De ministro da Justiça achincalhado pela direção do PT - para quem o "grupo do Zé Eduardo" era tão pequeno que cabia numa Kombi -, o relator do projeto da Ficha Limpa passou a ter o nome lembrado para eventual candidatura ao governo de São Paulo, em 2018. No momento em que os principais líderes petistas foram atingidos por escândalos de corrupção, Cardozo chegou a ser aplaudido por parte dos passageiros de um voo de Brasília a São Paulo, na noite de sexta-feira.
"Eu não tenho a menor vontade de continuar na vida política", disse o ex-ministro, que também foi titular da Advocacia Geral da União. "Em 2010, escrevi uma carta aos meus eleitores, na qual dizia que não seria mais candidato a deputado enquanto o sistema político não mudasse. Tenho vergonha desse sistema." No PT, Cardozo integra a corrente Mensagem ao Partido. O grupo não detém a hegemonia interna e cada vez mais se opõe à tendência Construindo um Novo Brasil, comandada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pressionado por Lula e pela cúpula do PT, sob o argumento de não controlar a Polícia Federal quando estava à frente do Ministério da Justiça, Cardozo ganhou a "redenção" ao defender Dilma. Perdeu a causa no Senado, mas conquistou prestígio. É de sua autoria a narrativa do "golpe" e a ideia de fatiar o julgamento da então presidente, estratégia que a livrou da proibição de exercer cargos públicos.
A decisão de preservar direitos de Dilma rachou a base do governo, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Nos bastidores, Cardozo avalia que, se o Supremo acatar o mandado de segurança impetrado por aliados do presidente Michel Temer, também terá de reavaliar a existência de crime de responsabilidade por parte da petista. "O PT falseia a história", reagiu o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP).
Confidência. Depois do período de quarentena, Cardozo vai se associar ao escritório Celso Cordeiro e Marco Aurélio de Carvalho Advogados, em São Paulo, e abrirá outro, em Brasília, para atuar em tribunais superiores.
A história que deu a ele protagonismo, porém, fez Lula perder capital político. Com a agonia de Dilma, ele também se desidratou. Alvo da Lava Jato, o "criador" da presidente cassada confidenciou a amigos que se arrependeu de não ter dito à sucessora que deveria ser ele o candidato ao Planalto, em 2014. Na quarta-feira, o ex-presidente acompanhou o discurso da despedida de Dilma, no Palácio da Alvorada, e parecia perplexo. "Nem no pior pesadelo poderia imaginar o que está acontecendo conosco", lamentou ele, mais uma vez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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