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Fagner lança caixa com 11 discos
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
02/02/2004 | 19:21
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Está nas lojas a caixa Raimundo (Sony, R$ 160 em média), que contém 11 discos do cearense de Orós gravados pela CBS, mais um pela Continental, e compreende o período 1975-1985. Seu primeiro LP, gravado pela Philips (cujo catálogo pertence à Universal), não está na caixa, que traz faixas-bônus e notas explicativas. Interessante é acompanhar a evolução da carreira do cearense.

Evolução? Mais apropriado seria falar em involução. Do lírico lamento sertanejo autêntico, Fagner chegou às portas do sentimentalismo brega. Seus discos mais antigos causam uma certa estranheza, acima de tudo positiva. A viciada MPB de hoje está atolada na pasmaceira, empurrada para o brejo (principalmente) pela atuação das gravadoras, mais preocupadas com esquemas de marketing que com a qualidade artística.

Ave Noturna (1975) foi gerado na Continental. Acompanham Fagner músicos de primeira, como Luiz Alves (baixo) e Wagner Tiso (piano). O cearense passeia pela forte poética de A Palo Seco (Belchior), faz uma releitura moderna de Riacho do Navio (Luiz Gonzaga/Zé Dantas) e canta a expressão sertaneja de Antônio Conselheiro (Fagner).

Raimundo Fagner (1976) é o primeiro álbum pela CBS, no qual também se cerca de excelentes músicos, como Robertinho Silva (bateria) e Túlio Mourão (piano). Em Sinal Fechado (Paulinho da Viola), Fagner traduz a vanguarda para o regional. Matinada (Ernani Lobo, adaptação de Fagner) recria com a sanfona de Dominguinhos a autêntica música nordestina. Arranjos de Fagner, Robertinho de Recife e Wagner Tiso.

Orós (1977) é um trabalho conceitual, o melhor de Fagner. Os arranjos são de Hermeto Pascoal – nota-se com mais nitidez a genialidade do bruxo albino em Romanza (Fagner/Belchior/Fausto Nilo) e em Orós (Fagner), faixa instrumental. Destaca-se também Cebola Cortada (Petrúcio Maia/Clodo).

Eu Canto (1978) contém seu primeiro grande sucesso comercial, Revelação (Clodo/Clésio). A partir de 1979 o disco foi reeditado como Quem Viver Chorará – a CBS trocou o título e acrescentou Quem me Levará Sou Eu (Manduka/Dominguinhos), vencedora do Festival 79 de Música Popular, da TV Tupi.

Beleza (1979) traz outro megasucesso, Noturno (Graco/Caio Silvio). Mas, graças à delicadeza do piano de João Donato – que assina arranjos e regências –, os pontos altos são Ave Coração (Clodo/Zeca Bahia) e Quer Dizer (Fagner). Raimundo Fagner (1980) vendeu bem por causa de Eternas Ondas (Zé Ramalho), mas marca o fim do período neo-regionalista de Fagner.

Crise – Traduzir-se (1981), gravado em parte na Espanha, traz a participação especial de Mercedes Sosa em Años (Pablo Milanés). O cearense musicou o poema Traduzir-se, de Ferreira Gullar. Fagner (1982), gravado em Nova York e cheio de convidados ilustres cuja soma não forma um todo, já demonstra uma crise de inspiração. Arranjos de Fagner e Lincoln Olivetti.

Homenagem a Picasso (1983) coloca lado a lado Rafael Alberti, Fagner, Paco de Lucia e Mercedes Sosa. As letras – poemas, de fato – de Alberti, amigo de Picasso, têm tradução de Ferreira Gullar. Palavra de Amor (1983) contém, além da acomodação artística de Fagner, Guerreiro Menino (Gonzaguinha).

A Mesma Pessoa (1984) e Fagner (1985) colhem o cearense num momento em que até sua voz já tinha perdido o que tinha de sertanejo. Predomina em ambos a pasteurização das FMs. Cartaz (Francisco Casaverde/Fausto Nilo) é a faixa de trabalho de A Mesma Pessoa. Há bateria eletrônica em Fagner.




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