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Mercosul busca consolidação
30/12/2010 | 07:50
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O Mercosul completa 20 anos em março com o desafio de mostrar-se ao mundo como um bloco consolidado e com capacidade de atuar estrategicamente. A união e a consolidação necessárias para a realização deste desafio é o refrão que soa quase como missão impossível em meio a uma etapa de letargia que o bloco vive atualmente, avaliam especialistas em integração regional ouvidos pela Agência Estado.

"O grande desafio do Mercosul é estabelecer uma agenda estratégica, a qual vai determinar a sua inserção internacional e seu papel na região, que é algo ainda muito mais complexo", afirmou o doutor em Relações Internacionais e em Ciências Sociais, Carlos Juan Moneta. No seu entender, o problema do bloco regional é que "cada um vai por seu lado e essa integração não tem a mesma viabilidade e sustentabilidade que a de outros blocos do gênero, devido às grandes diferenças entre os países que o compõem".

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um projeto de integração da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e envolve dimensões econômicas, políticas e sociais. Os diversos órgãos que o compõem tratam de temas diversos, que vão desde agricultura familiar até cinema. Já no aspecto econômico, assume o caráter de União Aduaneira, mas seu objetivo é constituir-se em verdadeiro Mercado Comum, seguindo os objetivos estabelecidos no Tratado de Assunção, que determinou a criação do bloco, em 199. A Venezuela também participa do bloco, mas como país sócio, em processo de adesão. A entrada plena da Venezuela está pendente de aprovação do Parlamento paraguaio, onde os partidos da oposição resistem à ideia.

REFLEXÃO - Para o economista argentino Raúl Ochoa, especialista em Integração Regional, uma inserção vantajosa do bloco no panorama internacional poderia ser feita a partir da experiência acumulada nesses 20 anos, com êxito e fracassos e levando em conta o cenário global. Ochoa argumenta que "torna-se cada vez mais necessário o tratamento de temas regionais e sub-regionais para que o Mercosul tenha a capacidade de reflexão permanente sobre as questões mundiais e da própria América do Sul: a situação com a Europa, o fenômeno chinês, a situação com outros países emergentes e a relação com os EUA".

Sem um planejamento estratégico comum, a agenda externa do Mercosul é considerada pobre. "Só tem acordo com Israel e, recentemente, fechou um com Egito", criticou o especialista Carlos Luján, do Centro de Formação para a Integração Regional (Cefir), do Uruguai. "Se as chances de um acordo com a UE forem desperdiçadas, teríamos um Mercosul em declínio ou com uma capacidade externa muito minguada", reiterou.

O economista Ochoa concorda em parte com o colega uruguaio, pois avalia que o Mercosul não vai perder relevância no cenário internacional porque os países que compõem o bloco são reservatórios de matérias primas: minerais, petróleo e de alimentos. Já o professor Moneta adverte que a falta de uma agenda permanente coloca o bloco à mercê do quem estiver no poder. Apesar do raciocínio, ele acredita que na gestão da presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff (PT), o bloco poderá ganhar mais força.

COESÃO - O chileno Héctor Casanueva, diretor do Centro-Americano para as Relações com Europa (Celare), prefere salientar a necessidade imperiosa do Mercosul de ter mais coesão política. "Os quatro países membros precisam ter uma instituição comum muito mais forte do que a que tem hoje e, a partir daí, possam construir uma relação robusta não só para as negociações econômicas, mas também para as negociações políticas com outras regiões do mundo", propôs.

O analista espanhol Tomás Mallo, da Fundação Carolina (Centro de Estudos para América Latina e a Cooperação Internacional), de Madri, é outro que aponta para a falta de coerência interna do bloco sul-americano. "Para que o Mercosul seja um sistema com certo potencial, os sócios maiores têm que equilibrar a situação de desenvolvimento dos menores e promover a coesão entre si".

Mallo também sinaliza a falta de coesão como empecilho à boa visibilidade internacional do bloco. A avaliação é compartilhada por um importante diplomata brasileiro, que prefere não ser identificado. "O Mercosul não é um fato consumado, é um processo em evolução, cuja falta de políticas comuns impede que as consultas, embora permanentes, sirvam de instrumento efetivo para o diálogo."

PODER - Na avaliação do ex- embaixador Marcos Azambuja, que participou ativamente das primeiras negociações do Mercosul, as disparidades de poder dentro do bloco não se atenuaram, mas se intensificaram. E o fato de tão ter crescido em números de sócios, acentua essas assimetrias. E ele acredita que o Mercosul sofre de excesso de poder com o Brasil, que representa quase 60% da América do Sul e 70% do Mercosul. Para Azambuja, o grande fracasso do bloco foi não ter conseguido atrair o Chile.

"A presença do Chile daria equilíbrio maior entre a Argentina e o Brasil", ponderou o ex-embaixador. Apesar de tudo, "o Mercosul é uma ideia que deu certo do ponto de vista político, mas os que sonhavam, em 91, que iríamos criar grandes empresas multinacionais entre os sócios, que seríamos uma plataforma para o mundo, se decepcionaram". Mesmo assim, ele acha que o bloco vai continuar existindo porque "cumpriu seus objetivos políticos: consolidou as democracias e aproximou os rivais. É mais uma conquista política e geográfica que econômica".




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