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Lar do Ancião completa 25 anos de cuidados a idosos
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
15/02/2011 | 07:30
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Iracema Novaes Aga viu a revolta paulista de 1924. Acompanhou a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Nasceu em 1911, casou aos 18, descasou oito anos depois. "Meu marido era muito mulherengo e arrumou outra. Então fui aproveitar a vida".

Aos 102 anos, vive no Lar do Ancião, em Diadema, está lúcida e só anda de cadeira de rodas porque não sente mais firmeza nas pernas. Qual é o segredo, dona Iracema? "Comer, beber e viver sem se preocupar", garantiu ela, que está há oito anos no abrigo.

O Lar do Ancião é uma entidade filantrópica mantida por subvenção da Prefeitura e por doações. Atende 26 internos, a maioria sem vínculo familiar ou em situação de risco social.

"Podemos nos orgulhar do título de abrigo com maior índice de longevidade do Estado", garantiu o gestor administrativo Marcos Vicente. Ele afirmou que cada idoso gasta cerca de R$ 1.200 por mês e mantê-los só é possível graças à solidariedade. "Quem não pode doar dinheiro ou qualquer outra coisa pode ofertar seu tempo para essas pessoas, que precisam muito", garantiu.

Além de dona Iracema, outro exemplo de longevidade da casa é Hermenegildo Francisco Carvalho de Souza Filho, 77 anos, 24 deles no Lar do Ancião.

De chapéu na cabeça e terço azul no pescoço, Cumpadi, como é conhecido, confessou que adora dançar forró. "Quando tem baile faço questão de participar do arrasta-pé". Além da paixão pela música, Cumpadi tem outros dois vícios: comer coxinha com fanta laranja e escrever cartas. "Guardo mais de 30 que ele já escreveu para mim. Quando o caderno acaba ou a caneta começa a falhar, ele logo pede mais para poder escrever para os amigos", disse o vice-presidente da entidade, José Manuel Vieira de Mendonça.

Na casa são atendidos apenas idosos capazes de se locomover e se alimentar, mas que precisam de acompanhamento para realizar as atividades de rotina. "Não podemos aplicar medicamentos e não temos médico à disposição. Quando há emergências, chamamos o Samu, e eles são atendidos pela rede pública de Saúde", explicou Vicente.

A maior necessidade dos que vivem no lar ainda é o afeto. "Eles precisam de muito carinho. Alguns foram abandonados, outros perderam os familiares e ficaram sozinhos. A questão psicológica é o que conta mais na hora de ajudar", destacou o gestor. O sorriso de dona Iracema e os beijos jogados por Cumpadi não negam.

Dedicação e carinho são obrigatórios para cuidadores 

Cuidar de idosos não é tarefa fácil: eles requerem cuidados e atenção que, em alguns casos, a família não pode ou não está disposta a dar. Neste momento, o papel do cuidador é essencial para manter a saúde física e mental na terceira idade.

Laura Aparecida Gonçalves, 42 anos, sabe disso. Ex-metalúrgica, tornou-se cuidadora por acaso. "Comecei a trabalhar com crianças, mas não me adaptei. Achei que não dava para a coisa, mas quando conheci o Lar do Ancião, me apaixonei", destacou. Ela é uma das funcionárias mais antigas: está ali há 11 anos. A entidade tem mais 24 trabalhadores remunerados e seis voluntários.

A dedicação está na origem do Lar do Ancião, que completa 25 anos de existência em maio. A entidade foi criada pelo empresário Orlando Tampelli para ajudar idosos de Diadema em situação de risco.

O trabalho cresceu e o lar se tornou empresa, sob responsabilidade da presidente Gildete Belo Ramos até 2012. O prédio é próprio, mas passa por reforma desde 2008. "Já investimos mais de R$ 450 mil. Literalmente suamos para conseguir cada tijolo", garantiu o gestor administrativo da casa, Marcos Vicente.




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