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Caetano grava CD ao vivo em São Paulo
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
13/07/2001 | 20:08
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Noites do Norte, com Caetano Veloso e banda, fica mais dois dias em São Paulo. Certamente o espetáculo lotará o DirecTV Music Hall sábado e domingo, mas não foi o público quem pediu. Caetano aproveita para registrar em CD e DVD um dos shows mais pop de sua carreira, o que certamente lhe renderá mais grana do que enfadonhas noites de show no Sudeste.

A essa altura, os seguidores do baiano já reservaram cadeiras driblando os nefastos pilares do antigo Palace, daí a obrigação de informar rapidamente os que procuram um programa legal para o fim de semana. Noites do Norte é um show redondinho. Caetano está comportadíssimo. Como sempre deveria fazer, fala quase nada e canta muito. E bem.

O repertório, que tem como mote a escravidão no Brasil, é espertamente amenizado por antigos sucessos – Tigresa, Trem das Cores, Menino do Rio, Cajuína, Leãozinho, Tropicália etc. Mas a brilhante mente marketeira de Caetano vai além e quebra as pernas das fãs com uma versão de Último Romântico, de Lulu Santos. Mais declamada do que cantada, vem acompanhada somente pelo cello de Jacques Morelembaum. É de cortar os pulsos.

E já que foi invocado o nome do maestro, vamos ao que há de musicalmente novo em Noites do Norte. Foram incluídas sete das 12 faixas que compõem o CD que dá nome ao show e, para alívio dos que temiam um Caetano falante, a banda toma a frente. Dá até para esquecer que ele está ali.

Morelembaum, com um engraçado cello elétrico, assina mais uma vez a direção musical, mas as cordas, dessa vez, vêm a serviço do rock. Prestem atenção no compenetrado Davi Moraes, filho de Moraes Moreira. Sua guitarra conversa perfeitamente com a percussão, talvez pelo fato de ele também ser baterista.

Quem comanda a cozinha é novamente Cesinha. E é bonito ouvir um dos melhores bateristas do país tocando firme e discretamente, dando espaço para as peripécias dos quatro percussionistas (os mesmos do show anterior, Livro). Márcio Vitor, Josino Eduardo, Eduardo Josino e André Junior são competentes, mas seus passinhos ensaiados e visual gringo uniformizado soam algo discrepante do conteúdo anti-escravocata do espetáculo.

Há outras idéias que ajudam a compor o clima moderno, como uma colagem do funk Tapinha, reverberações entre as músicas e a eficiente cenografia de Hélio Eichbauer – um painel pintado de 6m de altura por 20m de largura, que brinca com texturas e funciona muito bem com a luz.

Ao fim, tem-se a impressão de que o pop Noites do Norte foi feito sob medida para ficar bastante tempo na estrada, só que no hemisfério superior.




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