos negros na política. Precisamos conquistar mais espaço.”

Outra luta de Campos é expandir a cultura negra. “Na minha opinião, deveriam criar subsecretarias para avaliar essa questão. Precisamos expor todas as maravilhas que os costumes africanos possuem, não podemos deixar isso se perder”, considera o maestro.
Atualmente, nenhuma das sete prefeituras mantêm secretaria específica para debater o tema. 




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