Cultura & Lazer Titulo
Creedence Clearwater: só para seguidores
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
26/04/2002 | 18:49
Compartilhar notícia


A Califórnia, nos anos 60, era um lugar o bastante aprazível para se viver. Com a contracultura a pleno vapor, pipocavam jovens promessas no cenário artístico, como o cineasta Francis Ford Coppola e o poeta e vocalista do The Doors, Jim Morrison – por sinal, muitas bandas de rock nasceram nessa atmosfera ensolarada. Uma delas é o Creedence Clearwater Revival.

Dois remanescentes dão as caras domingo na Estância Alto da Serra, em São Bernardo. São o baterista Doug Clifford e o baixista Stu Cook, que em 1995, 23 anos depois do fim do Creedence Clearwater Revival, montaram o Creedence Clearwater Revisited.

Os irmãos John Fogerty (guitarra solo e vocal) e Tom Fogerty (guitarra base), Cook e Clifford formavam o Creedence Clearwater Revival. Para estabelecer uma diferença, vamos chamar o original de CCR e o atual de Revisitado.

O visual de caminhoneiros semi-aposentados que Cook, Clifford e seus atuais companheiros (Elliot Easton, John Tristao e Steve Gunner) ostentam hoje em dia contrastam de tal forma com o CCR que chega a lembrar festas-baile. Compositor e manda-chuva do CCR, John torceu o nariz para o Revisitado, que cavalga em sucessos da banda original e não apresenta uma produção nova digna de nota. Para os fãs, no entanto, o que importa são as músicas.

O CCR surgiu quando a fórmula consagrada pelos Beach Boys – canções que falavam de amor, sol, garotas e surfe – começava a experimentar um declínio. Contemporâneo do folk-country-psicodélico do The Byrds (Gene Clark, David Crosby, Roger McGuinn e cia.) e da The Band (Robbie Robertson e cia.), o CCR fazia um rock mais furioso, mescla da música dos cowboys com a dos negros.

O CCR foi um colecionador de hits nada efêmeros – não é preciso ter 50 anos para conhecer Proud Mary, Have You Ever Seen the Rain?, Hey Tonight, Green River, Travellin’ Band e Born on the Bayou.

Vez por outra, o CCR se dedicava a regravações de clássicos do cancioneiro negro. Exemplos: Good Golly Miss Molly, rock n’ roll da coleção do inquieto Little Richard; I Heard It Through the Grapevine, soul do repertório visceral de Marvin Gaye, Before You Accuse Me, blues do bem-humorado Bo Diddley, e My Baby Left Me, blues do desbravador Arthur Crudup.

Poucas vezes na história do rock duas guitarras se deram tão bem. John e Tom sabiam como entrelaçar timbres e estilos diferentes. Get Down Woman e, principalmente, Tombstone Shadow são blues psicodélicos de dar nó triplo na percepção de qualquer veterano de três dias de paz, música e amor de Woodstock. Tom deixou o CCR em 1971, e a magia se foi – e, com ela, a banda. O sonho acabou em 1972, com a dissolução da banda. Como legado, ficaram seis álbuns, dos quais o melhor é Cosmo’s Factory, lançado em dezembro de 1970, e uma legião de seguidores. Tom morreu em 1990.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;