Economia Titulo Nos primeiros sete meses
Indústria do Grande ABC demite 50 pessoas por dia

Apesar de desaceleração, em julho cortes são maiores e dispensas de montadoras preocupam

Vinícius Claro
Especial para o Diário
17/08/2016 | 07:20
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André Henriques/DGABC


As indústrias do Grande ABC demitiram 1.600 trabalhadores em julho, de acordo com pesquisa realizada mensalmente pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) com suas associadas. No acumulado do ano são contabilizados 10.750 cortes, correspondendo a pouco mais de 50 demissões por dia. Nos últimos 12 meses, já foram eliminadas 23 mil vagas.

Ao comparar o saldo de junho com o de junho, houve acréscimo de 700 dispensas. O saldo negativo foi ampliado com as adesões ao PDV (Programa de Demissão Voluntária) da Mercedes-Benz em São Bernardo, de 630 funcionários.

Apesar desse aumento, os dados indicam desaceleração no ritmo de cortes, principalmente em relação ao mesmo mês em 2015, quando foram demitidos das indústrias da região 5.000 profissionais – mais do que o triplo do montante dispensado no mês passado. No acumulado do ano passado até julho havia 17 mil rescisões de trabalho, equivalente a 81 por dia.

Apesar da tendência de redução no desemprego do setor nas sete cidades, especialistas afirmam que o cenário é pior do que parece. O diretor titular do Ciesp Santo André, Emanuel Teixeira, acredita que o termo desaceleração é uma forma de maquiar os resultados negativos, ao destacar que já são 18 meses seguidos de redução no quadro de funcionários do ramo industrial. O último crescimento no estoque de emprego da região, hoje estimado em 183,7 mil pessoas, foi em janeiro de 2015.

Teixeira também destaca que muitos trabalhadores estão sem trabalhar e sem receber, mas não contam ainda como desempregados. É o caso dos operários da Karmann Ghia, em São Bernardo, que ocupam a autopeça há três meses, a fim de evitar a retirada de maquinários e mantê-los como garantia. “Temos centenas de empresas na região demitindo, mandando funcionários procurar direitos na Justiça porque não têm condições de saldar as verbas rescisórias. Há milhares de carteiras não ‘baixadas’ por situação extremamente crítica e, com isso, as homologações das demissões têm as datas empurradas para frente. O número, portanto, pode ser pior do que parece”, afirma.

Os setores que mais impactaram os cortes em julho foram veículos automotores e autopeças (-1,72%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-1,97%), produtos de minerais não metálicos (-0,53%) e produtos químicos (-0,45%).

São Bernardo foi a cidade que puxou o índice, com 900 demissões no mês. Em segundo lugar, Diadema registrou 500 dispensas. Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, juntas, registraram 150 cortes e, São Caetano, 50.

PROJEÇÃO DE PIORA - Para o diretor em exercício do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini, o impacto na região será mais forte nos próximos meses, principalmente com a grande possibilidade de demissões de trabalhadores em montadoras da cidade, como Ford, Volkswagen e Mercedes, sendo que a última tem emitido telegramas de dispensas a profissionais, sem revelar o número, mas alega excedente de 1.870 funcionários. A Volks está em meio a processo de PDV (Programa de Demissão Voluntária), que se estende até o fim de setembro, e quer atingir pelo menos 325 profissionais. A Ford abrirá plano semelhante em outubro, com meta de adesão de 400 pessoas.

“Nossa região sempre sofre mais por ser altamente industrializada, e acaba demorando mais para retomar o crescimento. Portanto, ainda teremos demissões e índice de emprego mais baixo”, diz Barberini. Mesmo com a expectativa negativa, ele cita que alguns setores, como de alimentos, embalagens e materiais de construção, pararam de cair e estão iniciando a retomada de contratações, mas de forma muito tímida ainda.  




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