Economia Titulo Crédito
Desembolsos do BNDES
na região têm queda de 20%

A falta de competitividade das indústrias em relação aos
produtos importados contribuiu para travar investimentos

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
05/03/2012 | 07:22
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Termômetro dos investimentos das empresas brasileiras, os desembolsos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para o Grande ABC, realizados por meio de agentes financeiros, ou seja, outros bancos, caíram 20% no ano passado frente a 2010, apesar do crescimento de 45% no volume de operações (número de contratos de financiamento).

Os números expressam, entre outras coisas, o cenário de falta de competitividade da indústria em relação aos produtos importados, o que contribuiu para a estagnação dessa atividade em 2011, segundo especialistas. “É o retrato do que ocorreu. A economia cresceu 3%, mas a indústria foi mal, cresceu só 0,3%”, diz o consultor do Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial) Júlio Gomes de Almeida.

E assim como no Grande ABC, os valores das operações indiretas – como são chamados os financiamentos do BNDES via outros bancos – também caíram no País todo, com retração de 20%. A queda foi liderada pelas fabricantes, para as quais os desembolsos da instituição se reduziram em 44%.

Almeida completa: “Quem vai mal na produção não tem porque investir, os número revelam essa falta de disposição, em função do baixo desempenho do setor produtivo.”

PRODUTIVIDADE - Muitas empresas obtiveram empréstimos da instituição federal no ano passado como necessidade de mercado, para elevar a produtividade e fazer frente à concorrência com os importados.

O empresário José Gascon Hernandez, da Tenaz Têmpera, sediada em Diadema e dedicada ao tratamento térmico de materiais, cita que esse foi o objetivo, quando fez a compra de duas máquinas e um caminhão, com R$ 300 mil em crédito da linha do Finame PSI (Programa de Sustentação do Investimento) do BNDES, por meio da Caixa Econômica Federal.

Hernandez, que também é diretor adjunto da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) do município, diz que, em termos de opções de financiamento, não existe nada comparável no mercado. “É o melhor caminho para arrumar dinheiro.”

Essa linha oferece (até dezembro deste ano) taxa de juros de 6,5% ao ano para pequenas empresas fazerem a compra de maquinário e 10% anual para aquisição de veículos. Outra condição convidativa é o prazo para o pagamento. No caso da companhia de Gascon, foram seis meses de carência, com total de 72 meses para quitação.

PULVERIZAÇÃO – Se a queda no valor dos desembolsos mostra o cenário mais difícil, o aumento do número de contratos foi bem recebido. “É de se louvar o fato de que as operações do banco tenham beneficiado mais empresas. Isso significa uma maior pulverização dos recursos do BNDES”, afirma Almeida. Foram 9.034 financiamentos no ano passado frente a 6.222 em 2010.

Boa parte desse crescimento ocorreu pela expansão do número de concessões a micro e a pequenas empresas: em ambos os casos houve alta de 58% em relação a 2010. Por sua vez, para as médias, houve alta de apenas 2% e, para as grandes, o recuo foi de 6%. As microempresas responderam em 2011 por 65% do total de operações frente a 60% há dois anos.

Cartão BNDES é exceção, com alta de 51%

O empresário Gildo Freire de Araújo, sócio da Águia Contabilidade, de Diadema, recorreu no ano passado a um produto do BNDES para a troca de computadores de sua empresa: o cartão que leva o nome da instituição de fomento a investimentos.

Essa é das poucas modalidades de financiamento da instituição que cresceu no ano passado tanto em número de operações quanto de desembolsos. Em contratos, a alta foi de 64% – foram 5.498, frente a 3.361 em 2010 – e, em valores, a expansão foi de 51% – R$ 149 milhões em 2011, enquanto no ano anterior, foram R$ 98 milhões. O crescimento se justifica pelas próprias características dessa linha, segundo o responsável pelo posto avançado do BNDES dentro do Ciesp de Diadema, Dario Sanchez.

Direcionado sobretudo às micro e pequenas empresas e com juros de 0,97% ao mês, crédito pré-aprovado, financiamento automático para o cliente em até 48 meses, R$ 1 milhão de limite máximo para empréstimos, o cartão BNDES pode ser utilizado tanto para a compra de maquinário, peças e insumos quanto para serviços, por exemplo, de certificação.

Sanchez acrescenta que, com a modalidade, a empresa interessada em adquirir determinado insumo ou máquina pode direcionar a companhia vendedora a se inscrever no site do banco. Por esse produto, a instituição só possibilita negócios com fornecedores cadastrados.

Araújo avalia como positiva a experiência do financiamento, de cerca de R$ 40 mil, obtida por meio da Caixa Econômica Federal, e que permitiu a aquisição de 20 equipamentos, para pagamento em 36 meses. “É muito prático, rápido e as taxas são muito interessantes, bem menores que as de mercado”, afirma.

Perspectivas são desfavoráveis, afirma consultor

Para o consultor do Iedi Júlio Gomes de Almeida, o cenário da economia não favorece a expansão dos desembolsos do BNDES neste ano, principalmente no Grande ABC, que é uma região fortemente industrial. Isso, segundo ele, por causa dos produtos importados, que estão entrando no Brasil a custo muito baixo, o que reflete o câmbio (o real valorizado), entre outros fatores. “A indústria sofre um problema de competitividade”, assinala.

Por outro lado, o número de operações pode continuar crescendo, pela difusão de linhas como o cartão BNDES junto às micro e pequenas e também pelo interesse das instituições nesse mercado empresarial. No ano passado, em operações com essa modalidade na região, os três principais agentes financeiros foram o Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal.

No País todo, o BB emprestou R$ 4,9 bilhões nessa linha. Além disso, o banco ficou na liderança no ranking de repasses da instituição de fomento, com desembolsos totais da ordem de R$ 18,1 bilhões.

 




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