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Usinas de Araçatuba podem gerar energia para Cia.Paulista
Do Diário do Grande ABC
26/01/2000 | 17:41
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As usinas da regiao de Araçatuba (SP) estudam projeto para oferecer energia em bloco à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), a partir da criaçao de uma empresa que teria 25% das açoes concentradas nas maos das participantes e o restante nas de grupos estrangeiros interessados em arcar com o investimento com o objetivo de as capacitar para a cogeraçao.

A intençao dos empresários que pretendem formar a empresa é de que ela possua um prazo de contrato entre 15 e 20 anos de concessao aos investidores para a exploraçao da energia comercializada - após esse período, as usinas adquiririam gradualmente maior participaçao na gestao da empresa.

Atualmente, segundo o presidente da Uniálcool e da Uniao das Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, apenas a Univalem, entre as 21 usinas instaladas na regiao, possui condiçoes de fornecer energia além do consumo próprio.

A Univalem comercializa parte da energia, 10 MW, cogerada para a empresa Ajinomoto, que é vizinha em Araçatuba. "Todas as usinas da regiao precisariam de um megainvestimento na compra de caldeiras eficientes para as tornar aptas a vender energia", disse. Segundo ele, dois grupos estiveram na regiao visitando parte das usinas, mas, até o momento, nenhum contrato foi fechado oficialmente. Zancaner defende o investimento mínimo em cada usina para a compra de caldeiras de médio porte, entre R$ 30 milhoes e R$ 40 milhoes para cogeraçao acima de 10 MW. "De nada adianta investir R$ 10 milhoes para gerar quantidades pequenas que nao retornem em lucro", comentou. Ele defendeu ainda a possibilidade de um subsídio do governo sobre o preço da energia cogerada a partir do bagaço para que as usinas conseguissem investir no setor.

"O subsídio poderia ter um prazo predeterminado para ajudar o setor e promover um segmento estratégico no país, que está precisando de investimentos", comentou. A CPFL e um bloco com pelo menos oito usinas de cana-de-açúcar do Estado de Sao Paulo devem fechar nas próximas semanas contrato inédito para a comercializaçao de energia proveniente do bagaço de cana.

O fator inédito do contrato deve-se a dois pontos: o primeiro é que a energia será comercializada em bloco pelas usinas participantes do contrato, o que prevê a substituiçao de um fornecedor por outro, em caso de falta do produto, garantindo maior tempo de abastecimento.

Já o segundo ponto, que interessa principalmente às usinas, é a certeza de que o volume adquirido pela CPFL vai aumentar gradualmente no decorrer do prazo previsto pelo contrato, que será inicialmente de três anos.

A expectativa é de que, em 2000, o bloco forneça para a CPFL 10 MW, que podem chegar a 100 MW em 2001. O valor envolvido no negócio só será divulgado no momento da assinatura do contrato, o que deve acontecer em fevereiro.

A Coopersucar, que vai concentrar a comercializaçao da energia em bloco das usinas, ainda pode incluir outras três empresas no negócio. Já estao confirmadas as participaçoes das Usinas Santa Cruz, de Américo Brasiliense; Sao Francisco, de Pradópolis; Santo Antônio, de Sertaozinho; Sao Carlos e Santa Adélia, as duas de Jaboticabal; Nossa Senhora Aparecida, de Itapira; da Pedra, de Serrana, e Barra Grande, de Barra Bonita. Segundo o diretor de Comercializaçao da CPFL, Oswaldo Feltrin, a companhia está tentando negociar junto a bancos e financeiras a criaçao de linhas de crédito específicas para os investimentos no setor, ou mesmo grupos estrangeiros que tenham interesse em apostar na cogeraçao de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar.

"Desde a desregulamentaçao da energia, esse é um setor que tem se destacado muito para novos investimentos", comentou. Ele diz que, segundo cálculo da companhia, o interior do Estado de Sao Paulo teria condiçoes de gerar cerca de 619 MW a partir do bagaço de cana, mas os investimentos necessários para chegar a este volume variam entre R$ 10 milhoes a R$ 60 milhoes em cada uma das usinas.

Atualmente, a CPFL recebe menos de 0,5% de energia cogerada a partir da cana. A intençao da companhia é de aumentar este volume para 7% num período de três anos. Paralelo ao megacontrato que pretende fechar para a comercializaçao de energia em bloco com as usinas da Coopersucar, a CPFL está fechando o cerco ao redor das demais unidades no interior de Sao Paulo para compras individuais de energia cogerada a partir do bagaço da cana.

A próxima delas deverá ser a duplicaçao do volume comercializado pela Companhia Energética Santa Elisa, que hoje vende 7,5 MW e passaria a comercializar 15 MW a partir de 2001. O contrato seria feito, segundo Feltrin, nos mesmos moldes do contrato assinado no fim de 1999 com a Usina Vale do Rosário, que vai aumentar até 2001 a participaçao na matriz energética da CPFL de 15 MW para 30 MW.

Os dois contratos possuem prazos mais longos, entre dez e 15 anos. "O fato de assinarmos contratos com prazos mais longos permite ao empresário visualizar retorno para o seu investimento com o decorrer do tempo e a venda de energia nesse período", acredita Feltrin.

Ele admite que o preço pago pelo setor pelo MW, entre R$ 41 e R$ 55 ainda fica aquém do esperado pelo empresário, que investe até R$ 60 milhoes para passar a fornecer energia à companhia. "Mas esse valor poderia aumentar de acordo com as garantias dadas pelas usinas de continuidade no fornecimento dessa energia", argumentou. Segundo ele, a grande discussao que ainda permeia o setor diz respeito ao período de fornecimento da energia, que é suspenso na entressafra.

As usinas, em média, sao capazes de fornecer energia por um período contínuo de 205 dias. Algumas alcançam um período de 230 dias e, por isso, têm condiçoes de negociar melhores preços.

A falta de subsídios para o setor e a crise pela qual passou o segmento sucroalcooleiro, com reduçao de colheita de cana prevista em torno de 15% este ano, fez com que a Companhia Energética Santa Elisa revisse planos de investimentos em cogeraçao de energia.

Apesar de estar praticamente fechado contrato entre a empresa e a CPFL, que vai aumentar o fornecimento de 7,5 MW para 15MW a partir de 2001, a Santa Elisa reduziu projeto de investimentos de R$ 60 milhoes para R$ 18 milhoes.

Segundo o empresário Maurílio Biagi Filho, presidente da Santa Elisa, o projeto de investimentos na cogeraçao vinha sendo preparado nos últimos três anos e deve ser apresentado nas próximas semanas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), maior financiador do setor. "Com o passar do tempo, a descapitalizaçao do setor e a previsao de queda na produçao, que também reduz o volume de bagaço, comprometeu diretamente os nossos planos", disse ele. A intençao anterior da Santa Elisa era acrescentar mais 80 MW à produçao, que hoje é de 10 MW.

Mas, com a reduçao dos investimentos, o aumento será de mais 30 MW. Biagi acredita que, se a CPFL mantiver o preço pago de R$ 55 por MW, o restante a ser produzido deverá ser negociado com a própria companhia.




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