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Em nome da nostalgia
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
07/06/2011 | 07:08
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Ao mesmo tempo em que os remakes parecem ser mera repetição do que foi ao ar no passado, essas tramas têm conseguido levantar a audiência, mais até do que novas propostas. Para os autores, é gostosa a sensação de rever algo que fez sucesso numa determinada geração, mas também é preciso alinhar a história à contemporaneidade.

O Diário entrevistou Alcides Nogueira, Maria Adelaide Amaral e Silvio de Abreu para entender suas percepções sobre a produção desses remakes, e segredos que cada um tem na manga para refazer essas tramas de maneira bem-sucedida e até com certa dose de originalidade.

Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro estão com o desafio de dar ares contemporâneos a  'O Astro', sucesso de 1970, escrito por Janete Clair. O folhetim será exibido a partir de julho em formato de macrossérie, com 60 capítulos. A versão original teve 180, "Isso nos obriga a uma compressão, o que pode ser bacana e deixa tudo ágil", conclui Nogueira.

Sem se preocupar em ambientar a trama em uma época, Nogueira centra fogo no resgate de algumas passagens marcantes do enredo, como por exemplo a morte de Salomão Hayala, que, em 1970, foi vivido por Dionísio Azevedo, e agora está nas mãos de Daniel Filho, que fez parte da equipe do diretor original, Gonzaga Blota.

"Várias pessoas têm interesse na morte de Salomão por motivos diferentes, como humilhação, brigas e enfrentamentos. Mas o nome da pessoa que realmente o mata será mantido em segredo", diz Nogueira, confirmando que vai manter o recurso do "quem matou?", utilizado à exaustão até hoje.

O autor salienta que dará nova leitura à obra de Janete Clair. "É sempre um desafio, pois a novela foi um grande sucesso e ela era magistral em montar as tramas. Queremos resgatar a força das situações", complementa o autor.

GUERRA DOS SEXOS
Silvio de Abreu é outro autor que começa a arquitetar o enredo de remake de uma de suas história de mais sucesso, 'Guerra dos Sexos'. Seus motivos para ressuscitar a história? "É uma ótima novela, com tramas interessantes e com personagens carismáticos. Vai fazer 30 anos em 2013 que a primeira versão foi ao ar e existe toda uma geração que ouviu falar dela, mas não assistiu", justifica Abreu.

O autor está em uma posição bastante confortável se comparado aos colegas que lidam com essas produções que bebem do passado. Ele argumenta que sua novela não será bem um remake. "Vai ser reescrita, alguns personagens serão acrescentados e outros, suprimidos. Pensando bem, acho que será até mais difícil, sem contar com as inevitáveis comparações, que fatalmente irão acontecer para exaltar a primeira versão em detrimento da segunda", pontua.

Abreu diz que as reedições não representam uma tendência recente na televisão. Nessa lista, lembra das repaginadas 'Pecado Capital', 'Irmãos Coragem', 'Sinhá Moça' e 'Paraíso', exibidas a partir dos anos 1990. "A autora Ivani Ribeiro só escreveu uma trama original, 'Final Feliz'. Todos seus outros grandes sucessos, como 'Mulheres de Areia', 'A Viagem', 'Hipertensão', 'Amor com Amor se Paga', 'A Gata Comeu' e 'Sexo dos Anjos' eram remakes de suas antigas novelas", relembra.

SABER RECICLAR
Recriar, utilizando aquilo que é imperdível no original. Essa é a base que a escritora Maria Adelaide Amaral considera fundamental para obter bons resultados em trabalhar em uma história já contada. Entre 2010 e 2011, ela se dedicou à nova versão de 'Ti-Ti-Ti', um dos grandes destaques da televisão nesse período. "Exemplo bom foi com a disputa entre Ari/Valentim (Murilo Benício) e André/Jacques Leclair (Alexandre Borges). Foi criada na época (1985) por Cassiano Gabus Mendes, quando Dener e Clodovil eram as grandes estrelas da moda, e teve que ser adaptada e recriada para a era industrial das grifes, fashion weeks e, sobretudo, das novas mídias", relembra Maria Adelaide.

Em outra ponta, a autora salienta que em remakes o maior desafio é cativar os telespectadores que não viram o original, pois os nostálgicos sempre tendem a preferir a primeira versão. "No caso de 'Ti-Ti-Ti' demos uma identidade própria", acredita a autora.




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