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Economistas prevêem mais pressao nos preços
Do Diário do Grande ABC
28/11/1999 | 19:31
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O aumento de custos das empresas este ano, represado no varejo por causa do baixo consumo, deve ser repassado aos preços com mais força no próximo ano, principalmente a partir de março, quando o mercado deve ficar mais aquecido. O crescimento da economia e o reajuste dos salários, ainda que pequeno e apenas nominal, devem permitir alguma recuperaçao dos preços.

"O repasse nao será integral, mas a diferença entre os custos e o preço final vai diminuir", diz o consultor Cristian Andrei, da LCA Consultores. A consultora Rita Rodrigues, da Tendências Consultoria Integrada, também acha que o aumento de salário vai permitir ao comércio repassar a alta de preços. "O consumidor já está com perda de renda e teve de apertar o cinto; qualquer reajuste de salário vai aumentar o consumo", diz Rita.

O presidente da Associaçao Brasileira dos Supermercados (Abras), José Humberto Pires de Araújo, concorda que haverá repasse no próximo ano, mas diz que o aumento de custos ocorreu muito mais na indústria do que no varejo. Os supermercados, segundo ele, nao tiveram essa pressao de custo porque recusaram os aumentos pretendidos pelas indústrias.

Ainda assim, a lucratividade do setor deve cair de 1,5% do faturamento no ano passado para cerca de 1% este ano. As empresas, segundo Araújo, devem estar divididas em dois grupos: as que se vao reestruturar e aumentar a produtividade e as que vao fazer reajustes diluídos num período extenso. "Mas esses correm o risco de perder mercado", alerta.

Um estudo da LCA mostra que, entre setembro e novembro, aumentou a diferença entre os custos de produçao e os preços no varejo. Em setembro, os preços haviam subido em média 12% no atacado e 4,9% no varejo. Em novembro, a alta no atacado acumula 17% e no varejo, 6,1%, uma diferença de 9 pontos percentuais.

Excluindo os custos que nao subiram, como aluguel e salários, e a alta prevista para o próximo ano, vai para 20% a pressao de custos acumulada nos dois anos. Como a inflaçao deve subir menos em 2000, a expectativa é que essa parcela de inflaçao represada fique bem menor. "Os custos devem subir menos que a inflaçao na ponta no ano que vem", diz Andrei.

Rita Rodrigues, da Tendências, acha que haverá inflaçao de demanda em 2000. "Assim que houver aumento de dinheiro na economia, com o reajuste de salários que estao ocorrendo, o aumento de custo será repassado aos preços", afirma.

Analisando os índices de inflaçao, ela concluiu que a inflaçao mais recente é realmente pontual e causada por aumentos nos preços dos combustíveis e da carne, como alega o governo. Mas, olhando o acumulado do ano, ela concluiu que os aumentos sao mais uniformes.

Rita comparou a variaçao da inflaçao no segmento total dos comercializáveis (que podem ser importados e exportados) com esse grupo. Excluindo os preços de carros novos e os alimentos semi-elaborados (por causa da carne) e in natura, que concentraram os maiores aumentos nos últimos dois meses, ela concluiu que as variaçoes estao muito próximas.

No período de janeiro a outubro, a variaçao nos preços totais dos comercializáveis foi de 9,2%. Excluindo esses itens, o aumento foi de 8,5%. "Essa diferença de 0,7 ponto percentual é muito pequena para se concluir que nao estejam ocorrendo pressoes altistas generalizadas", diz a consultora.

O coordenador do Indice de Preços ao Consumidor ( IPC) da Fipe, Heron do Carmo, apesar de ter reajustado para cima sua previsao de inflaçao de novembro e dezembro, acha que a situaçao está sob controle. Ele afirma que o aumento é provocado por fatores específicos, como o aumento do álcool.




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