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Ademir da Guia: gênio da bola agora quer dar ‘show’ na política
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
15/05/2004 | 19:42
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O comitê eleitoral fica na rua Turiassu, em frente ao Palestra Itália. Em um sobrado antigo, a gente lê o nome do craque escrito nas faixas de pano. De óculos, camisa pólo branca, calça jeans e tênis, Ademir da Guia sobe os degraus que levam às salas superiores. O jeito tímido de sempre, o caminhar tranqüilo, Ademir chega reclamando do vento: “A faixa virou e meu nome ficou de ponta-cabeça”.

Do alto de seus 18 títulos com a camisa do Palmeiras, que usou de 1961 a 1977, Ademir vai arriscar seu currículo de conquistas e brilho invejável no gramado em um campo que lhe é totalmente desconhecido e minado: a política. Ademir é pré-candidato a vereador de São Paulo pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil).

A pergunta surge naturalmente no início da conversa: “Ademir, você virou comunista?” “Não é que eu seja comunista”, ele explica, “na realidade, eu nunca me vi na política”.

Ademir decidiu se tornar vereador por insistência do amigo e palmeirense Aldo Rabelo, deputado federal pelo PC do B-SP e ministro da coordenação política. “O Aldo me convidou e eu me filiei ao partido. A recepção foi positiva, os amigos diziam que iam votar em mim, se eu me candidatasse, aí decidi tentar ser vereador.”

O início da carreira do Divino na política rendeu até piada. Ademir costuma se encontrar com José Serra (candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo) nos jogos do Palmeiras. Quando o Serra soube que o ex-craque tinha ingressado no PC do B, ele ligou reclamando: “Puxa, Ademir, eu não sabia que você tinha pretensões políticas”. E Ademir respondeu: “Eu também não sabia”. Uma resposta bem ao estilo do craque que percorre a vida, como fez nos campos de futebol, ao som de Deixa a vida me levar. Sempre com muita categoria e elegância.

Aos 62 anos, três filhos e dois casamentos, dono de uma popularidade impressionante, Ademir deixa o comitê e atravessa a rua Turiassu para tirar fotos dentro do Palestra Itália. Nesse curto trajeto, os populares se aproximam. Inclusive os inimigos. “Divino, conta comigo”, diz o corintiano Roberto Lima, 33 anos, comerciante, que adora futebol e gosta do estilo do palmeirense: “Eu não cheguei a ver o Ademir jogar, mas os vídeos que assisti mostravam um estilo de jogador que tinha passada larga, cabeça em pé e batia muita bola”.

O serviço prestado ao Palmeiras em 16 anos de carreira rendeu-lhe um busto no panteão dos heróis do Palestra, ao lado de Waldemar Fiume e Junqueira. Cérebro da Academia de Futebol (como era chamado o Palmeiras nos anos 60 e 70), o ex-jogador pretende agora criar o Instituto Ademir da Guia, que vai ensinar futebol para crianças carentes.

Mas e se você for eleito e fizer alguma bobagem, manchando sua história; como é que vai ser? Ademir acha que isso não vai acontecer: “No meu caso, vou ter pessoas para me assessorar. Não tenho convivência com a política, não sei o que é, vou contar para isso com a ajuda do Aldo (Rabelo), que me dará assessores confiáveis. Vou precisar”.

Por enquanto, o único senão da campanha de Ademir é um santinho, com a foto do pré-candidato, nas cores verde (do Palmeiras) e vermelho (do PC do B). O problema é que verde e vermelho, como o torcedor sabe, dá Lusa na cabeça.




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