Cotidiano Titulo COTIDIANO
A arte de ser olímpico
Rodolfo de Souza
Especial para o Diário
18/08/2016 | 07:00
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O espetáculo olímpico, quando observado assim, com um olhar destituído de nacionalidade ufanista, do patriotismo abobalhado que faz o caboclo enxergar somente o superficial, tem o poder de despertar um sentimento singular, um tanto empático. Basta escolher uma modalidade qualquer e se pôr a apreciar alguns elementos que colocam a pouca distância da arte a prática e o empenho dedicado ao esporte. Uma afinidade que faz o artista sentir-se na pele daquele que entrega a sua vida na busca do melhor tempo, da maior distância, do ponto mais alto, do placar...

E, se parar para pensar, essa garotada é de fato maluca como um artista, quando se lança de peito e alma em busca da perfeição, na conquista de uma habilidade incomparável para nadar, pedalar, saltar, correr atrás da bola, só correr, sacar, arremessar, e um sem fim de tipos e especialidades que conduzem à glória, a glória de se sagrar campeão ou de somente estar na luta para isso.

A entrega é mesmo tão grande que o coração olímpico, nesta hora, é todo ele revestido da aparência parruda e suada de quem almoça e janta o seu esporte da alma.

O que toca, contudo, é a expressão que se lê em cada olhar, vencedor ou derrotado, capaz de transmitir a verdadeira magia que se esconde por detrás do evento que não se configura somente em uma série de provas esportivas. Trata-se de algo muito maior! É o sangue de cada atleta, em ebulição no instante da disputa, nos treinos, na hora em que o adversário se apresenta para a sua exibição, na angustiante espera da nota no placar, em cada minuto transcorrido desde a abertura até o encerramento dos jogos. Manifestações, as mais variadas, que contagiam o público presente nas arquibancadas e o telespectador que a tudo vê com riqueza de detalhes e música.

E a explosão é o que resulta de toda essa batalha dia a dia. É o momento da consagração que embarca nas asas da TV e voa espaço afora só para alcançar as casas do mundo e marejar também os olhos de quem assiste à distância e talvez não compreenda muito bem a efervescência que chega a sua tela.

Mas só o olhar experimentado, que enxerga com mais profundidade e nitidez, é capaz de perceber essa magia, fruto de um trabalho, seja lá de onde for o atleta. Se conterrâneo, tanto melhor. Se não, também é merecedor de todo o aplauso, por se tratar de um ser humano excelente na sua prática e que é dotado de emoção que faz verter lágrimas em todos os idiomas.

É, pois, um espetáculo criado a partir da performance de cada qual, fracassado ou bem sucedido. Gente que chora, faz caretas de alegria e de raiva... Às vezes, de dor. Tudo é show, afinal, neste trapézio, que o milagre da tecnologia espalha pelo mundo que se encanta, que torce, que se alegra, que se desespera e não sabe bem por que razão age dessa forma estabanada diante dos astros com suas bandeiras.

São seres humanos, afinal, os protagonistas da festa que exibem corpos perfeitos, executando nas telas um balé que leva anos até atingir a maturidade que se espera dele. Equipes inteiras dedicadas à conquista, palmo a palmo, vibram com cada passo, com cada resultado positivo, por mais ínfimo que seja.

Mas não se pode esquecer da aflição, esta que faz parte da alma olímpica. São anos de preparo para o atleta escorregar no último movimento do aparelho, para se ver tudo perdido nos instantes finais em que a bola chora, chora e não cai na cesta... E o craque que erra o pênalti e despacha o seu time?
O que dizer dele? Nada.

E o choro rola solto pela derrota, pela vitória, pelo impacto da pressão.
É sem dúvida uma maratona de emoções.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com
E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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