Cotidiano Titulo
Com a palavra a juventude

O pronunciamento da adolescente deixou, pois, arrepiado este cronista, que aprecia como ninguém sábias palavras proferidas por quem quer que seja

Yara Ferraz
03/11/2016 | 07:07
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“Pensei que já tivesse visto de tudo nesta vida”, bordão que acompanha o povo daqui e de outros cantos mundo afora, e serve para dizer daquilo que causa surpresa e – por que não? – estarrecimento. Entretanto, uma vez dentro da internet, um riquíssimo universo de palavras e imagens se abre e se apressa em envolver-me na magia da informação, o que, por vezes, principia mexer-me também com as emoções, por causa do espanto. E foi justamente num passeio destes que deparei com um filme que tem como protagonista uma menina, aluna do nosso rico Ensino Médio, que decidira que era momento de se fazer ouvir na Assembleia Legislativa do seu Estado. Ela, que representa a comunidade estudantil e também o povo cego que faz do silêncio a sua bengala, armou-se de muita coragem e meteu-se na boca do leão para levar o seu recado. Imagine!

O pronunciamento da adolescente deixou, pois, arrepiado este cronista, que aprecia como ninguém sábias palavras proferidas por quem quer que seja. Se por pessoa de tenra idade, então, parecem ainda dotadas de mais importância e força, uma vez que partem de boca que não atingira, aos olhos dos mais velhos, maturidade suficiente para tamanha ousadia. Mas que ousa e, volta e meia, surpreende.

Provou, pois, a jovem que sabia do que falava, uma vez que, com muita propriedade, esteve no labirinto e irritou o Minotauro com o seu discurso e com a verdade que jamais fizera parte da cartilha daquele. Disse-lhe, a estudante, que as escolas foram tomadas pelos alunos que não admitem aceitar de cabeça baixa as medidas governamentais que estão sendo aprovadas na tal da PEC e enfiadas goela abaixo numa sociedade sofrida, cuja esperança se esvai ralo abaixo, a cada dia.

Muito justa a atitude da aluna se considerarmos que se o estudante impetuoso não alçar longe a sua voz, o povão, coitado, que anda rouco de tanto reclamar e de tanto resmungar, este por certo continuará de cabeça baixa rumo ao chuveiro. Não sabe, o pobre, que protestar de braços cruzados é vã atitude que só fomenta o negócio do parasita. O mesmo que leva esse mesmo pobre, por meio de propaganda massificante, a elegê-lo ou à sua legenda. Afinal, cérebro desinformado tende sempre a se submeter ao poder, em qualquer lugar, em qualquer tempo.

Orgulha-me, pois, ver a juventude se manifestar assim, imbuída do desejo de ver a tão sonhada mudança dar novo rumo para esta terra maravilhosa, há séculos espoliada por aqueles que fazem uso de toda a sua riqueza para engordar os seus porcos e, assim, garantir luxo e ostentação para si, para familiares e para gerações e gerações de descendentes que, além de tanta riqueza, ainda herdarão os postos de comando deixados pelos mais velhos.

E a menina, simples mortal que deixou o seio da população, se enfiou com a cara e a coragem no bunker estadual, ciente de que estava no lugar certo, uma vez que, se existisse uma pessoa a quem recorrer e quem estivesse disposta a dar ouvidos ao seu clamor, haveria de encontrá-la ali.

E tanto falou a jovem, e tanto expôs suas mágoas e seus anseios, utilizando de forma clara e concisa o seu idioma, que levantou aplausos dos presentes e dos que a ouviram depois.

Claro que, em dado momento, como não podia deixar de ser, se viu, a garota, numa saia justa que faria titubear qualquer perito em ciência política. E agora o que fazer? Como argumentar com raposa há séculos no poder? Todavia, mesmo surpreendida no contrapé, armou-se de argumentos incontestáveis, a menina, para dizer à Assembleia e à sua excelência que o Estado também é responsável pela educação de seu povo.

Fez calar, assim, o interlocutor. Garota de fibra!

Resta agora a esta imensa e inerte população tomar como exemplo os brios daquela pessoa no limiar do seu tempo, e descruzar os braços. 




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