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Narguilé corre solto nas ruas da região
Evandro De Marco
Do Diário do Grande ABC
19/02/2011 | 08:20
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André Henriques/DGABC


Não bastasse o uso de bebidas alcoólicas e drogas, não é raro flagrar jovens e adolescentes em consumo deliberado do narguilé - cachimbo à base de água de origem árabe - nas calçadas dos lugares mais badalados do Grande ABC. A região da Rua das Figueiras, em Santo André; Avenida Goiás, em São Caetano; Avenida Kennedy e até o estacionamento de um hipermercado nas proximidades da Via Anchieta, em São Bernardo, são os pontos preferidos por usuários da nova mania na região.

Grupos de adolescentes e jovens de até 25 anos são a maioria dos que se revezam para degustar a fumaça vinda do narguilé. "É um prazer que divido com meus amigos nos fins de semana", disse o técnico em computação Jean Soares, 21 anos, em uma das calçadas da Rua das Figueiras.

Próximo de Soares, outro grupo se diverte sem se importar nem mesmo com o fato de quase todos serem menores de 18 anos e, por isso, proibidos de consumir qualquer produto feito à base de tabaco. "A gente tem que aproveitar. É uma forma de confraternização", alegou um adolescente de 16 anos.

Porém, esta forma distorcida de socialização encontra resistência nos especialistas, que alertam para os perigos de prática que pode equivaler ao consumo de até 100 cigarros em uma só rodada da iguaria. "É apenas outra forma de inalar a fumaça oriunda do tabaco, que conta ainda com outras substâncias, como aromas e até o carvão", explicou Adriano César Guazzelli, professor de Pneumologia e coordenador do Ambulatório de Combate ao Tabagismo da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).

Guazelli ainda alerta para o perigo da falsa impressão de que a água no recipiente do narguilé ameniza os efeitos da fumaça e das essências que suavizam o sabor do ar aspirado. "Pessoas ficam horas consumindo essa fumaça que contém todas as substâncias cancerígenas presentes no cigarro convencional. Pode até ser aparentemente mais suave por causa do sabor, mas tem nicotina, alcatrão e tudo mais."

Outro agravante é a mistura de outros produtos químicos, como bebidas alcoólicas e até mesmo alucinógenos junto com a essência colocada na jarra do narguilé. "Quanto mais químicas misturadas, é pior", disse Guazzelli.

COMO FUNCIONA - Um carvão é colocado em um recipiente do narguilé, que provoca um vapor dentro do jarro, onde existe uma porção de água com aromatizante feito com as mais variadas essências produzidas à base de tabaco e melaço de cana-de-açúcar. Mangueiras conduzem essa fumaça, que é aspirada pelos usuários.

Autoafirmação impulsiona o consumo

Para a professora Ivete Pelegrino Rosa, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Fundação Santo André, a moda do narguilé que atinge jovens e adolescentes está intimamente ligada à autoafirmação buscada por esses grupos. "É um exibicionismo, uma forma de querer mostrar uma identidade que ainda está em formação."

A especialista ainda chama a atenção para o uso da iguaria como ferramenta de sedução, uma maneira de se mostrar para o sexo oposto como se fosse um jogo, bem característico nessa faixa etária. Aparentemente inocente, essa prática esconde por trás o vício.

"Tudo começa na brincadeira, depois vem o hábito, passa a fazer parte do organismo da pessoa, que se torna uma viciada", alertou Ivete Pelegrino.

Adriano Guazzelli também se diz preocupado com o desenvolvimento do tabagismo junto a esses jovens e adolescentes, sem que alguns nem mesmo percebam o risco que correm com o nerguilé. "A pessoa está usando uma droga: a nicotina. Tem gente que fica dependente dela logo na primeira utilização."




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