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Quércia vê Serra no segundo turno
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
03/08/2002 | 20:17
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O ex-governador Orestes Quércia (PMDB), candidato pelo partido ao Senado, disse que, “por intuição”, acredita que irão para o segundo turno no pleito para presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB). Ele disse que Ciro Gomes (PPS), o candidato da Frente Trabalhista, irá perder votos devido à semelhança com o ex-presidente Fernando Collor.

O pemedebista, absolvido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banespa, está disposto a apoiar o PT, partido que outrora foi o seu inimigo número 1. Aos 64 anos, que serão comemorados no dia 18, Quércia volta ao cenário político como principal articulador dos dissidentes, como Roberto Requião (PR) e Pedro Simon (RS). Ele acredita que o melhor para o país seja o candidato do PT, Lula. “Sempre fomos adversários, mas se quero um projeto de desenvolvimento para o Brasil, eu não vou votar num candidato que significa a continuação de um governo que paralisou o país”, afirmou.

Para o Grande ABC, se eleito, Quércia se comprometeu a tentar fazer uma ação nas sete cidades da região com as lideranças e o governo do Estado. “Alguma coisa no sentido de que haja incentivo para restaurar a potência do Grande ABC. Fica esse meu compromisso definido hoje aqui”, afirmou o pemedebista na quinta-feira, quando visitou o Diário. A seguir confira entrevista exclusiva.

DIÁRIO – Caso o senhor seja eleito para o Senado, quais serão suas prioridades?
ORESTES QUÉRCIA – Eu colocaria como fundamental a questão de segurança, a partir do conceito de que 80% dos crimes são cometidos por reincidentes. Que voltam por quê? Porque eles não são presos, fogem da cadeia. O Poder Judiciário tem dificuldades nisso. Eu acredito que é preciso uma ação dos governos do Estado e Federal nessa questão de segurança. A meu ver o Senado tem condições de fazer um trabalho nessa área, rever a legislação, fazer uma avaliação com profundidade, porque a situação é dramática demais em São Paulo.

DIÁRIO – Faça um paralelo da área de segurança da época em que o senhor foi governador do Estado.
QUÉRCIA – A diferença é impressionante. Nós tivemos durante o meu governo 26 seqüestros, inclusive do empresário Abílio Diniz, um caso que ficou famoso. Posso lhe afirmar que todos os seqüestros foram resolvidos e os seqüestradores foram presos. Não se pagou resgate durante o meu governo em São Paulo. Hoje, você vê o que aconteceu. Naquela época, os seqüestros só aconteciam no Rio de Janeiro. Acho que, como senador, com a experiência que tenho de ex-governador e ex-senador, eu posso e vou trabalhar muito nesse sentido de dar segurança a São Paulo.

DIÁRIO – Qual outra questão o senhor coloca como prioridade para seu mandato?
QUÉRCIA – Sempre fui municipalista, presidi a Associação Paulista de Municípios e fui criador da Frente Municipalista Nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, os norte-americanos são fortes porque o município é forte. Isso é fundamental, principalmente na área de saúde. Então, a minha proposta vai ser que todas as verbas de saúde do Governo Federal e do Governo do Estado sejam diretamente enviadas aos municípios. Os Estados e a União ficariam com as campanhas de prevenção, de vacinação... Agora, a questão de assistência médica é do município, o município da capital, o município de Santo André.

DIÁRIO – Como o senhor vê a economia do país?
QUÉRCIA – A grande dificuldade é a questão do desenvolvimento. Quando o Fernando Henrique Cardoso entrou no governo o Brasil era a 8ª economia do mundo. Hoje é a 11ª. Com esse procedimento, de respeitar o processo do FMI, nós, simplesmente, estamos segurando o crescimento do Brasil, que é de 2% ao ano agora, quando já foi de 8% e 10%. O Brasil está indo pra trás dentro desse contesto de lutar. Eu até quis e lutei muito para lançar um candidato a presidente pelo PMDB, a fim de ter esse projeto de crescimento do país, de desenvolvimento. A minha idéia da candidatura do Itamar era essa, mas não deu certo.

DIÁRIO – Então, agora, o senhor faz campanha para Luiz Inácio Lula da Silva?
QUÉRCIA – Eu não posso fazer. Eu só declarei que vou votar nele. Nós tínhamos até elaborado uma conversação com o PT em São Paulo, mas acabou não ocorrendo. É lógico que se tivesse feito isso o Fernando Moraes seria o vice, mas isso nem chegou a ser negociado nem trabalhado, porque houve essa definição. Eu posso dizer que vou votar no Lula, mas não pedir votos.

DIÁRIO – Até porque tem o problema de o Lula ter um candidato a senador, o Aloízio Mercadante.
QUÉRCIA – Mas são duas vagas para o Senado.

DIÁRIO – Mas o senhor sempre foi adversário político do PT.
QUÉRCIA – Nosso empenho era realmente para termos um candidato do PMDB. Infelizmente, dado ao fato de a executiva do partido querer entregá-lo para o governo, não deu certo. Eu fui contra. Porém, das candidaturas existentes, a alternativa que mais coincide com a nossa proposta de crescimento do país é a do PT. Realmente, era uma briga antiga com o PT. Sempre fomos adversários, mas se quero um projeto de desenvolvimento para o Brasil, eu não vou votar num candidato que significa a continuação de um governo que paralisou o país.

DIÁRIO – Das alternativas existentes, o Lula é a me-lhor, na opinião do senhor?
QUÉRCIA – Com todo respeito a todos, nós entendemos que a decisão melhor seria apoiar o PT. Esse apoio se dá somente porque não houve negociação nem foi possível no aspecto legal. É a proposta que melhor atende o interesse do país. A dúvida sobre o fato de o Lula não ter experiência (administrativa) não acarreta problema nenhum. O Fernando Henrique também não tinha, nunca administrou nada e virou presidente, além de ser reeleito.

DIÁRIO – O senhor acredita que acontecerá o segundo turno para a Presidência da República?
QUÉRCIA – Eu acho que no quadro atual deverá haver segundo turno entre o Lula e o Serra, por pura ousadia minha. Eu diria até que é mais por intuição do que por lógica.

DIÁRIO – E o Ciro Gomes não vai para o segundo turno?
QUÉRCIA – Eu acho que não. As pesquisas já mostram uma paralisação do Ciro... Se isso ocorrer, na campanha, o governo vai acabar ganhando dele. Eu acho que essa questão da equiparação dele com o Collor é o ponto fraco dele.

DIÁRIO – O senhor vê seme-lhanças entre o Ciro e o Fernando Collor?
QUÉRCIA – De certa forma. Eu não quero criticar ninguém, porque não quero brigar com ninguém. Eu acho que ele (Ciro) vai ter dificuldades por causa de não ter um partido forte por trás dele, de não ter uma estrutura política forte na retaguarda. Eu acho que isso vai pesar. Dessa forma, o Lula e o Serra vão para o segundo turno.

DIÁRIO – O senhor não acredita que o Lula possa ficar de fora do segundo turno? O ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhãe (PFL) foi um dos que falou sobre essa possibilidade.
QUÉRCIA – Eu não acredito. Esses candidatos a senador estão todos doidos (risos). Eu acho que dá Lula e Serra no segundo turno.




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