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Crise preocupa empresários da região
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
10/08/2011 | 07:30
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A turbulência nos Estados Unidos já começa a preocupar os empresários do Grande ABC. Mesmo aqueles que não exportam para o mercado norte-americano temem os impactos da crise, principalmente por conta da entrada maior de produtos importados no País.

Se os Estados Unidos, que importam 30% do que consomem, reduzirem suas compras externas, os países fornecedores tenderão a redirecionar suas vendas a nações emergentes, onde a economia ainda está aquecida, caso do Brasil. "Será criado excedente de produção em todo o mundo e esses itens que deixaram de ser comercializados aos Estados Unidos serão exportados. Se hoje a maior parte dos componentes dos veículos já é do Exterior, imagine como ficará a situação. Pior ainda para o Grande ABC, que atualmente está com mercado bastante restrito", avalia José Gascon Hernandez, dono da Tenar Têmpera, empresa que presta serviço para usinagens realizando tratamento térmico de peças para carros, e diretor regional do Ciesp de Diadema. "O poder de consumo da América Latina é muito maior do que o de países da Europa, Ásia e Rússia. Certamente todos vão mirar a região."

A concorrência ainda maior no mercado interno também é temida pela Uniforja, cooperativa de forjaria de Diadema que fornece direta e indiretamente para a Petrobras. "Quanto ao que vendemos diretamente para a petrolífera, que são conexões, temos mais tranquilidade. O problema está no que comercializamos para empresas de engenharia, por exemplo anéis para fazer rolamentos de torre eólica, pois podemos nos deparar com produtos mais baratos que venham de fora e perder os clientes", explica o diretor administrativo José Domingos. Grandes produtores desses itens são o México e a Itália, que costumam vender para os norte-americanos.

Para Cláudio Armidoro, proprietário da Ecoplas, de São Caetano, que fabrica cabos acionadores para veículos, o problema passa a existir se houver entrada ainda maior de componentes asiáticos, pois então se tem concorrência desleal. Porém, se esses produtos forem de nações da Europa e do Japão, ele acredita que não há risco. "Eles nem conseguem entrar no nosso mercado, pois temos preços menores do que os deles. Tanto que, não fosse a alta incidência de impostos na produção, teríamos muito mais chances de concorrer no cenário externo."

Gascon lembra o que ocorreu na Argentina em 1994, quando havia a paridade entre peso e dólar. "Como era mais barato importar tudo, fábricas inteiras foram fechadas e, até hoje, os argentinos não se recuperaram." Por isso, defende, o governo federal precisa agir, reduzindo a taxa de juros para conter a entrada de dólares no País, o que valoriza o Real e faz com que os importados sejam mais atrativos. "Estamos achando que somos ricos, mas em breve, se continuar assim, seremos desempregados."

 

Efeito em cadeia não está descartado

Apesar de o maior destino de exportações das empresas da região serem os países da América Latina, com destaque à Argentina, é possível que haja efeito em cadeia. "É claro que o maior impacto deve ocorrer com companhias que comercializam diretamente para os Estados Unidos, porém, existe também reflexo em cima de produtos que são exportados para um país que os manufaturam e vendem aos norte-americanos", diz José Rufino, diretor do departamento de Comércio Exterior da regional do Ciesp de São Bernardo e proprietário da Steroc, empresa de ferramentas para perfuração de rochas.

É o caso, segundo Rufino, do minério de ferro. O Brasil vende para a China, que o transforma em aço e comercializa nos Estados Unidos. "Por isso, este é um momento em que temos de nos voltar ao mercado interno, que é muito grande, e depender cada vez menos do externo."

A vantagem das empresas da região é que, para vencer a crise de 2008, muitas delas passaram a pulverizar suas carteiras de clientes, diversificando as áreas de fornecimento e não dependendo somente de uma companhia. Por esse motivo, estima-se que elas estejam mais preparadas para enfrentar a nova turbulência, embora ainda seja cedo para cravar seus efeitos.

GRANDES - Companhias de grande porte que estão instaladas no Grande ABC, por enquanto, não se veem afetadas pelo cenário da economia internacional. É o caso da General Motors, instalada em São Caetano que, embora seja originalmente norte-americana, tem operações completamente independentes da matriz. A filial responde à operação da GM na América do Sul, presidida por Jaime Ardila, e vai manter o ciclo programado de aportar R$ 5 bilhões em modernização das fábricas e ampliação da linha de produtos até fim de 2012.

A fábrica da italiana Pirelli em Santo André tem produção direcionada ao mercado interno e latino. Daqui saem pneus para caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. O que é exportado para os Estados Unidos está na Bahia e, ainda assim, se dirige a um segmento de luxo e bastante específico: abastece pneus de veículos como Camaro e Mustang.

A Braskem, petroquímica brasileira que possui operações em Mauá, não comenta a crise pois está em período de silêncio por conta de balanço trimestral que será divulgado hoje.

 

Dólar volta a cair, e produtos de fora seguem atrativos

Mesmo sem saber até que ponto a crise norte-americana pode atingir o País, uma grande preocupação de empresários da região continua sendo com a enxurrada de importados, que vem prejudicando fortemente a indústria desde o início do ano.

Como a Bolsa de Valores de São Paulo voltou a se recuperar, após a queda de 8,08% na segunda-feira, registrando alta de 5,1% anteontem e de 0,48% ontem, o dólar voltou a cair, encerrando o pregão de ontem em R$ 1,62 (anteontem estava em R$ 1,63).

O dólar alto, na avaliação do professor de macroeconomia da Esags/FGV Eduardo Becker, é algo pontual. "No momento de pânico, a procura por moeda mais segura é inevitável, por isso os investidores tiraram dinheiro das Bolsas, inclusive da brasileira, e o dólar subiu. Acredito que as empresa brasileiras vão continuar importando por um preço baixo."

Para o diretor do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto, temos mais problemas no Brasil do que nos Estados Unidos. "O governo não se decide se desindustrializa para reduzir a inflação ou se admite a inflação para diminuir a desindustrialização."

O fato é que, enquanto a taxa de juros não recuar, o Brasil continuará sendo extremamente atrativo para quem trabalha com dólar, que segue como a moeda mais segura do mundo.

 

Avaliação do Brasil está entre as melhores

Hoje, o Brasil possui rating soberano - nota que avalia a capacidade de o País pagar suas dívidas -, concedido pela agência de avaliação de risco Standard & Poor's, de BBB+.

Essa nota significa que temos um menor grau de risco e solidez financeira, o que permite enfrentar volatilidades e vulnerabilidades. Assim, o Brasil encontra-se no grupo com as melhores recomendações, composto por AAA (caso da França), AA (Estados Unidos), A (México) e BBB.

Considerando as nações dos Bric (sigla que engloba Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacaram no cenário mundial pelo rápido crescimento das suas economias em desenvolvimento), quem possui a melhor avaliação é a China, com AA-.

O Brasil empata com a Índia, já que ambos são classificados como risco BBB+. A Rússia aparece na sequência, com BBB. A vizinha Argentina tem nota menor, B, enquanto Paraguai tem BB e Uruguai, BBB. De acordo com o diretor e líder analítico para ratings corporativos e de infra-estrutura da Standard & Poor's no Brasil, Reginaldo Togashi Takara, que realizou palestra na Fundação Santo André, o rating é uma opinião concluída com base em metodologia utilizada para mensurar o risco que o país ou a empresa tem de não pagar suas contas no futuro. "Os ratings são úteis porque têm função informacional. Eles cobrem o gap (espaço) entre a empresa ou país e o investidor", diz. "Seja por falta de tempo ou por não entender muito bem o assunto, muitos investidores não conhecem o emissor. E a nossa função, já que as agências de risco têm acesso a informações privilegiadas, é reduzir o risco dele, além de tornar a economia mais eficiente e auxiliar em seu crescimento."

HISTÓRICO - A turbulência norte-americana começou com o rebaixamento de sua nota. De AAA, caiu para AA+. Apesar de a mudança ser pequena, para os Estados Unidos, que sempre foram considerados nação triple A (nota máxima), isso gerou desconfiança.

Com isso, os investidores sacaram seus recursos das Bolsas e elas registraram fortes quedas no pregão de segunda-feira. Ontem, os mercados já estavam mais calmos e as Bolsas recuperaram parte das perdas.




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