Cultura & Lazer Titulo
Bispo do Rosário é tema de mostra em SP
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
01/08/2003 | 19:32
Compartilhar notícia


O artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), diagnosticado esquizofrênico-paranóico, quando via, por exemplo, uma poça perto de alguma planta, fazia com o dedo um caminho com a água para que ela chegasse à terra. Apreciava a ordem, gosto que fica evidente na organização que envolve sua criação artística, como nas obras em que se apropria e dispõe objetos como chinelos e pentes. Ele também ouvia vozes e tinha visões, as quais julgava divinas: vertigens.

Ordenação e Vertigem é o nome do evento que começa neste sábado no CCBB-SP (Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo) e que tem como tema a frenética, rica - no que diz respeito ao caráter estético - e também comovente produção plástica de Bispo.

A programação fica em cartaz até 12 de outubro e inclui atrações nas áreas de artes plásticas, fotografia, música, cinema e dança - cada uma com um especialista como responsável. A coordenação geral é de Jane de Almeida e Jorge Anthonio e Silva.

Essa é a primeira vez o CCBB-SP - aberto em abril de 2001 - realiza atividades multidisciplinares voltadas a uma única temática. Quase toda a programação tem entrada franca.

Na área de artes plásticas há uma seleção de obras assinadas por Bispo, as quais pertencem à Colônia Juliano Moreira, no Rio, hospital psiquiátrico onde viveu. Praticamente todo o conteúdo é inédito.

Bispo passou 51 anos entrando e saindo de manicômios. Sergipano, negro e pobre, foi de marinheiro a boxeador. Era muito religioso, e também violento. Conforme ele mesmo, sua missão em vida não era artística, mas sim a de reconstruir o mundo: vozes lhe disseram isso em um delírio na antevéspera do Natal de 1933.

Então utilizou os materiais a que tinha acesso e criou objetos, miniaturas, assemblages, bordados, mantos e estandartes, um conjunto de 1,1 mil trabalhos. Como exemplo, as linhas azuis que tanto usou na criação eram obtidas ao descoser o próprio uniforme de interno. O "reconstrutor do mundo", que nunca expôs em vida, hoje tem sua obra respeitada internacionalmente.

Para dialogar com as composições de Bispo foram escolhidos trabalhos de artistas contemporâneos como Nelson Leirner e a andreense Sandra Cinto. São obras que de alguma forma guardam relações com a produção do artista. Sandra exibirá A Ponte Impossível, instalação de 1998, e um desenho de parede.

O segmento cinema terá longas, médias e curtas-metragens, como Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. A bailarina e coreógrafa Vera Sala preparou o que ela chama de Corpo-Instalação. São apresentações em uma estrutura montada com andaimes (de ferro) e vidro. A mostra fotográfica reúne imagens de gente como Gal Oppido.

Na área de música, Arrigo Barnabé criou a peça Missa: In Memoriam Arthur Bispo do Rosário. O segmento conta ainda com shows como o de Hermeto Pascoal e Tetê Espíndola. Outra atração, o Ciclo de Idéias, tem intelectuais em palestras e debates.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;