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Palavra e silêncio de Deus

À pergunta sobre onde está Deus, devemos responder que Ele está no meio de nós

Dom Pedro Cipollini
05/09/2016 | 07:07
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Impressionante o aparente silêncio de Deus diante do drama humano que se descortina a nosso redor. Mais chocante é o Seu silêncio diante das orações dos que creem. Perseguição e violência contra cristãos, em várias partes do mundo. Morte de fome e doenças, em várias partes do planeta. Coloca-se a pergunta: Deus, onde estás? Eis o drama de muitos que, como Jó, rezam e não escutam resposta.

O mês de setembro, entre nós católicos, é dedicado especialmente à consideração da palavra de Deus: mês da Bíblia! Isto porque celebramos neste mês a São Jerônimo, tradutor de toda a Bíblia para o latim, a chamada Vulgata, que por sua vez possibilitou a tradução da Bíblia nas línguas modernas.

À pergunta sobre onde está Deus, devemos responder que Ele está no meio de nós. É isto que a Bíblia nos ensina. “A palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Em Jesus Deus nos fala de forma vibrante, total. São João da Cruz escreve; “Uma palavra disse o Pai, que foi seu Filho; e di-la sempre no eterno silêncio e em silêncio ela há de ser ouvida” (cf. Ditos de Amor e Luz n. 98).

Não há silêncio de Deus a não ser para aqueles que não querem ouvir Jesus: “Este é meu filho amado em quem encontro meu agrado: escutai-o” (Mt 17,5). Por aí se deduz que não é Deus que não fala, ou não responde. Somos nós que não sabemos fazer o necessário silêncio para ouvi-Lo. Ou nossa fé não é suficiente para fazer silêncio e contemplar o mistério que nos envolve. Deus é tão grande que não o compreendemos (cf. Jó, 36,26). O profeta Isaías deixa registrado: “... vós sois um Deus escondido” (Is 45,15). E este ocultamento é glória para Deus! (cf. Pr 25,2).

Mas se Deus se revelou plenamente em Jesus, como permanece este ocultamento? A ponto de São Paulo escrever: “Quem és tu, oh homem, para pedires conta a Deus?” (Rm 9,20). Aqui nos defrontamos com o mais profundo do mistério da revelação que Deus faz de si mesmo em Jesus Cristo: Deus se revela na fraqueza (cf. 2 Cr 12,7-10). Grande parte da revolta contra Deus, e até mesmo da negação da existência de Deus, está no modo e no local nos quais Deus quis se revelar, estes é que não são aceitos, embora sejam conhecidos. O que o mundo julga fraco/frágil Deus escolheu, para confundir os sábios...

A sabedoria de Deus é infinita e se revelou na pobreza, pobreza do modo e dos meios com os quais se deu a conhecer: de Belém até a cruz. Não é fácil fazer-se conhecer quando se é Deus. Ele não teria sido amado, mas apenas adulado ou temido, caso tivesse se revelado de outro modo.

O mês da Bíblia é um mês para nos recordar que a palavra de Deus está aí para nos iluminar. Isto a fim de percebermos no dia a dia da vida o quanto Deus continua nos falando. Falando e ensinando-nos, sobretudo, que Deus escreve direito por linhas tortas. E que precisamos nos tornar hábeis na leitura destas linhas tortas. “Conserva-te em silêncio diante de Deus e espera Nele” (Sl 37,7). Esta é a resposta da fé, a única que convém diante da revelação amorosa que Deus nos faz.

Para adentrar-nos no tesouro da Bíblia Sagrada, estão a nosso dispor muitos instrumentos que neste mês queremos recordar a todos, principalmente a urgência da iniciação à vida cristã e a animação bíblica da vida e da pastoral, propostas atuais das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (Doc. 64/CNBB). 




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