Cultura & Lazer Titulo
A morte registrada em 8mm
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao 
29/04/1999 | 17:44
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De vez em quando surgem histórias sobre os filmes snuff. Este termo, difícil de traduzir, designa produçoes amadoras e clandestinas nas quais pessoas seriam mortas de verdade, para deleite de espectadores algo pervertidos. É este o ponto de partida de 8mm, que estréia nesta sexta em vários cinemas da regiao, tendo como astro Nicolas Cage e, atrás das câmeras, Joel Schumacher (de Batman eternamente e Batman e Robin).  

A primeira parte do argumento é espetacularmente interessante. A viúva de um megamagnata da indústria contrata os serviços do detetive Tom Welles (Cage), porque está preocupada com o que encontrou ao abrir o cofre secreto do falecido: um rolo de filme 8mm que contém imagens de uma moça desconhecida sendo abusada sexualmente e, depois, brutalmente assassinada por um grandalhao em figurino sadomasoquista.  A viúva quer saber se o filme é, de fato, um snuff, e o porquê de a fita estar ali. Em suma, quer saber se seu marido teria sido capaz de se divertir vendo aquela atrocidade, caso se tratasse de um assassinato real (além de ser cúmplice do mesmo, é claro).  

Nao há escolha para o espectador: nas seqüências em que toda essa sordidez é revelada, a tensao é total. A fotografia em tons escuros e o ritmo bem marcado dos primeiros 30 minutos prenunciam um grande filme de suspense e, de quebra, uma investigaçao da alma humana e seus mistérios.  Mas estamos na Hollywood de 1999, capaz de domesticar até um aspirante a grande cineasta, como é o caso de Schumacher (aliás, vai ver que é por isso mesmo).  

Um exemplo: as cenas em que Welles perscruta as imagens da fita 8mm em busca de detalhes elucidativos lembra muito a investigaçao de John Travolta em Um tiro na noite, de Brian De Palma (que, por sua vez, recicla Blow up, de Antonioni). Só que, chegando-se ao meio da fita, quando é revelada uma rede de cineastas de filmes pornô-trash que estaria envolvida na filmagem criminosa (isso, depois de um curioso passeio pelo submundo sexual angelano e nova-iorquino), começam as concessoes.  

8mm ganharia muito como obra de arte se deixasse algumas perguntas sem resposta. Em vez disso, opta por transformar Cage no Bruce Willis de Duro de matar. Com seu personagem central reduzido a um mero caçador de viloes, para satisfazer a sede de vingança do espectador médio norte-americano, o filme perde em profundidade e se alonga demais. Em suma, é o mercado jogando talento fora, mesmo quando tem boas histórias nas maos.




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