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Animação vence o frio em Paranapiacaba
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
18/07/2004 | 21:48
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O relógio da Vila Ferroviária marcava 23h, no sábado, quando um dos organizadores do 4º Festival de Inverno de Paranapiacaba recebeu o comunicado pelo rádio: “está chegando mais um ônibus com 40 pessoas”. Essas, provavelmente, foram as últimas das 8 mil que visitaram o evento no último sábado. Houve também quem desistiu no meio do caminho, diante da serração na estrada, entre eles o músico Nando Reis, que deu meia volta e não fez sua participação no show de Andreas Kisser, ocorrido no Viradouro.

Com capas de chuva no corpo, bebida quente nas mãos (de chá de amendoim a vinho quente) e coragem, o público do festival começou a mostrar as caras a partir das 17h. Nesse horário, a temperatura girava em torno de 10 graus – a informação é da assessoria de imprensa do evento, infelizmente ainda não há um termômetro nas ruas para matar a curiosidade dos freqüentadores.

A manhã do sábado foi praticamente anulada pela chuva insistente. Quem estava na Vila preferiu se entocar em uma das casas de souvenires e gastronomia. Os aromas quentes saíam pelas janelas e atraíam os famintos.

No início da tarde, na Praça do Mercado, a boa voz e o samba de Eurides Macedo conseguiram a proeza de acumular em frente ao palco umas dezenas de guarda-chuvas. O frio desafiava os músicos, alterando as afinações dos instrumentos, e enrijecia os músculos da platéia, que pouco se arriscava a se balançar.

O Galpão das Oficinas e o Antigo Mercado foram dois dos espaços que abrigaram o público à tarde. Projetos que contam com apoio da ONG Ecoar promovem diversas atividades no Antigo Mercado. “Começamos a investir em produtos com valor agregado”, disse a fotógrafa Wal Volk, apontando um dos vasos feitos no Núcleo Comunitário de Cerâmica, que atua em Paranapiacaba com objetivos de geração de renda para os moradores. No mesmo lugar, o grupo musical Toadas a Trovadas, de Ribeirão Pires, mostra o resultado de sua pesquisa sobre a música brasileira.

No palco do Viradouro, com cobertura também para uma boa parte da platéia, o projeto Canja com Canja segurou o público mais jovem. Músicos da região fizeram seu barulho, capaz de ser ouvido a uns bons metros de distância.

Por volta das 17h, a circulação de pessoas passou a ficar mais intensa. Às 18h, os visitantes passaram a se concentrar em frente ao Clube União Lyra Serrano, à espera da apresentação da Orquestra Sinfônica de Santo André acompanhada de Oswaldinho do Acordeon. O atraso de cerca de 40 minutos não incomodou ninguém, e quem aguardou não se arrependeu.

O conjunto regido pelo maestro Flavio Florence tocou Carlos Gomes, Dvorák e Giuseppe Verdi e, só então, Oswaldinho entrou em cena, às 19h10. “Isso não é hora de tocar, não. É hora de comer fondue”, brincou o instrumentista carioca. O bom-humor e a boa música seguiram até o fim do show.

Nando Reis cantaria as duas primeiras músicas com a banda de Andreas Kisser, no Viradouro, e iria embora para um outro show em São Paulo. Conforme a explicação dada pela empresária de Andreas, Sarah Reichdan, o ex-Titã “por opção própria, desistiu por causa da serração, pois não daria para chegar a tempo em seu outro compromisso”. “O Nando pediu para emitir desculpas”, disse Sarah.

Andreas Kisser, Vasco Faé, Sílvio Alemão e turma aqueceram as cerca de 800 pessoas – número fornecido pela Polícia Militar – com um repertório calcado na tríade Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath. O guitarrista do Sepultura subiu ao palco com a camisa branca do time do São Paulo, mas quase no final vestiu a azul do Santo André, gritando: “terror do Brasil!”.

Foram mais de duas horas de espetáculo, em clima de som de garagem. Às 22h22, os últimos trinados de guitarra soavam quando as luzes se apagaram definitivamente, e do palco veio a despedida: “Fiquem com Deus. Paz na Terra”.

As horas derradeiras do sábado dividiram o público entre os que iam e os que ficavam. Comboios organizados pelos responsáveis pelo trânsito acompanhavam a primeira turma.

Quem permaneceu pôde curtir uma madrugada agradável (considerando o frio indispensável de um Festival de Inverno). No Empório Brasil, a bluseira e roqueira Dora Fiore e o guitarrista Marcelo de Oliveira seguraram o público até altas horas.

Uma dupla de amigos que chegou no último ônibus para Paranapiacaba contava sua empreitada. “Saímos de um churrasco em São Caetano e viemos para cá”, falou um deles, confessando que ainda não tinha um lugar para passar a noite.

A notícia que corria é que as pousadas estavam todas lotadas. A reportagem do Diário ficou hospedada no Hospitao Milenar, que há anos foi o hospital da Vila Ferroviária e que teria sido, segundo a lenda, a última moradia do inglês conhecido como Jack O Estripador.

O próximo fim de semana é o último desta edição do festival. O guitarrista norte-americano Stanley Jordan é o grande nome para o encerramento. Torcendo para que a meta de 80 mil visitantes seja cumprida, os organizadores não tiram os olhos das previsões do tempo. E as expectativas são das melhores.




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